Nas brincadeiras de decifrar as siglas e acrónimos e nos protótipos de carros de lata, chamávamos ao camião dos militares do batalhão LCB de Minh'Antiga Namorada. A matrícula iniciava com a combinação AMF (o tempo apagou a combinação numérica) que nas nossas brincadeiras dizíamos "Apanhei e Mandei Fazer".
Quando o veículo MAN passasse carregado de makwenze sentados em bancos corridos, lado a lado, encostos inclinados para trás, parecendo que os colegas do lado oposto é que sustentavam o equilíbrio de outros, era sinal de kibetu militar em algum lugar próximo da Vila.
Kalulu, no interlad do Libolo, tem três principais saídas que levam a três comunas.
A principal saída/entrada é a estrada asfaltada que passa por Munenga, até encontrar a Estrada Nacional 120 que liga Dondo à Kibala. A via mais segura era a que vai à Kabuta até atravessar o Kwanza pela ponte Filomeno da Câmara que chamávamos de "Ponte Filomena". Embora em terra batida e esburacada, era frequentada por militares da Swapo que guarneciam os refugiados namibianos aí instalados. Unitas e Swapos eram como rato traquino e Gato faminto. O terreno fofo dos unitas era a estrada que nos leva ao Lwati até à comuna de Kisongo, onde estavam instalados, mesmo sem povo, ao que viemos a saber mais tarde, por causa do garimpo de diamantes. Era lá, no Kisongo, que tentaram "torrar farinha" com as FAPLA quando transferiram o Comissário Tony do Libolo para outro município. Porém, Keka Ngó, substituto do Comissário Tony, que também subiu a capitão, foi lá ao Luaty "lhes" pôr travão.
Naquele dia de 1988 a viatura de transporte militar, MAN, trouxe pessoas a mais. Eram, no dizer da população, Kahúhu, como lhes tratavam os camarada da Swapo, e colaboradores que passavam informações e alimentavam os do outro lado. Keka Ngó deu umas tantas voltas à Vila mostrando os troféus, cujo destino a nossa curiosidade de rapazes não conseguia descortinar. As paredes da Fortaleza eram muito altas, robustas e opacas para se saber o que se passava lá dentro, depois dos camaradas tropas entrarem com seus capturados.
No ano seguinte, 27 de Março, Carnaval da Vitória em que a Victória também ensaiava connosco no grupo da escola Kwame Nkrumah, a alegoria do único grupo da classe de adultos "transportava Keka Ngó numa tipoia" e as vozes gritavam alto uma canção que dizia:
"Keka Ngó sabe lutar (bis)
Olha que a Unita já estava no Kisongo
A Unita já kê nos acabar
Só nê possível com O nosso comissário".
O comissário e a MAN aguentaram-se algum tempo. Mas, quem tem fome não olha a perigo e enfrenta até leões. Foi assim que em Dezembro de 1999, 24 para 25, os marinhos atacaram a Vila para roubar comida raptar mancebos e queimar o que podiam. Nem 12 horas ficaram na Vila, mas os estragos são ainda visíveis: campas de assassinados, deslocados, casas e pontes dinamitadas, carros queimados, cabritos roubados, jovens raptados e meninas estupradas. Refugie-me durante três meses em aldeia distante. Seis meses mais tarde, concluída a sexta-classe, deixei o meu Libolo, em 1990, para frequentar escolas e fazer carreira em Luanda.
Segundo Filipe Albino, natural da Kibala, de 1990 a 1991, para manter a ordem no Libolo, "Keka Ngó teve de pedir socorro ao comandante homólogo do Amboim, o lendário Cara Podre. Porém, prossegue, a 12 quilómetros da Kibala, Cara Podre sentiu dificuldades em avançar e teve de socorrer-se do seu homólogo o também lendário Kandimba, da Kibala. Finaliza o Filipe Albino que o período 1990-91, antes dos acordos de Bicesse (31Maio), foi difícil para Keka Ngó.
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