À minha saída de Luanda, os jornais faziam ler algo sobre a «instabilidade social» em Dakar, com manifestantes que tentavam impedir um terceiro mandato de Macky Sall, o presidente do Senegal desde 2012.
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sexta-feira, junho 30, 2023
DAKAR AOS MEUS OLHOS
À minha saída de Luanda, os jornais faziam ler algo sobre a «instabilidade social» em Dakar, com manifestantes que tentavam impedir um terceiro mandato de Macky Sall, o presidente do Senegal desde 2012.
segunda-feira, junho 26, 2023
MAÏTRE BEYE & EU
Alioune Blondin Beye morreu a 26 de Junho de 1998, quando o avião em que seguia caiu, depois de levantar voo em Abidjan.
O dia 26.06.98 foi, porém, de sorte para mim.
Desde Dezembro de 1996, quando iniciámos o Programa "Dikas da Cidade", a que se seguiu o estágio na redacção da LAC, que eu fora "liminarmente" proibido de falar ao microfone.
_ Tens dotes em contar, por via da escrita, o que vês e ouves, mas não tens voz para rádio. _ Dissera o Director de Produção.
À data, 26.06.1998, eu era já editor de sábado. Nesse dia, apercebendo-se que o avião de Maïtre Beye estaria, eventualmente, desaparecido do radar, o editor-chefe da LAC, Rodrigues J. Filipe Filipe, foi à residência do negociador da paz em busca de informações. Tínhamos assunto cacha para abrir o noticiário das 12h30, entretanto, o locutor escalado, Horácio Pedro, estava atrasado e o Chefe-Zé insistiu comigo para abrir o noticiário, mesmo dizendo-lhe que eu estava proibido de falar.
_ Canhanga, és mudo?
- Não, chefe! Mas sabe que fui proibindo...
- Abre o noticiário e eu assumo. _Ordenou.
Abri o noticiário, passando-o, a meio, ao mestre Horácio que o fechou.
Chegou a segunda-feira. Eu temeroso que seria dispensado por "desonrar a regra imposta" fui chamado pela DG Maria Luísa Fançony que, olhando para meu par de rios lacrimais, perguntou séria:
- Luciano, tu tens treinado?
- Sim, DG.
- Com quem treinas?
- Com meus primos que trabalham na RNA.
- Continua a treinar. Até que não estiveste mal. A partir da próxima semana vais treinar comigo...
Depois do "intensivo", fui aproximado com mais frequência ao microfone, ganhando incentivos do Horacio Cambole e sendo, posteriormente, bem aproveitado pelo Ismael Mateus e Paula Simons, depois de terem regressado de Portugal. Em Agosto do mesmo ano fui frequentar um curso de Jornalismo Investigativo em Bamako, capital do Mali, terra de Alioune Blondin Beye, país que ainda o chorava.
Maïtre Beye, não sei se te choro ou agradeço.
quinta-feira, junho 22, 2023
KENHÊ QUEM NO HOSPITAL?
Lembro-me de ter lido um texto pedagógico de Judith Luacute, enumerando e elucidando sobre as classes de enfermeiros, e anotado que existe o enfermeiro graduado (licenciado e ou pós-graduado), o técnico de enfermagem (médio) e o auxiliar de enfermeiro (básico). Para além destes, ainda devem existir nos hospitais (deduzo) os estagiários de cada uma dessas classes de enfermeiros, assim como os catalogadores, maqueiros e outros auxilires que desempenham funções distintas e vitais ao bom funcionamento de um Hospital.
Numa instituição hospitalar pública de Windhoek notei que as enfermeiras e as catalogadoras usam distintivos por cima dos unifomes (diferenciados) que chamo aqui de "patentes", indicando a função e a categoria.
Calculo que, dominando o significado de cada uma destas "patentes", quer internamente, quer externamente (pacientes e familiares), fica-se a saber quem é quem e o que faz.
Nós, em Luanda, na aflição, chamamos a todas que usam batas brancas nos hospitais por enfermeira ou mesmo Doutora, entrando no rol igualmente as "mal-amadas" catalogadoras e as maqueiras que também se fazem passar por médicas.
Que tal "importar" essa experiência que não deve ser única pelo mundo?
quinta-feira, junho 15, 2023
"MIL CURVAS"
- A quem pertencem?
Habitualmente oiço que "a estrada do Wiji", referindo-se à rodovia que nos leva de Kaxitu à Ponte sobre o Dande, "é estreita em demasia, tem muitas curvas e ribanceiras", recomendando evitá-la.
O alívio do automobilista é ao chegar à fronteira entre o Mbengu e Wiji, na ponte. Daí em frente, "é outra categoria", apressando a marcha até à Aldeia Viçosa onde o PA da TEMA, as cantinas geridas por "mamadus" e a carne de caça dão as boas-vindas a quem vai à antiga cidade que ganhara o nome do general Carmona.
_ Temos carne de burro-do-mato, de pacaça, de veado e de seixa. _ Assim fui recebido, levando para casa, a tarefa de descodificar que animal é o tal burro-da-mata ou como o burro/cimbulu (para os ovimbundu que abundam o Wiji) foi parar à mata, deixando de ser o dócil doméstico de carga?
