Tariro Ndoro (http://bestnewafricanpoets.blogspot.com/2016/02/em-serie-entrevista-em-profundidade.html?spref=fb): Há quanto tempo você escreve poesia
Soberano Canhanga: Escrevo poesia desde princípios da década de noventa do século
pasado. Porém, o lado artístico surge mais tarde, quando passo a usá-la como
forma de expressão das minhas captações sociais que não encontravam espaço na
prosa jornalística que é a minha profissão.
TN: Que tipo de poesia existe na sua cultura / país e que
influência teve na sua escrita?
SC: Os verdadeiros poetas de todo o mundo são livres
no sentir e na expressão. Assim é em Angola. Marcou o meu período de afirmaçao
intelectual a poesia épica, de exaltação aos feitos patrióticos, bem como a
lírica, com as suas “canções” à esperança por dias de paz e melhores. O Amor e
a Pátria juntavam-se num mesmo gérero. Isso foi fundamental para despertar o
meu lado artístico que andava incubado.
TN: Que influências musicais (por exemplo, hip hop ,
batida da poesia ) urbanas teve a sua escrita?
SC: Os versos e as estrofes da poesia dos anos
oitenta e noventa do século passado davam corpo à música mais difundida pela
Rádio. Era o que formava a nossa consciência de novos cidadãos do país ainda
embrionário. Os versos cantados forjaram homens que travaram ventos...
TN: Para que tipo de estilo de escrita ( verso livre ,
lírica, etc) você mais se inclina?
SC: Embora tente, em alguns textos, exprimir-me de forma
conservadora, seguido a harmonia e a rítmica que marcou a poesia do século XX e
anteriores, é na liberdade do verso que mais me encontro. Para mim, a poesia
nada mais é senão a conituidade da prosa e, sobretudo, da crónica. Sou um
cronista. A poesia serve para dizer, às vezes, em poucas palavras, o muito que
não cabe numa crónica. É o refúgio silencioso de quem tem muito por dizer.
TN: Quais os escritores que influenciaram a sua escrita?
SC: Sou um leitor heterodoxo, tendo lido
Textos de Camões, Fernando Pessoa, Eça de Queirós, Alda Lara, Noémia do
Espirito Santo, Agostinho Neto, Alexandre Dáskalos, Aires de Almeida Santos,
entre outros lusófonos. É essa imensidão do secular verso lusófono que me
influencia e vai continuar a fazê-lo.
TN: Como é que o status de imigrante / expatriado /
refugiados influenciado você está escrevendo?
SC: Não taxativamente o estatuto de imigrante ou
refugiado. É a condição de ter chegado à grande cidade de Luanda na condição de
deslocado (emigrante interno) que despertou em mim a necessidade do registo das
captaçoes sensoriais e emocionais. Tornei-me um coleccionador de cenas do
quotidiano e, à certa altura, senti a necessidade de ir registando em versos ou
prosa, aquilo que era e é o país do meu tempo. É também uma forma de fazer
história.
TN: Conte-nos sobre seus poemas e se você já leu a
antologia “Novos Melhores Poetas de África”. O que você achou sobre ela?
SC: Ainda não li o livro.
Lembro-me ter remetido três textosversificados que acabaram aprovados. Se bem
me lembro, um é Mano Décimo e o outro é À hora do grito. Mas há um terceiro de
que já não me lembro o título.
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