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quarta-feira, abril 27, 2016

PARABÉNS MINEIROS ANGOLANOS

O meu sonho era o de ser engenheiro de minas. Ainda tentei inscrever-me no curso médio de Geologia e Minas, na ENP, Sumbe, 1992-3.
Não deu certo. Estudei e fiz-me jornalista.
O destino, porém, surpreendente, levou-me a trabalhar em Catoca, em assessoria de imprensa, onde fiz Dez anos. Acto contínuo, laboro hoje no Ministério da Geologia e Minas.
Deus escreve directo em linhas tortas. É como dissesse "não querias trabalhar em Geologia? Então trabalha. Mesmo não sendo geólogo ou mineiro, há lá tarefas a desenvolver!"
Felicito, por isso, todos os mineiros de Angola, cujo esforço e contributo vem sendo reconhecido pelo Governo e sociedade desde 1985, a 27 de Abril.
Erguei-vos Mineiros Angolanos!

segunda-feira, abril 25, 2016

10GRAÇA NO COME CENOURA


Aturei 'mbora bem o engarrafamento da “Bacia Come Cenoura”, que nos dias de chuva engole o asfalto em vez da hortaliça de quem recebe o nome.
Três horas e tal, a "caloriar" num carro com AC e tudo. Gasóleo agora é líquido precioso que requer poupança. Luxo fica só pela metade. Quando estava mesmo já no fim do sofrimento, um gajo a buzinar aos outros para terem mais atenção e eles a me buzinarem de volta, uns só mesmo de pirraça para espantar os nervos que tinham comido todas as unhas e quase a sangrar os dedos, estava já a entrar para o asfalto, quando ouvi na minha traseira esquerda cru-cru-cru- buá.

Um Rav 4 antigo, todo desmazelado, raspou-se no meu carro, até se estatelar no degrau que chamam de "pisa-pé": buá! E o homem não pára já? Não! Continuou.

Estava, afinal a ser puxado com corda de aço por uma carrinha de uma empresa. Saí foribundo da viatura, quase a lhe dar uns socos com a minha mão aleijada, mas o polícia que estava por perto me contrariou:

Não lhe bate a frente d'atoridade.

Então, camarada autoridade, manda-lhe pagar estragos que causou, senão vamos nos resolver mesmo já aqui. Esse carro tem nome da minha sofrida mãe. É de sofrimento. Não me foi atribuído pelo Estado, nem o apanhei só assim...

Aí, o homem do acidente exibe as cadapla e confessa:

Sou de boa fé. Me desculpa só. Também sou polícia, dos que guardam as empresas grande e o meu ganho é xis. Pior, acabei de enterrar a mãe. O meu passe e a carta de condução podem ir contigo. Me dá o teu contacto e um dia te procuro.

A Maria anda agora arranhada, como se tivesse lutado  com o António, seu finado marido de setenta e três-oitenta e dois. Já leva tempo, o homem nada.

 

- Melaço, Mela?! Não é que descobri que aquele tipo que danificou a lateral da viatura não é um gajo de  boa fé, mas um morador da Boa Fé?

- Quem te disse, se não te vi a sair?

- Sonhei filha. Sonhei. Foi a reposição completa do filme...

segunda-feira, abril 18, 2016

A REVOLUÇAO COM PEIXE E FUBA

Minha mãe, quando chegamos a Luanda, 1984, "recuados" da guerra do Libolo, vendia, à porta de casa, na rua da Ambaca, no espaço conhecido como Pracinha do Kalisange (reencontro), fuba que servia para a janta com o peixe vendido na praça das Corridas e ou no Tunga Ngó (a primeira é no Rangel junto ao Supermercado Nzala Ikola de António Silvstre. A segunda era em território do Cazenga pois ficava entre a linha férrea e o quintal das oficinas gerais do CFL, a espreitar a Escola 5. Essa era informal, sem bancadas e com muitos "gregos") pelas colegas da Velha Guilhermina.
 
