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domingo, maio 21, 2006

A ÁFRICA DOS NOSSOS DIAS


Várias vezes perguntei aos colegas da licenciatura em História se já tínhamos a África dos grandes poetas nacionalistas e dos políticos dos anos 50, 60 e 70 do sec. XX?
Esta pergunta sempre colocada de propósito para criar debate, nem sempre colheu um consenso na turma. Uns dizem que sim e outros dizem que não.
Para mim, a questão principal é que desde os primórdios da presença estrangeira no continente (sec. XV) que o mesmo vem dançando uma música alheia. Eu me explico.

De guerra em guerra, de fome em fome, de golpe em golpe, de catástrofe em catástrofe, assim vai o continente cuja organização de países independentes assinala a 25 deste mês 43 anos de existência. Pior ainda porque o continente se foi endividando ao mesmo tempo em que as suas riquezas foram sendo saqueadas. Primeiro pelos colonialistas, depois pelos mentores da guerra fria, depois ainda por interesses inconfessos de determinadas potências e por fim, por africanos corruptos que se endinheiram com bens públicos enquanto o povo vai minguando dia após dia.

A OUA agora transformada em União Africana que tem a NEPAD (Nova parceria ecónomica para o Desenvolvimento D’África) como escudo de combate à fome e miséria precisa ainda de um empenho maior dos líderes políticos do continente e das sociedades civis organizadas. Graçam-nos ainda a impunidade a corrupção e a ausência de transparência. Muitas são ainda as liberdades cerceadas e grande é o fosso entre os géneros. São ainda desafios da União Africana a pacificação da região dos grandes lagos, do Sudão (Darfur), da Somália e Casamance (Senegal). Permanece ainda o conflito fronteiriço entre a Etiópia e a Eritreia e está ainda por acontecer a autodeterminação do Sahara Ocidental (RASD) ocupado pelo Marrocos.

Faltando dias para o meu aniversário que é também o de África (25 de Maio) abro os livros de História e releio o que diziam W. Du Bois (pioneiro do Panafricanismo), Senghor, Kaúnda, Lumumba, Keniata, Touré, A. Neto, A. Cabral, entre outros africanistas que proclamavam uma África multinacional e multi-etnica que fizesse frente aos estragos causados pela Conferência de Berlim (1884/5) que a dividiu com esquadro e régua para alimentar apetites meramente doministas, expansionistas e exploratórios, dividindo povos, culturas e famílias. Ao continente foi imposto um tráfico negreiro durante séculos que resultou na punção demográfica que se verifica ainda hoje.

Se formos mais profundos e reconhecermos que países houve que propunham nas suas constituições renunciar o próprio Estado-Nação a favor de Uma Grande Nação Africana saída de Adis-a-Beba (Etiópia 1963), então estamos em presença de “Uma união por acontecer(?)”. O que me parece termos, no momento, é a África profetizada por A. Neto que é “um corpo inerte onde cada abutre debica o seu pedaço”.
Perante tal situação, parece-me que o recurso para que os pedaços que restam caiam em nossos pratos é apenas um:
- Estudar, estudar e transformar os bocados que restam em boa sopa que alimente bocas famintas, em mantas que agasalhem milhares e em habitações que protejam milhares da chuva, do frio e doutras intempéries.

Essa é a minha luta, a sua luta, a nossa luta enquanto jovens.
Soberano Canhanga

8 comentários:

Anónimo disse...

Soberano, nós, "os africanos", somos a desgraça do nosso continente. Não fazemos nada de bom pelo próximo. Não gostamos do próximo, nem de nós mesmos como africanos. Queremos ser tudo menos africanos,mesmo quando apregoamos o panafricanismo e as autenticidades.Esses movimentos são utilizados como meras capas. Muitos dos que defenderam movimentos de afirmação do Homo Africanus, logo na primeira oportunidade, apropriaram-se dos dinheiros públicos e foram depositá-los na Europa. Outros tantos, só não o fizeram, pq morreram antes.
O que dizer, é que , todas grandes iniciativas nacionais ou transnacionais(UAs,NEPADs, etc, etc...)de nada valem se não aprendermos os bons valores da vida. São esses que conduzem os melhores, e infelizmente, ainda somos os piores.
Um abraço.MGM

Anónimo disse...

