Mangodinho foi receber o soba Toneco que
acabara de chegar de uma reunião na comuna.
- Hoj'etu! - Saudou Mangodinho, que se
antecipou as tradicionais três rajadas de palmas triplas.
Toneco apenas sorriu e bateu-o no ombro.
- Epá, estás bem, Manzequeno. Já te
disse, somos amigos. Hoj'etu vou só te responder quando me substituíres no
sobado. Falavam descontraidos. Toneco estava também expectante quanto ao que
Zequeno proporia como inovações na aldeia, regressado de Luanda.
- Ó Manzequeno, já viste a diferença
entre a nossa aldeia e as outras à volta?
- Sim, Mantoneco. É a força das ideias.
- Camarada secretário, orientaram-nos
fazer latrinas para prevenir doenças da pela e bichas que fazem inflamar as
barrigas das crianças. - Informou o Soba.
- Ainda bem, nosso Soba. - Respondeu
Mangodinho. Essa é uma das ideias que trouxe e já a comunique ao povo para
pensar enquanto o Soba estava ausente.
Os dois marcaram passos pelo terreiro da
casa de Toneco. Mutúmbwa, esposa do Soba. colocou duas cadeiras debaixo da
árvore e Toneco serviu um pacote de vinho que acompanharia a conversa e
aligeiraria as ideias.
- Ó Manzequeno, notas a diferença entre
a nossa aldeia e as outras à volta? Até o camarada administrador reconheceu e
pediu outros sobas e secretários a nos visitarem nos próximos dias. - Informou
o régulo.
- Sim, Mantoneco. Quando o Soba é bom
professor, bom pai, bom conversador as coisas acontecem. É a força das ideias.
- É, à propósito, já nos habituaste
trazer ideias. Sabes, que quando os outros vierem vão fazer tudo igual, e nós
temos de lhes passar à frente. Na tua bagagem veio o quê dessa vez?
- Já lhe falei da ideia das latrinas.
Vamos fazer uma comunitária ao lado da árvore das reuniões. Cada pai de família
vai também fazer a sua. Minha ideia é darmos prazo de um mês e meio.
- E que medida vamos propor a quem não
cumprir? - Questionou o Soba.
- Bem, acho que vamos, propor para todos
fazer em adobes queimados ou trabalhar na lavra comunitária.
Toneco, sacudia o pacote que reclamava
por outro substituto, enquanto Mangodinho levava as últimas gotas do tinto à
garganta. Da cozinha era o cheiro à galinha kabiri temperada que se fazia
anunciar.
- No campo das ideias, professor Toneco,
pensei também fazermos já uma casa para o posto médico. Se nós construirmos já
é depois formos pedir enfermeiro, acho que vamos conseguir. Se não nos darem
também tenho outra ideia.
Toneco na expectativa, a boca era
banquete para moscas. Quase, quase.
Vamos pedir para cada pai fazer duzentos
adobes queimados. Mas a planta que trouxe para a latrina só vai gastar setenta
e cinco ou cem. O resto vai para o posto. Também já estou a sondar dois miúdos
que vamos mandar na Huíla fazer curso de enfermeiro. O meu pai vai patrocinar
viagem deles e curso lá. Assim, se o administrador não nos dar doutor nós
mesmos vamos resolver o problema.
- Boas ideias, Manzequeno. Boas ideias.
Amanhã vamos convocar o povo para saber das recomendações do Sô administrador e
das novas ideias do Sô secretário.
Mutúmbwa mandou Zezito, filho kasule,
exibir a senha.
- Papá, o tabaco está a queimar. -
Rapaz, rápido nas corridas, Zezito enfiou-se de novo na cozinha.
Toneco puxou pela mão do amigo e foram à sala almoçar. Era cabidela regada
com um vinho português. As ideias continuaram a correr. Tal chuva, tal rio
repleto de água farta.
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