Em finais do século XIX Angola
era tida pelo sociólogo Émile Durkhein como “um espaço aberto à evangelização”,
dando vazão ao surgimento dos Metodistas, Evangélicos, Baptistas e, mais tarde,
igrejas messiânicas de origem africana.
Até ao final do século XX,
Angola já não era aquele "corpo carente de evangelização", pois, apesar da guerra
civil, os cristãos e até mesmo muçulmanos tinham preenchido todos os “espaços
vazios”. Tudo o que veio a seguir, embora se apregoe como fé e tenha aderentes, é
mais fruto de cisões e negócio com a crença alheia. Ou seja: uns crêem numa
solução divina para seus fardos terrestres, através da confissão religiosa, e outros
lucram com a “cegueira” alheia, prometendo um paraíso imediato na terra e
solução de males como a pobreza.
O “negócio da fé” nunca prosperou tanto em
Angola quanto nos últimos 20 anos com a Maná, Iurd e toda a gama de renovadas
que surgem como cogumelos em principio da temporada chuvosa.
Era, e é, preciso pôr cobro à
situação. Há gente que de tanto sofrer procura nas “igrejas” a solução e acaba
ainda mais arruinado com falsas promessas de decuplicar os rendimentos caso
deposite nestes vendedores de fé os seus já parcos bens. Uns surgem do Brasil e
outras proveniências com uma Bíblia a cobrir a genitália e uma das mãos a tapar
a nudez na bunda, mas remetem, todos os dias, avultadas remessas de dólares aos
seus países de proveniência onde têm vidas de Lord.
Finalmente, embora de forma bastante
tímida, alguém bateu por cima da mesa e exibiu uma cartolina amarela às
"igrejas do pastor Murras" . Nem me ocorria pensar que só as
"mundiais" já vão próximo de uma dezena!
A Iurd fica 60 dias sem “comercializar”
fé, de forma aberta, decidiu o Governo angolano, em nota publicada no sábado,
02 de Fevereiro, enquanto as mundiais ficam interditas de “vender” o que não têm.
Fruto dum inquérito mandado
instaurar pelo presidente da república, “a
Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) é responsabilizada pelo incidente ocorrido
a 31 de Dezembro passado, no estádio da Cidadela Desportiva, que provocou a
perda de vidas humanas e decidiu suspender a actividade da organização
religiosa por 60 dias e argumenta que perante a gravidade dos factos o
Executivo decidiu que a matéria dos autos seja remetida à Procuradoria-Geral da
República para o aprofundamento das investigações e a consequente
responsabilização civil e criminal”.
Segundo o documento a Comissão de
Inquérito constatou que o incidente deveu-se à superlotação no interior e
exterior do Estádio da Cidadela, causada pela publicidade enganosa, consubstanciada no slogan: “O Dia do Fim
–venha dar um fim a todos os problemas que estão na sua vida; doença, miséria,
desemprego, feitiçaria, inveja, problemas na família, separação, dívidas, etc.
Traga toda a sua família”.
O Executivo faz saber ainda que “em
virtude de se constatar que as Igrejas Mundial do Poder de Deus, Mundial do
Reino de Deus, Mundial Internacional, Mundial da Promessa de Deus, Mundial
Renovada e Igreja Evangélica Pentecostal Nova Jerusalém, apesar de não estarem
reconhecidas pelo Estado angolano, realizam cultos religiosos e publicidade sejam
interditadas de realizar quaisquer actividade religiosas no país”. Já Iurd, que
numa actividade levou à morte 17 pessoas no final do ano, fica suspenda de
efectuar o seu “comércio de fé e curas milagrosas” durante 60 dias.
A nota avança que “a suspensão e a
interdição referidas nos pontos 2 e 3 sejam fiscalizadas pelos Ministérios do
Interior, da Justiça e dos Direitos Humanos, da Cultura, da Administração do
Território e da Comunicação Social e pelos Governos provinciais, devendo vigorar
enquanto durarem as investigações pela Procuradoria Geral da República…”
Aleluia irmãos!
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