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sábado, janeiro 01, 2022

UMA TROCA MELHOR DO QUE HÁ 31 ANOS

Na troca da moeda realizada em 1990, minha mãe, camponesa com filhos deslocados em Luanda, e meu tio João Bebeca ficaram mais pobres do que já eram.

A troca da moeda devia acontecer em apenas uma semana, sendo que as cédulas velhas deviam ser depositadas nas raras dependências do BNA ou BPA. Pior do que isso, era troca (5%) e retenção (recebendo títulos), pois, não se saia do Banco Popular de Angola com o total do valor a que se tinha direito.

De suas aldeias (Pedra Escrita e Mbango de Kuteca) para Kalulu eram, respectivamente, 68 e 103Km. Em Kalulu, as filas no BPA (edifício que acolhe hoje a Biblioteca) eram enormes e não possuíam parente nenhum para os abrigar na vila.

Maria Canhanga e o irmão adoentado decidiram, então, partir para Luanda onde tinham parentes e quantidade superior de agências do BPA.

Acontece que, com escassez de carros que se aventurassem às estradas esburacadas dum tempo de guerra ainda apertada, a viagem demorou mais do que o previsto, chegando a Luanda na noite do dia em que terminou a troca da moeda. Os 250 Km que separam Pedra Escrita (Libolo) do Rangel (Luanda) podiam gastar 4 dias de uma viagem com ataques da UNITA e avarias pelo percurso.

Nada mais havia por fazer. Perderam tudo quanto, com muito esforco e sacrifício, haviam ganho e poupado para os filhos e para cuidar da saúde. Tem corrido o tempo mas, sempre que se fala em troca de moeda, vem-me à memória o episódio que foi "poupar dinheiro para nada", como desabafou o meu finado tio João Bebeca.

Felizmente, desta vez a troca da moeda está a ser diferente. O Kwanza de duas caras está a ceder lugar paulatinamente, através de retenção bancária, às novas células mono-efígie de A.A. Neto e a autoridade do Banco Central dá seis meses para que quem esteja no Kuteka ou Njamba Kweyo (só para exemplificar) possa, nesses 180 dias depositar as células velhas de que não se puder desfazer numa conta bancária, concedendo ainda um outro período mais longo para se puder trocar as células dual-efígie pelas novas do Manguxi (apenas) em representações do BNA.

Creio que no final do processo, a autoridade monetária terá os seus objectivos cumpridos e entre a população menos lamentos. Bem pensado!

Pena é que o meu tio João Bebeca tenha morrido sem assistência médica adequada, por falta de dinheiro, embora deixando muitas notas vermelhas (Kz 1000 era a maior) sem valor, e a minha mãe, aos 75 anos, não tenha pensão, nem visão!
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