Comiam, bebiam e dançavam descontraídos.
O líder tinha sido eleito havia pouco tempo e se colocava à frente de uma
equipa multirracial há muito desavinda com ostracização de uns por outros,
sendo ele pertencente ao grupo dos que durante décadas estiveram do lado dos
"sem culpa mas também sem nada, tirando perseguições, prisões e
mortes".
- Senhora, esse teu vestido e esse teu
gingar trazem-me luz à noite escura, lá fora. - Disse o cavalheiro, entre pura
simpatia carregada de humor e galanteio, no fraco perceber da mulher.
A dama tanto transpirou que acabou por
se sentir molhar por completo. Enorme era aquele simpático elogio e, ainda
mais, vindo de um cavalheiro que era o líder supremo da nação. Não se conheciam
de nenhum lugar antes daquele momento. E o cavalheiro não era um qualquer. Até
porque estava apenas "casado com os assuntos do Estado" e separado da
família restrita.
- Estou encabulada, Tata, e nem sei que
lhe dizer. - Atirou ela, gingona e com um largo sorriso na boca a mostrar o
último molar.
- Sabes, o meu pai foi Xhosa e, como
tal, era polígamo. Mas eu, felizmente, não sou e já estou acima dos sessenta
anos. Porém, olhando para si, fico até com inveja do meu pai. Voltou a prosear
o mais velho.
Tuto o que leu até agora, trata-se
apenas de um breve trecho do filme Invictus que retrata a vida de Madiba. A
longa metragem retrata o esforço que Madiba teve em juntar os retalhos humanos (sociais
e psicológicos) em que se tinha traduzido a África do Sul dilacerada pelo
apartaid, cuja machadada final foi dada por Frederik de Klerk e Nelson Mandela.
Mandela fez da diferença entre os
brancos e negros e dos antagonismos entre ambos uma oportunidade para unir o país,
fazer a reconciliação e criar uma Nova Nação, a Rambow Nation (país do
arco-íris). E dizia ele que não importava a cor da lepe nem a língua que cada
sul-africano falasse. Importava sim o seu esforço e o seu saber para agregar
valor ao produto final que era um país para todos. Para unir uns e outros, buscou
do que mais representava os brancos, a selecção de râguebi, e a apoiou
fortemente até vencer o campeonato do mundo realizado em seu país.
Serviu-se do exemplo, a partir do seu
gabinete presidencial, juntando na sua equipas de segurança aqueles que tinham
prestado serviço ao antigo regime de De Klerk e os da sua nova equipa. Usou a simplicidade
nos relacionamentos políticos e pessoais e esteve à frente do seu povo e de
todo o processo de pacificação mental e coesão nacional entre grupos (negros
que se digladiavam entre si, por um lado, e negros contra brancos ou o inverso,
por outro lado).
Esse filme, servido pela TAAG nas suas rotas
internacionais, e que vi pela terceira vez, não me poupou lágrimas de emoção,
roubando-me ainda, de pausa em pausa, largos minutos de reflexão sobre como
podemos usar o nosso capital moral e intelectual para galvanizar as nossas
equipas no Trabalho, na Faculdade, nos grupos sociais, etc. É pelo exemplo que
se consegue a adesão do grupo, sendo o líder o primeiro na assumpção do risco e
nos desafios inadiáveis das nossas vidas enquanto colectividade.
Já que a observação é das
grandes escolas para o homem, aconselho que (re)assista ao filme Invictus e
retire dele exemplos que lhe serão úteis à vida toda.
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