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terça-feira, agosto 08, 2023

KALULU-01:01


E, estando eu no posto de abastecimento de combustíveis da Rua da Missão, em Kalulu, eis que apareceram diante de mim dois petizes. Depois de aturada observação e busca de arrojo, o menino que se achava mais expansivo ganhou coragem e abordou-me: 

_ Boa tarde, tio! Não quer ser meu padrinho? 

Vendo o bando de rapazes andrajosos e pedintes, alguns sem necessidade para o efeito, respondi à medida de correcção. 

 _ Boa tarde, sobrinho! Já tenho muitos afilhados. Mas, que idade tens e por que estás aqui? 
O petiz, tentando esquivar as perguntas, pôs-se ao mato, surgindo, depois, o seu irmão José Domingos que se ofereceu para trabalhar, como se de adulto se tratasse. 
_ Tio, posso ser teu cobrador. Já tenho 12 anos e faço 13. 
_ Tu não tens idade para trabalhar, nem eu vivo aqui. Por que não estudas em vez de pedinchar e procurar trabalho? _ Contrariei-o, ao que respondeu "estudo a sexta classe". 
_ Está bem. Vou oferecer-te um livro. _Disse-lhe. 
Após isso, o Paulo Domingos, que se escondera, reapareceu e explicou que tinha onze anos e estudava a quinta classe. 
_ Vocês são irmãos?
_ Sim, somos.
_ Um disse ter doze e tu dizes ter onze anos. São mesmo irmãos ou primos? _ Insisti.
_ Somos irmãos de pai. Ele tem duas mães. Eu moro ali (apontava para o bairro Kapopa) e vim aqui (Musafu) passar as férias com eles. _ Explicou o José.
Autografei dois "Kitotas: recuos e avanços". O José sabia ler, mas o Paulo ainda juntava letras e sílabas, o que me levou a concluir que os tempos mudaram para baixo.
Eu, na Escola Kwame Nkrumah, na quinta classe, em Kalulu, já escrevia poesia!

Kalulu, 24.07.2023

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