Meu caro Canhanga.
Infelizmente continuamos com cepticismo e um exacerbado pessimismo em relação ao futuro do nosso continente. Assim fica dificil augurar "bonança" para o nosso fustigado continente.
Eu ainda acredito, caso contrário já teria desistido e optado por viver numa das ex(?)-metrópole.
Continuo firmemente a acreditar, guiado por uma sábia máxima de Amílcar Cabral: "Em África, não precisamos ser revolucionários, basta sermos honestos".
Força, e um grande abraço, desde de Cabo Verde.
Anatólio Lima

Anónimo disse...

"A intacta luz antiga
preservada em cada canto. recanto
esquina
Colados aos altos tectos das salas
os mortos murmuram
em surdina."

1961

Kafé Roceiro disse...

Caro Canhanga,
Sou aficcionado pelos povos da África, pois apesar de todo sofrimento, as tradições que hoje temos no Brasil, a maioria nós herdamos do povo africano: música, comida, dança, etc...
Por isso no meu blog coloquei a seção dos blogs amigos na lingua portuguesa, onde a maioria está na África, claro, pela colonização, mas queria unir meus antepassados de alguma forma. É um enorme prazer sua visita. Gostaria muito de trocar links com você, e gostaria também de incluir alguma causa social do seu país na tela do meu blog. Onde se lê Kafé Social são causas sociais, e aí você podia enviar pra mim alguma entidade que eu possa colocar.
Gostei muito da sua visita e no seu aniversário gostaria que escolhesse um filme de sucesso mundial para que eu possa lhe homenagear, mas tem que dizer logo para eu pesquisar, vale também uma atriz que goste.
abraços sinceros,
Kafé Roceiro do Brasil.

Anónimo disse...

Tenho lido várias vezes, opiniões e críticas severas, contra os tempos do colonialismo (e certamente muitas críticas com razão de ser), no entanto revolta-me pensar, que a governação angolana, ao longo de todos estes anos (e que não são poucos), apenas trouxe ao povo: fome, miséria, guerra, mortes, analfabetismo, ausência de cuidados de saúde, ausência de infra-estruturas importantes, etc.;ou seja, em nada o povo melhorou. Pelo contrário. Como pode o povo continuar a pactuar, com aqueles que apenas enchem os seus bolsos, de forma vergonhosa, austentando luxúria e poder, enquanto esse mesmo povo morre de fome?!Como podem continuar a falar mal dos Portugueses, quando são os Angolanos que mantém Angola na vergonha em que está???? Parece-me descabido.

Kafé Roceiro disse...

Caro Soberano,
Estou de volta para te desejar um feliz aniversário! Que a vida seja boa pra você amigo!
abraços roceiros,
Kafé.

Anónimo disse...

Caro Soberano:
É uma luta que não para por aqui mano, temos que caminhar, mesmo que não consigamos descobrir o rasto na selva, nós temos de desbravar essa selva e deixar rastos para que outros possam caminhar livremente.Precisamos de "documentar" as nossas mentes e com o passado mostrar que AFRICA é o berço da Humanidade...a boa comida, a boa música, as belas paisagens e até o nascer do sol é lindo em africa.
UM abraço

Ouri Pacamutondo

Unknown disse...

Soberano,estou junto com você em prol deste continente que cuja a historia conta,foi onde o homem deu seus primeiros passos, não é.
Eu tenho uma ONG que ajuda ás pessoas que moram na Africa,mas precisamos de mais apoio.
Pode crer que essa luta nós vamos ganhar e reerguer a velha africa.