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domingo, agosto 15, 2021

NÂMBWA E O "PROTESTANTISMO"

Igreja "Apostante". É assim que alguns idosos ainda tratam a Metodista. Apostante é uma corruptela de Protestante, nome por que ficou conhecida a corrente Wesleyana trazida a Angola por William Taylor, no longínquo Março de 1885.

O Metodismo é marca na região de Nambuangongo. Todas as aldeias têm uma, sendo na maioria delas a única. Mas quem descuida do que é seu abre brechas para outros. O monopólio metodista sofre "ataques" que preocupam alguns crentes fervorosos da região de Nambuangongo.

- Era a única até ao fim da terceira guerra, mas agora as igrejas estão a surgir mais do que cogumelos em tempo de chuva. - Reclama o ancião Afonso José que diz não se lembrar quando se tornou metodista.

- Aqui, no Nâmbwa, todos viemos do ventre já metodistas. Mesmo hoje, as pessoas ainda nascem metodistas. Pena é que os jovens de hoje em dia se comportam como porcos que quando lhes soltamos do curral já não querem saber do dono que os criou.

José Afonso, filho primogénito do mais-velho Afonso, diz-se, hoje, um "crente em tremura". Explica que promessas não realizadas acabam por desanimar o obreiro.

- É melhor trabalhar a olhar somente para Cristo do que fazer promessas que nunca se realizam. - Desabafou.

Desafiado a argumentar a razão da sua ambiguidade, José Afonso larga sem rodeios:

- Trabalhei durante muitos anos no Departamento de Trabalho com Crianças do Distrito. Andei muito a pé de aldeia em aldeia. Todas essas aldeias (apontava para a mata cerrada onde só ele pode determinar a localização dos aglomerados) tinham os programas e os executavam com a minha supervisão. Prometeram-me uma mota. Aí pensei: vou usar a minha já que vai ter a outra substituta. Até hoje, nga kinga nga lembwa[1]! Como é que se vai manter a igreja sem trabalho com crianças? Como é que se larga crianças em gozo de férias como se fossem cabritos sem aprisco, crianças sem actividades da EBF?

Antevendo um futuro sinuoso, caso as coisas não mudem, e buscando uma analogia com o partido do seu progenitor, num misto de brincadeira e conversa séria, José Afonso atirou.

- O camarada sabe o quê que fez o MPLA forte e numeroso? Diz se sabe, pelo menos aqui no Nâmbwa.

O cronista ficou calado para deixar que ele mesmo respondesse.

- Está aqui o meu pai Afonso. É da Fê-Nê-Lá. A avó Treza, que está a nos ouvir, é da base de Kaji Mazumbu, desde jovita[2], onde foi professora guerrilheira do MPLA. Eu já combati nos dois exércitos. Na Fenê[3] fui com o pai Afonso que está aqui. Depois, quando abri os olhos, fui FAPLA. Igreja que não tem crianças e jovens vai ficar só para os velhos. Lhes pergunta se estou a mentir. - Desafiou, olhando para os dois idosos.

Feitas as deduções e colagens, o fio de raciocínio leva-nos a entender que o movimento do seu pai ficou confinado à terceira idade por ter desinvestido ou nunca investido em crianças e jovens.

- Já que o irmão diz que é escritor e tem amigos na Conferência que o leem, leva-lhes o recado. Um dia vamos acordar só com velhos na igreja. - Terminou, já a fazer a curva para o seu aposento. Era hora da janta.

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[1] Fartei-me de esperar.

[2] Púbere, adolescente.

[3] Alusão à Frente Nacional de Libertação de Angola.

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