Igreja "Apostante". É assim que alguns idosos ainda tratam a Metodista. Apostante é uma corruptela de Protestante, nome por que ficou conhecida a corrente Wesleyana trazida a Angola por William Taylor, no longínquo Março de 1885.
O Metodismo é marca na região de Nambuangongo. Todas as aldeias têm uma,
sendo na maioria delas a única. Mas quem descuida do que é seu abre brechas
para outros. O monopólio metodista sofre "ataques" que preocupam
alguns crentes fervorosos da região de Nambuangongo.
- Era a única até ao fim da terceira guerra, mas agora as igrejas estão a
surgir mais do que cogumelos em tempo de chuva. - Reclama o ancião Afonso José
que diz não se lembrar quando se tornou metodista.
- Aqui, no Nâmbwa, todos viemos do ventre já metodistas. Mesmo hoje, as
pessoas ainda nascem metodistas. Pena é que os jovens de hoje em dia se
comportam como porcos que quando lhes soltamos do curral já não querem saber do
dono que os criou.
José Afonso, filho primogénito do mais-velho Afonso, diz-se, hoje, um
"crente em tremura". Explica que promessas não realizadas acabam por
desanimar o obreiro.
- É melhor trabalhar a olhar somente para Cristo do que fazer promessas que
nunca se realizam. - Desabafou.
Desafiado a argumentar a razão da sua ambiguidade, José Afonso larga sem
rodeios:
- Trabalhei durante muitos anos no Departamento de Trabalho com Crianças do
Distrito. Andei muito a pé de aldeia em aldeia. Todas essas aldeias (apontava
para a mata cerrada onde só ele pode determinar a localização dos aglomerados)
tinham os programas e os executavam com a minha supervisão. Prometeram-me uma
mota. Aí pensei: vou usar a minha já que vai ter a outra substituta. Até hoje,
nga kinga nga lembwa[1]!
Como é que se vai manter a igreja sem trabalho com crianças? Como é que se
larga crianças em gozo de férias como se fossem cabritos sem aprisco, crianças
sem actividades da EBF?
Antevendo um futuro sinuoso, caso as coisas não mudem, e buscando uma analogia
com o partido do seu progenitor, num misto de brincadeira e conversa séria,
José Afonso atirou.
- O camarada sabe o quê que fez o MPLA forte e numeroso? Diz se sabe, pelo
menos aqui no Nâmbwa.
O cronista ficou calado para deixar que ele mesmo respondesse.
- Está aqui o meu pai Afonso. É da Fê-Nê-Lá. A avó Treza, que está a nos
ouvir, é da base de Kaji Mazumbu, desde jovita[2],
onde foi professora guerrilheira do MPLA. Eu já combati nos dois exércitos. Na
Fenê[3]
fui com o pai Afonso que está aqui. Depois, quando abri os olhos, fui FAPLA.
Igreja que não tem crianças e jovens vai ficar só para os velhos. Lhes pergunta
se estou a mentir. - Desafiou, olhando para os dois idosos.
Feitas as deduções e colagens, o fio de raciocínio leva-nos a entender que
o movimento do seu pai ficou confinado à terceira idade por ter desinvestido ou
nunca investido em crianças e jovens.
- Já que o irmão diz que é escritor e tem amigos na Conferência que o leem,
leva-lhes o recado. Um dia vamos acordar só com velhos na igreja. - Terminou,
já a fazer a curva para o seu aposento. Era hora da janta.
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