Maria Canhanga, minha mãe, a caminho dos quarenta anos ainda, manhã cedo, ia com as colegas de pobreza a uns armazéns onde se vendia (desviava) milho e masa-a-mbala. Eu, filho mais velho, levava-o à moagem de onde vinha a confundir-me com a própria fuba que ela vendia.
Vezes tantas eu "aviava" também a fuba quando ela fosse comprar outro milho e não fosse dia ou hora de escola. E quando os odepês e bepevês faziam suas rusgas para levar o nosso ganha funje, a astúcia de levantar a bacia e correr para o quintal estava-me nas pernas. Era como o sardão que não anda às voltas.

Aos sábados, dia de honga, caminhávamos a pé. Rangel, Karyangu, Palanca, Sanatório, Kapolo, e chegávamos ao campo agrícola, também campo militar.
Poucos rapazes de hoje saberão o que é honga. A primeira lavra da minha mãe ficava nas imediações do Kapolo e cultivava-se mandioca, batata-doce, abóboras (cujas folhas se adiantavam ao estômago), jinguba, kingombo (quiambos), makunde (feijão frade), feijão, jimboa, etc. Parte da fuba de mandioca ia ao estômago. A outra era wenji (negócio).

Já ajudei a apanhar katatu (lagartas) em folhas de ditumbate. Também já escalei peixe e cuidei dele para que secasse e fosse enviado ao Libolo para troca com macroeira
Vivam as peixeiras, fubeiras e etc., grandes lutadoras contra a fome e a mendicidade naqueles tempos de aperto e muitas bichas nas lojas do povo onde só se comprava o que havia e não o que se pretendia.

Era ainda minha missão ir  à loja do povo (os supermercados daquele tempo) ir à padaria, ao talho, loja do gás  e peixaria onde as filas eram enormes, os empurrões e kisendes que não escolhiam nem poupavam idosos, grávidas e crianças, confundindo-se homens e pedras que representavam homens. Depois das compras, transportadas à cabeça ou carro-de-mão quando vizinho houvesse para emprestar, o tio mandava dar uma porção lá para casa.

Peixe sardinha frito no pão e um chafé? Bem-vindo ao estômago que não escolhia!
Essa crónica foi inspirada em outra de Osvaldo Gonçalves, filho da peixeira Guilhermina.
Com peixe e fuba se fez a Revolução!

segunda-feira, abril 11, 2016

DIALOGAR MAIS E DE FORMA DIRECTA!


Quem leu ou ouviu o último discurso do Presidente Eduardo dos Santos, em sede do Partido que suporta o Governo, o MPLA, reteve, entre outras passagens a orientação estratégica para que as partes, dirigentes e dirigidos falem mais e de forma aberta e inclusiva. Aliás, essa tem sido a postura do Chefe de Estado Angolano desde o início da sua Magistratura.  “É necessário mais diálogo, falar com os cidadãos num discurso directo e com palavras simples para os esclarecer sobre as causas das dificuldades que estamos a atravessar e sobre o que devemos fazer para resolver os problemas”, verbalizou o Presidente.

A meu ver, sendo que a informação é para as organizações uma vantagem competitiva, uma vez que um funcionário convenientemente informado reage favoravelmente aos estímulos que recebe, a comunicação sobre as boas práticas a observar na Instituição MGM e a correcção de atitudes perniciosas que se vão instalando como o absentismo (falta de assiduidade, pontualidade  e de comprometimento com o serviço público),devem ser tarefas diárias de todos os Líderes (formais e informais) para que a “Nossa Dama” esteja sempre na fila de frente quando se fale sobre o desempenho dos Departamentos Ministeriais.
E é materializando a orientação do Líder da Nação, que para nós MGM é já prática corrente, que vamos realizar no mês de Abril mais uma Assembleia de Trabalhadores em que serão dissecadas as principais preocupações e anseios do momento. À Assembleia de Trabalhadores seguir-se-á o Conselho Consultivo que analisará de forma minuciosa o que se fez, o que se está a fazer e o que deverá ser feito depois do encontro. É desta forma que dizemos SIM ao apelo do Presidente.

Cada Líder, independentemente das suas atribuições, deve considerar-se  um comunicador e um influenciador de seus liderados. Cada liderado deve conhecer e entender as dificuldades por que passa a nossa economia e cooperar, com a sua entrega e esforço laboral, na busca de soluções. Não reclamar daquilo em que não se coopera é o que nos dita o princípio do bom senso.
Só aqueles que ainda se mantêm distraídos não se deram conta das transformações que se estão a operar na nossa Função Pública. Esses colegas devem ser despertados pelos outros que estejam atentos às mudanças e, sobretudo, pelas Lideranças.
 
