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sexta-feira, agosto 19, 2016

A FESTA E AS LÁGRIMAS DO VIAJANTE


Comiam, bebiam e dançavam descontraídos. O líder tinha sido eleito havia pouco tempo e se colocava à frente de uma equipa multirracial há muito desavinda com ostracização de uns por outros, sendo ele pertencente ao grupo dos que durante décadas estiveram do lado dos "sem culpa mas também sem nada, tirando perseguições, prisões e mortes".

- Senhora, esse teu vestido e esse teu gingar trazem-me luz à noite escura, lá fora. - Disse o cavalheiro, entre pura simpatia carregada de humor e galanteio, no fraco perceber da mulher.

A dama tanto transpirou que acabou por se sentir molhar por completo. Enorme era aquele simpático elogio e, ainda mais, vindo de um cavalheiro que era o líder supremo da nação. Não se conheciam de nenhum lugar antes daquele momento. E o cavalheiro não era um qualquer. Até porque estava apenas "casado com os assuntos do Estado" e separado da família restrita.

- Estou encabulada, Tata, e nem sei que lhe dizer. - Atirou ela, gingona e com um largo sorriso na boca a mostrar o último molar.

- Sabes, o meu pai foi Xhosa e, como tal, era polígamo. Mas eu, felizmente, não sou e já estou acima dos sessenta anos. Porém, olhando para si, fico até com inveja do meu pai. Voltou a prosear o mais velho.

Tuto o que leu até agora, trata-se apenas de um breve trecho do filme Invictus que retrata a vida de Madiba. A longa metragem retrata o esforço que Madiba teve em juntar os retalhos humanos (sociais e psicológicos) em que se tinha traduzido a África do Sul dilacerada pelo apartaid, cuja machadada final foi dada por Frederik de Klerk e Nelson Mandela.

Mandela fez da diferença entre os brancos e negros e dos antagonismos entre ambos uma oportunidade para unir o país, fazer a reconciliação e criar uma Nova Nação, a Rambow Nation (país do arco-íris). E dizia ele que não importava a cor da lepe nem a língua que cada sul-africano falasse. Importava sim o seu esforço e o seu saber para agregar valor ao produto final que era um país para todos. Para unir uns e outros, buscou do que mais representava os brancos, a selecção de râguebi, e a apoiou fortemente até vencer o campeonato do mundo realizado em seu país.

Serviu-se do exemplo, a partir do seu gabinete presidencial, juntando na sua equipas de segurança aqueles que tinham prestado serviço ao antigo regime de De Klerk e os da sua nova equipa. Usou a simplicidade nos relacionamentos políticos e pessoais e esteve à frente do seu povo e de todo o processo de pacificação mental e coesão nacional entre grupos (negros que se digladiavam entre si, por um lado, e negros contra brancos ou o inverso, por outro lado).

Esse filme, servido pela TAAG nas suas rotas internacionais, e que vi pela terceira vez, não me poupou lágrimas de emoção, roubando-me ainda, de pausa em pausa, largos minutos de reflexão sobre como podemos usar o nosso capital moral e intelectual para galvanizar as nossas equipas no Trabalho, na Faculdade, nos grupos sociais, etc. É pelo exemplo que se consegue a adesão do grupo, sendo o líder o primeiro na assumpção do risco e nos desafios inadiáveis das nossas vidas enquanto colectividade.
 
Já que a observação é das grandes escolas para o homem, aconselho que (re)assista ao filme Invictus e retire dele exemplos que lhe serão úteis à vida toda.

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