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segunda-feira, janeiro 02, 2023

ENTRE KASONGE E UKU-SELES

O acolhimento e despedida, na "vila ainda com características rurais," mas que se esforça em ser urbe, tinham sido excelentes.

De Kasonge ao desvio de S. António são perto de 30 quilómetro em estrada terraplenada e com betonilha à espera de asfalto. Os pontecos aguardam pelas pontes definitivas.

Do Santo António ao Uku, as aldeias, vilarejos e a obra da natureza oferecem um regalo infinito e inenarrável. Só vendo e vivendo!

Cerca de 40 ou 45 quilómetros a oeste de Kasonge, numa comunidade com muitas casas "coloniais"¹ destruídas um casarão moderno e amarelo se destaca.

Abrandei.

- Bom dia, jovem. O quê aquilo? É escola ou casa de alguém?

- É casa do tio Santos.

- Kenhê ele?

- É o chefe daqui.

Pensei que pudesse ser a residência do administrador, mas era impensável o responsável comunal habitar uma casa de tamanho e qualidade sem iguais na sede municipal.

Curioso avancei, rodando pela En 245, até encontrar alguém que me retirasse "o pico da garganta".

- Mano, bom dia! Que aldeia é essa?

- É a sede da comuna de Ndumbi.

- E aquela casa?

- É de um empresário.

- Bom que alguém, eventualmente natural, tenha feito fortuna na cidade grande e a tenha vindo "enterrar" na sua comunidade de origem. - Falei à mulher que me acompanhava. Era já a segunda abordagem sobre o investimento na terra natal. Na primeira, falei-lhe sobre a necessidade de se fazer plano de negócio antes de ir construir loja na aldeia. Se não houver poder de compra e um business continuous plan será jogar água ralo abaixo. Para o campo é preciso fazer aquilo que o campo está habituado e a cidade pronta a comparar: agropecuária e comércio de apoio à actividade empresarial.

Rumamos, tendo o sol a seguir-nos, em direcção ao mar.

Em Kapolo, chama a atenção do "explorador" forasteiro um complexo de naves. Parei. Não dava para ver apenas de soslaio e passar sem saber.

- Bom dia, mano! - Saudei um senhor, entre os 40 e 50, que se prestava para montar à sua motorizada.

- Bom dia. - Respondeu lacônico.

-Bom dia, mano! Pode dizer se aqui é aonde e aquilo é o quê?

O adulto que se preparava para montar sobre a motorizada coçou a barba e respondeu meio tímido.

 - Bom dia, mano. Ndizem é ngalhinhero.

O outro que se achava ao lado corrigiu.

- Ó coiso, no é ngalhinhero. É aviário.

Agradeci, seguindo a marcha que se repletava de regalo até Amboiva (comuna do Uku-Seles, onde encontrei o General sem Pasta (apresentou-se assim).

Quando lhe perguntei que aldeia era aquela, foi diligente, num bom português em explicar que eu estava na melhor das duas comunas do municipio. Depois descreveu-as: Amboiva e Botera, explicando também as distâncias entre a sua comuna e a sede muncipal, assim como a saída da sede para Botera e respectiva distância. Simpático, o General sem Pasta não me deixou partir sem antes pedir o meu business card² ao que dei sem titubear.

Tomara que tivéssemos mais cidadãos assim, orgulhosos de suas terras, conhecedores delas e aptos a situar o viandante.

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1- O senso comum designa todas as habitações de construção definitiva existentes até 1975 por "casas de colonos".

2- Cartão de negócios também conhecido como cartão de visita.

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