Alioune Blondin Beye morreu a 26 de Junho de 1998, quando o avião em que seguia caiu, depois de levantar voo em Abidjan.
O dia 26.06.98 foi, porém, de sorte para mim.
Desde Dezembro de 1996, quando iniciámos o Programa "Dikas da Cidade", a que se seguiu o estágio na redacção da LAC, que eu fora "liminarmente" proibido de falar ao microfone.
_ Tens dotes em contar, por via da escrita, o que vês e ouves, mas não tens voz para rádio. _ Dissera o Director de Produção.
À data, 26.06.1998, eu era já editor de sábado. Nesse dia, apercebendo-se que o avião de Maïtre Beye estaria, eventualmente, desaparecido do radar, o editor-chefe da LAC, Rodrigues J. Filipe Filipe, foi à residência do negociador da paz em busca de informações. Tínhamos assunto cacha para abrir o noticiário das 12h30, entretanto, o locutor escalado, Horácio Pedro, estava atrasado e o Chefe-Zé insistiu comigo para abrir o noticiário, mesmo dizendo-lhe que eu estava proibido de falar.
_ Canhanga, és mudo?
- Não, chefe! Mas sabe que fui proibindo...
- Abre o noticiário e eu assumo. _Ordenou.
Abri o noticiário, passando-o, a meio, ao mestre Horácio que o fechou.
Chegou a segunda-feira. Eu temeroso que seria dispensado por "desonrar a regra imposta" fui chamado pela DG Maria Luísa Fançony que, olhando para meu par de rios lacrimais, perguntou séria:
- Luciano, tu tens treinado?
- Sim, DG.
- Com quem treinas?
- Com meus primos que trabalham na RNA.
- Continua a treinar. Até que não estiveste mal. A partir da próxima semana vais treinar comigo...
Depois do "intensivo", fui aproximado com mais frequência ao microfone, ganhando incentivos do Horacio Cambole e sendo, posteriormente, bem aproveitado pelo Ismael Mateus e Paula Simons, depois de terem regressado de Portugal. Em Agosto do mesmo ano fui frequentar um curso de Jornalismo Investigativo em Bamako, capital do Mali, terra de Alioune Blondin Beye, país que ainda o chorava.
Maïtre Beye, não sei se te choro ou agradeço.
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