O Sol já não era criança. Era muzangala. Pareciam dez e tal. O frio já estava a se esconder e os kangonyeros já tinham se sacudido, preparando-se para ir embora. Antes, partiram mais umas folhas frescas do "marley" que, com certeza, vão fumar amanhã ou logo mais, ao pôr-do-sol.
As mamãs que procedem à rega das hortaliças à volta da lagoa começavam a substituí-los no campo agricultado à volta do depósito natural e artificial de água que a chuva e vianenses mandam ao Terembembe.
Desta vez, se calhar, com medo da serpente que viu ontem, Madó estava bem fardada. Botas mata-cobra, calças jeans, camisola "mamã-me-larga" e casaco pesado por cima. Numa mão um balde regador e noutra a catana e o sacho. Ao avistar a amiga de adolescência, Madalena abriu o rosário:
- Mãezinha, lebras aquela nossa vizinha que era muito amiga da Joaninha?
- Sim, lembro. É o quê então, Madó?
- Eh, miga! S'ncontrei com ela. Ewa! Num te falo!
- É o quê? Xuxa dela já caiu?
- É isso mesmo que iu te falá. Vinte anos, xuxa tipo nenê de doze? Acho lhe atiraram uma merda.
- Também acho. Rabugisse é demais. Pessoa mesmo que num lhe conheces, nem de cima, nem de baixo, lhe acusas te roubou dinheiro, só porque namoras com polícia?
- Assim lhe atiraram mesmo uma merda. Só falta já ter barriga de água.
- Madó, mi fala. Barriga d'água mais é o quê?
- Estás a ver quando as tias falam está gravida mas nenê num se mexe, nem nada, né? Na barriga é só água. Acho que bruxaria que atiraram na Leninha pode ir nesse caminho. Por isso nessa vida é preciso ter cuidado, Mãezinha.
- E assim estás a ir aonde?
- Estou a ir na Estalagem comprar máscaras. Aquele filadaputa do tô cunhado se embebedou ontem e na minha máscara atirou lá molho de frango. Cão comeu os ossos com o pano que ficou todo roído. Mas vai me sentir, só se não só eu Madó da Carreira-de Tiro.
- Não lhe faz mais confusão. Pára já, Madó. Homem de uma só mulher está difícil. As vezes nós mesmas é que provocamos homem te sengar ou te arranjar ajudante.
- Num me fala mais assim Mãezinha. Ele me acordou os kalundús na cabeça. Mas pronto já. Com o teu conselho, vou só comprar máscara e lhe aprontar o almoço.
À moda de Malanje, Madó e Mãezinha deram-se um "kwata-kwata" e partiram cada uma para o seu caminho.
Mãezinha fez gosto ao pé, em direcção à estrada que conduz carros apressados e homens e mulheres andrajosos na preguiça trazida pelo cansaço das pernas empoeiradas. Madó enfiou o corpo no milheiral que cresce e enverdece com a força do estrume fecal levado pela água urbana à Lagoa do Terembembe.
As mamãs que procedem à rega das hortaliças à volta da lagoa começavam a substituí-los no campo agricultado à volta do depósito natural e artificial de água que a chuva e vianenses mandam ao Terembembe.
Desta vez, se calhar, com medo da serpente que viu ontem, Madó estava bem fardada. Botas mata-cobra, calças jeans, camisola "mamã-me-larga" e casaco pesado por cima. Numa mão um balde regador e noutra a catana e o sacho. Ao avistar a amiga de adolescência, Madalena abriu o rosário:
- Mãezinha, lebras aquela nossa vizinha que era muito amiga da Joaninha?
- Sim, lembro. É o quê então, Madó?
- Eh, miga! S'ncontrei com ela. Ewa! Num te falo!
- É o quê? Xuxa dela já caiu?
- É isso mesmo que iu te falá. Vinte anos, xuxa tipo nenê de doze? Acho lhe atiraram uma merda.
- Também acho. Rabugisse é demais. Pessoa mesmo que num lhe conheces, nem de cima, nem de baixo, lhe acusas te roubou dinheiro, só porque namoras com polícia?
- Assim lhe atiraram mesmo uma merda. Só falta já ter barriga de água.
- Madó, mi fala. Barriga d'água mais é o quê?
- Estás a ver quando as tias falam está gravida mas nenê num se mexe, nem nada, né? Na barriga é só água. Acho que bruxaria que atiraram na Leninha pode ir nesse caminho. Por isso nessa vida é preciso ter cuidado, Mãezinha.
- E assim estás a ir aonde?
- Estou a ir na Estalagem comprar máscaras. Aquele filadaputa do tô cunhado se embebedou ontem e na minha máscara atirou lá molho de frango. Cão comeu os ossos com o pano que ficou todo roído. Mas vai me sentir, só se não só eu Madó da Carreira-de Tiro.
- Não lhe faz mais confusão. Pára já, Madó. Homem de uma só mulher está difícil. As vezes nós mesmas é que provocamos homem te sengar ou te arranjar ajudante.
- Num me fala mais assim Mãezinha. Ele me acordou os kalundús na cabeça. Mas pronto já. Com o teu conselho, vou só comprar máscara e lhe aprontar o almoço.
À moda de Malanje, Madó e Mãezinha deram-se um "kwata-kwata" e partiram cada uma para o seu caminho.
Mãezinha fez gosto ao pé, em direcção à estrada que conduz carros apressados e homens e mulheres andrajosos na preguiça trazida pelo cansaço das pernas empoeiradas. Madó enfiou o corpo no milheiral que cresce e enverdece com a força do estrume fecal levado pela água urbana à Lagoa do Terembembe.
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