Além da Fmca2023
Nascido entre cafezais, no Lubolu interior, com ratos que demandam gatos, interiorizei a máxima "olho no peixe sobre a grelha e olho no gato" que, quando vê peixe, se esquece do rato.
- É último dia da Fmca2023 e partiremos de volta hoje. Não fica bem estarmos uma semana no Luvangu sem alimentar os olhos e descontrair (por alguns instantes) a mente. _ Ofereci, ao que vivas soaram.
Antes, criei dois grupos, para que a exposição não ficasse desguarnecida, e fomos pelo asfalto, passando o riacho Mukufi, subindo a zona escarpada, até que a negrura do asfalto cedeu lugar à larga calçada que nos eleva ao miradouro do abismo de 1200 metros (profundidade), tendo como fundo a zona desértica da Bibala, no Namibe.
A Fenda da Tundavala, local turístico de elevado regalo e com uma "estrada de pedra" digna de gabo, vive sozinha, entre seixos. Sem rede telefónica; sem toilette; sem quiosques para venda de água, café e souvenirs; sem cobrança de portagem (que podia serra estratificada entre nativos locais, turistas nacionais e estrangeiros; sem definição de andarilhos (impedindo que os vários trilhos prejudiquem a rara vargem entre penhascos); sem recolha de dinheiro (marginalizando uma grande oportunidade de arrecadação se receitas para a edilidade); sem ideias conhecidas... Enfim, é só rebo que regala, mas, o homem é biológico e tem as necessidades sempre a persegui-lo.
É nos penhascos da Tundavala que termina o Planalto Central de Angola. Daqui se desfruta uma paisagem magnífica que se estende por dezenas de quilómetros.
Antes, outras quatro notas, já repousavam no meu bloco de notas.
1- Num aldeamento turístico que atende pelo pomposo nome Kimbu do soberano, levou-se hora e meia a receber comida "prato do dia" que demandava somente aquecimento. Toda a jornada de espera, foi sem água, sem serviço e só desconsideração. Estava cheio? Estava, mas nós também éramos clientes e precisávamos de alguma atenção, por mais ínfima que fosse. Tomada a refeição, já a contragosto, foram mais exactos 34 minutos de espera pela água e factura, levando-me a reclamar do "gerente" que se não me fosse apresentada a conta e o terminal de pagamento automático, ausentar-nos-íamos, pagando onde eles nos alcançassem.
2- À noite (quinta-feira), numa esplanada, no bairro Palanca, Humpata, voltei a pedir comida que já houvesse feita.
- Sim, mano. Tem. É só uns minutos.
Veio o chá de limão para enfrentar a gripe e o frio desses dias. Até aqui, parecia que as coisas correriam à feição. Transcorridas duas horas, não veio a comida que "era só aquecer".
_ Desculpa, senhor. Houve um pequeno erro técnico. A comida não chegou. Vai ter de esperar mais trinta minutos.
A esperar, seria entregue à meia-noite e meia.
3- Dia seguinte, seis e meia da manhã à procura de chá quente num Posto de Abastecimento da Puma.
_ Bom dia, minha senhora! Quase desfaleço de fome. Tem algo quente que se coma?
_ Bom dia, senhores! Lamento não termos, de momento. Os produtos chegam as sete horas, mas posso fazer-vos um chá e sugerir biscoitos.
Essa diligente senhora devia gerir o Kimbu e a esplanada.
4- Noite, outra vez, em Nossa Senhora do Monte, decido, em companhia da minha "tropa", procurar algo para enganar as lombrigas na feira alimentícia. Uma hora, de baixo de ventos friorentos, para ter o pirão e a carne assada. Ninguém se dignou em perguntar ou sugerir, como normalmente acontece em instituições hoteleiras dignas "se enquanto esperam ouvem poemas", petiscam algo assado ou bebem kanyome ...Apesar de a cidade ter recebido milhares de visitantes e estes exercerem alguma pressão (anormal) sobre os serviços, há uma pergunta que não se quer calar: que turismo é esse (que não valoriza o cliente)?!
Publicado no Jornal de Angola de 20.08.23