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sábado, junho 15, 2019

CADÁ: KEN'TE VIU E KEN'TE VÊ?!

Diz a oralidade, mais vale tarde do que nunca. CADA, no Amboim, foi sempre um nome audível e pelas melhores referências, no meu tempo de undengue. Avós e papás que lá haviam trabalhado ou passado ou ouvido falar replicavam aos mais novos o que de bom o homem tinha implantado, transformando a virgem natureza em exuberantes campos de café, fábricas transformadoras e processadoras, luxuosas vivendas e escritórios a que se acresciam os acampamentos para negros contratados de terras distantes do planalto e capatazes brancos de chicote leve na mão pesada de pouca instrução. As escolas, com destaque a S. João de Brito, o monumental hospital, a barragem, a sede administrativa da Cooperativa, etc. eram contados e recontados nas noites de serão quer houvesse ou não luar. E o njangu repletava-se de estórias de fazer história. Os jovens enchiam-se de ideias, de ilusões. Memorizavam e imaginavam aquilo que era a "grande cidade" com brancos de barriga cheia, mandões, e sua esposa a ordenarem às empregadas negras:
-Maria!
- Xinyola!

-Senhora não! Patroa, está bem?
-Si, phatala!
Conheci a cada aos 42 anos (Nov. 2018). Já não é o que era há 42 anos, ou seja em 1976 e muito menos em 1974 quando os mentores da CADA ou seus herdeiros ainda lá se encontravam gerindo com mestria (e alguma repressão aos autóctones) o fruto do seu abnegado trabalho e créditos bancários. Na CADA tudo desandou, com relativa excepção que se encontra hirta mas sem os fiéis de sempre. O comboio há muito deixou de visitar a sua estação terminal. A empresa foi extinta e os carris encontram poiso nos tectos de casas precárias ou mesmo fundidos em siderurgia de Viana, em Luanda. A barragem já não produz energia e a água já não chega aos campos. Das máquinas e equipamentos agro industriais apenas velhas sucatas para oxigenar a memória de um idoso quando convidado a contar historia.
- Canhanga, foste conhecer apenas agora a CADA?


- Foste tarde. Imagino que já não tenhas encontrado nada!

- É verdade, meu kota. Quase nada, tirando escombros daquilo que terá sido uma grande cidade angolana no meio de cafezais.
E os que conheceram CADA no seu tempo áureo repõem as imagens que teimam em permanecer na memória:

Augusto Alfredo, um mumboim assumido, diz mesmo que “Quem conheceu o passado lembra-se das Estradas asfaltadas, jardins zelosamente amparados, hospital, cine-clube, supermercado, escolas com ensino de qualidade, pista de aviação, oficinas gerais, estação de comboios etc. Água canalizada e energia eléctrica. Era um lugar aprazível. Hoje, lamenta, “tudo é saudade! Até a linha de caminho-de-ferro que ligava a Gabela ao Porto Amboim, numa distância de 123 quilômetros, foi desactivado por decisão administrativa. Tudo acabou. O estado actual é de abandono e degradação! Pior, mingua a esperança.

A igreja Católica é, segundo Mazungue, como também se apresenta nas redes sociais, “o raro consolo”. Alfredo prossegue que “em 1973, a partir das 19 horas, era proibida a circulação de estranhos na vila, até foi construída uma estrada em torno para desviar o trânsito que seguia para Boa Altura, Pange, Boa Lembrança e Nova Ereira.

Com recurso à forte memória, Augusto Alfredo “Mazungue”, conta a dedo um a um os serviços e edifícios que frequentou e viu desaparecer. “O cine-clube, o supermercado, escolas com ensino de qualidade, a pista de aviação, as oficinas gerais, a estação de comboios, etc.

Foi a minha única visita e paixão à primeira. Quem conheceu antes, nos tempos áureos da CADA tem, com certeza, vários episódios para contar.

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