Um dia, não tarda, deixaremos de ter os livros de ponto descentralizados como acontece até agora.
Já falta pouco para que a duplicidade indevida de remunerações deixe de acontecer. Um levantamento e conformação de dados entre os constantes no Bilhete de Identidade e na Folha Salarial está em curso e deve abranger todos os organismos Públicos.

Um dia, também não tarda, só aqueles que realmente trabalham com zelo e dedicação terão a correspondente remuneração.
É TEMPO PARA DESPERTAR. É TEMPO DE DIALOGAR MAIS, DE FORMA ABERTA, E COOPERAR!

segunda-feira, abril 04, 2016

A PAZ QUE "ESTAMOS COM ELA"

O calendário corre. É Abril.
Os tugas que nos legaram a língua de que me sirvo para teclar e falar têm um marco em Abril chamado "abrilada". Está ligado à sublevação miguelista no período da monarquia (https://pt.wikipedia.org/wiki/Abrilada).
Para nós angolanos, Abril nos leva à paz que perseguíamos havia séculos. Primeiro registamos lutas entre povos que habitavam o mesmo território, depois a colonização, expropriação, tráfico de escravos e os pseudo contratos que foi escravatura interna, seguiram-se a luta de resistência à ocupação colonial, a luta pela independência (14 anos), guerra civil pós-independência (17 anos) e finalmente a guerra pós-eleitoral (10 anos). Porém, pelo método menos esperado, a paz chegou e já leva 14 anos.
É essa paz que todos queremos e precisamos manter que ocupa as palavras abaixo e vou recorrer às notas dispersas que conservo na memória.
Uma semana antes da assinatura do acordo formal em Luanda, estive no Luena ao serviço da LAC- Luanda Antena Comercial.
Dias antes, pela mesma emissora,  tinha estado lá a Paula Simons que depois fez a cobertura magna da assinatura do "Memorando de Entendimento do Luena",  no Palácio dos Congressos, em Luanda.
O Zé Rodrigues, Director de Informação, mandou-me num avião do PAM com carta de recomendação ao General Nunda que comandava o Estado Maior Avançado das FAA no Luena. Foi para mim um misto entre aventura e desejo de viver um dos momentos inolvidáveis da História do país.
Os homens da Unita estavam alojados, alguns, na Pensão Horizonte e outros no principal hotel da cidade, o Luso, sendo que as conferências de imprensa eram realizadas na sede do Governo Provincial Moxico. As conversas ou negociações essas decorriam noutro local, nas traseiras do edifício administrativo do Governo.
Vi e convivi com generais magros, desnutridos, com ossos desenhados, cabeludos, um pé na bota outro pé no chinelo, dormitando em beliches na Pensão Horizonte onde eu tomava refeições propositadamente para poder cair no seu engodo e chegar à palavra-testemunho aguardada pelos ouvintes da emissora.
Vi e entrevistei povos que chegavam todos os dias, heli-transportados pelas FAA, trazendo na bagagem apenas a vida e a esperança de uma vida melhor do que aquela animalesca a que haviam sido votados. Faltava-lhes tudo.
Conheci homens e mulheres cultos, bem falantes, com piolhos de roupa a percorrer-lhes o corpo.
Fiz quatro ou cinco dias no Luena e lembro-me de ter voltado a Luanda apenas com a roupa do corpo. Ofereci, peça a peça, o meu vestuário aos meus entrevistados no campo de deslocados que se erguera próximo do cemitério municipal e outros no edifício inacabado junto ao bispado.
Wambu Kalunga, S. Chiwale, M. Dachala, L. Gato e Kamorteiro são algumas das pessoas com quem falei no Luena, abordando a penúria dos dias de aperto, a magnanimidade do Presidente da República, a esperança de reerguer uma Angola em paz, curar as feridas e enterrar o machado da guerra. Pareciam todos bem animados: militares e populares vindos das matas.
Será que conservam o ânimo, o discurso e a mesma esperança?
 
"Um povo que ignore a sua História condena-se a repetir os erros do passado".