Outra constatação é sobre o que o buta muntu Alcides Gomes chama de "nossa preguiça congénita". Deixamos de ir às fazendas de café, desde que enxotamos os donos portugas. Não ficámos com elas, o que devia ser normal. As casas deixadas nas vilas e nas fazendas também não ficámos a viver nelas e preferimos desmontar as portas, janelas e telhas para encobrir nossas palhotas. Noutros casos, até desmontámos tijolos para fazer campas de nossos ancestrais, quando devíamos experimentar o conforto de uma casa erguida com o nosso suor a favor do forasteiro explorador. Que gente somos nós, afinal de contas? Será que casa deixado pelo portuga colono, explorador de homem negro, é imprópria à habitação? Como se não bastasse, até as cantinas demos aos expatriados oeste-africanos que as exploram com prazer e se desgrudam lazerentos. Porquê que os mwangolês não tiram proveito? Por que não reconstroem as casas sem tectos e portas deixadas pelos colonos, porém mais seguras do que as palhotas de "manteiga"?
Numa "digressão mineira" que me levou até Kibokolu, Makela do Zombo e que, mais uma vez, foi regalo aos olhos, o regresso à capitalíssima fez-se pela estrada Negaje-Lukala, onde a geologia foi menos impiedosa aos automobilistas ou os construtores encontraram os melhores traçados.
terça-feira, junho 06, 2023
ONDE ELES NÃO QUERIAM MORAR
KATUTURA!
"Não queremos ficar aqui!"
Em resposta ao ignóbil acto, os negros reclamaram em uma língua local: Katutura!
Assim ficou conhecido o maior bairro negro de Windhoek e praça-forte da SWAPO, o MPLA da Namíbia.
Para mim, ir a Katutura é mergulhar na história da resistência e luta pela emancipação dos africanos contra todas as formas de dominação (externas e internas). É também um reencontro com as minhas origens culturais afro-rurais.
No mercado de Katutura, a língua mais falada é Oshiwambo (o que os angolanos decidiram chamar de Kwanyama). No Lubolu, sempre ouvi os camaradas da SWAPO a falarem essa língua, sendo que alguns étimos ficaram gravados no meu ouvido.
A carne bovina fresca e assada "na brasa", a salada e o pirão de masango ou masambala são a principal iguaria servida no mercado alimentar de Katutura e que leva, até o mais refinado pula da metroia, a aderir a deliciar-se com os dedos. ⁹Há, quanto a mim, uma maior interação entre o homem e o alimento. Vi jovens angolanas, com unhas de papagaio, a se desfazerem da finura fingida e atacarem o pirão com os dedos.
E como os namibianos são zelosos em relação à paz social, decidiram, e muito bem, proibir o uso de bebidas alcoólicas no mercado de carne assada de Katutura. Assim, ou você compra a carne assada e apetitosa para comê-la fria em casa, regando-a com pomada sul-africana que abunda ou fica-se pela água farta (no deserto) e refrigerantes.
Mas sobre Katutura, que fica depois de Khomasdal (bairro dos colored ou mestiços), não é tudo e nem pode caber em uma crónica de vivência efémera de meia hora.
A SWAPO PARTY NATIONAL HEADQUARTERS, ou seja, a Sede Nacional do Partido Organização dos Povos do Sudoeste Africano fica "just" à entrada da urbanização que é uma espécie de Zango ou Comissão do Rangel (Luanda). Ao que me pude aperceber, a decisão da SWAPO em erguer em Katutura o seu "Quartel-General" homenageia o povo que mais sofreu e o apoiou, estando o povo e o partido "so closed" como se diz por lá e umbilicados na nossa língua de construção da nação angolana. Equivale ao "twapandula nawa" e ao jargão "descer às bases e permanecer nelas".
Entre Katutura e a cidade está Khomasdal (como acima anotado), um bairro que servia de tampão entre os negros e os brancos exploradores ao tempo do apartheid. Aos meus pobres olhos, as edificações de Khomasdal se assemelham às vivendas do Kilamba ou ao nosso Zango 5 (ex 8000). A maioria é construção horizontal, sendo pouquíssimos os edifícios verticais de dois pisos. A excepção vai para uma escola que me foi mostrada à distância.
Há outros "bantustões" ou bairros de negros (maioritariamente bantu) em Windhoek, porém, ir à capital da Namíbia e não chegar a Katutura sabe a ir a Lwanda e não chegar à Mutamba (do antigamente) com o seu imponente edifício da Fazenda (MINFIN).
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Punlicado no Jornal de Angola de 18.06.23
quinta-feira, junho 01, 2023
ECA DE MAQUELA
Repare bem a inscrição: ECA.
Cuidado!
Não é cervejeira. A que mata sede em dia solarento é a do Dondo e leva K.
O cobre pode reentrar no nosso léxico económico. Até 1974, ao que reza a história, portugueses e parceiros de outros países extrairam milhares de toneladas de cobre nas minas de Tetelo e Mavoyo, no Wiji. Tetelo fica na comuna de Kibokolo, terra de muitos intelectuais da velha guarda, município de Makela do Zombo. É perto do antigo Kongo Belga.
Aqui podem nascer novas estórias e fazer-se História. A nova fase do cobre está a caminho, numa empreitada em que o meu amigo Rui Lopes tem estado à frente.