Cici ou Alcínia era uma jovem solteira vivendo
sozinha, na nova cidade da capital. Era a forma encontrada para rentabilizar a
casa que o pai estava a comprar com ajuda do Estado onde trabalhava e dar maior
à vontade para se dedicar ao seu curso de medicina. Os objectos pessoais de
alguma valia como mesa, cadeiras, sofá e até algumas peças de roupa tinham sido
oferecidos a Mangodinho para "levar às tias no mato". Por outro lado,
a carta dele Remetida via face book do primo Carlos Júnior, tinha chegado e
sido bem interpretada. Mangodinho era daqueles que onde estivesse só fazia rir.
Era "uma piscina de alegria", como dizia o seu tio. Por isso ao
regressar da Ásia, as lembranças não faltaram. O dinheiro que habitualmente se
aplicava em compras para a jovem finada foi usado para atender a carta de
Mangodinho, um cinquentão.
- Zequeno!
- Pai!
- Abre essa mala e aproveita o que gostares. - Disse-lhe
o tio.
Zequeno, o meu Mangodinho, tratava-o por pai por ser
homónimo do seu. Mas na verdade a relação parental era de tio e sobrinho.
Óculos de sol, ray ban. Sapatos pretos, um par.
Sapatilhas um par. Sandálias idem. Jeans, dois pares, relógio de marca, um.
Camisas e t-shirts, boa quantidade. Ao regressar ao seu Libolo, Mangodinho era
um "homem lavado". Cabelo cortado, barba aparada, sapatos: um espelho
nos pés, relógio Calvin Klein, fato azul escuro, nem já um administrador. Na
carrinha que o levava, ele no banco traseira, ocupava o lugar protocolar. Na
carroceria se acomodava a sua moto de três rodas e carroça e outras imbambas.
Vinho e gasosas não faltaram. Afinal, ela era um "quase doutor" e
tinha um pai pesado e de "muito bom coração".
A mulher que tinha 'sengado' voltou. E ele a recebeu
com deferência. Todos se rejubilam com o crescimento de Mangodinho, intelectual
e material. Já tinha a casa reparada e com janelas de vidro espelhado, como a
casa do miúdo Russo. A alfabetização dos adolescentes, jovens e adultos tinha
passado para ele. Borracha, o professor enviado pela comuna, e Mangodinho eram
os mais iluminados, sem ofuscar o brilho do soba
Toneco Avelino que era o pilar de sustentação da
aldeia e a fonte de equilíbrios. A OSA de Kilombo e Cati estava também com ele
e trabalhavam juntos na sensibilização da comunidade para que todos
construíssem uma latrina.
- Fezes espalhadas pelo mato, não é bom. -Dizia nas
suas preleções. - O que deitamos destapado no mato volta ao nosso corpo.
- Como assim, Manzequeno, se os porcos, normalmente e
aqueles bichos que enterram a porcaria fazem trabalho deles? - Katembo, apesar
de mulher mais instruída da aldeia, duvidou.
- Pois é, Mana Katembo. Veja: O porco come o que nós
descarregamos e depois comemos o porco. Outras vezes o porco que sai da
lixeira, e porque cada porco conhece casa do seu dono, ele vai também
'funhatar' na comida para as pessoas. Outro problema são os ratos. Eles passam
no lixo e vem viver connosco. Temos ainda a chuva. Vivemos na montanha. Aqui é
alto é o rio está na baixa. Todo o lixo fecal é arrastado para o rio onde
retiramos a água para consumo. É por isso que tenho três projectos ligados à
saúde comunitária.
- Mostra, mostra, mostra. Fala, fala, fala. - O povo,
já conhecedor de suas ideias inovadoras, apressava-se em saber quais seriam
esses projectos, que benefícios trariam aos homens e mulheres e qual seria o
comprometimento de cada um. Mas Mangodinho não falou ainda, pois o Soba estava
ausente e a situação, embora abordada com o professor da aldeia, merecia o
veredicto da autoridade máxima.
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