Tarde de Fevereiro, 14 horas. O sol do leste de Angola quase
afugenta os pedestres que a essa hora frequentam as ruas, cada vez mais
movimentadas de Saurimo.
Acolhidos pelo guarda-sol, na ria principal da capital da
Lunda Sul, Edna e Marcos aproveitam retirar dos livros que vendem o
conhecimento que trazem. Edna é mais lesta na leitura e, apesar de frequentar
ainda o ensino primário, demonstra possuir hábitos de leitura e, por isso,
muitos livros já folheados.
- Posso fazer-vos uma foto junto a vossa barraca com livros ?
– Indaguei.
- Está á vontade. – Respondeu Edna, numa concordância invulgar
para meninas da sua idade. – Mas gostaria de saber o que vai fazer com a foto? Respondeu
sorridente a adolescente, entre os 16 e 18 anos.
- Pois é. Sou escritor e alegra-me ver jovens a ler e,
sobretudo a expor conhecimentos. – Expliquei, mostrando de imediato a capa do
meu “10encantos” que levava comigo.
A jovem percorreu o grafismo do papel, como quem explora uma
rica coutada, e rapidamente descobriu a apresentação do autor do poemário.
- É o senhor que escreveu o “manongo-Nongo”? Nem imaginava…
- Sim. Já o leste? É o meu segundo livro.
- Já, mas não era meu. Notei que até a foto que usa nas duas
capas é a mesma.
De entrevistador passei a interlocutor. As perguntas e
respostas vinham dos dois lados.
- E quando é que o senhor vai lançar este livro? –
questionou a rapariga.
- É de poesia. - Alertei. – Deve sair em Maio, se Deus
quiser. A propósito, onde é mesmo que a menina estuda? Perguntei, tentando
desviar a conversa. Não gosto muito de falar sobre o meu lado artístico na rua,
como quem se exibe. E já havia gente à volta, uns folheando os livros escolares
e de literatura geral, outros apenas para ouvir o adulto que “paquerava” a
criança.
- Estudo no 4 de Abril.- Respondeu.
Puxei pela cabeça, pelas escolas que já li os letreiros e
nada. Não consegui situar a aludida escola.
- É ensino médio?
A jovem é duma comunicação fluida e daquelas que olha nos
olhos do interlocutor. O jovem ao lado, Marcos, continuava com a sua leitura
sem participar da conversa, apesar de aparentar ter mais idade do que ela.
- Em todo o caso, foi um prazer falar contigo. Boa sorte e
continua a ler. Vou escrever um artigo porque tem sido raro encontrar
alfarrabistas e leitores em Saurimo. - Despedi-me.
Edna soltou um sorriso leve e acenou em gesto de um a deus.
Um até à próxima, se calhar.
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