Translate (tradução)

segunda-feira, fevereiro 08, 2016

CARTA AO AVÔ KAZENZA

Crónica 02
A chegada à casa do nosso anfitrião, no Luvangu, não foi difícil. A indicação que levávamos era para “ir à polícia e pedir ajuda”. Diligentes e atenciosos, os homens da farda azul  cuidaram de nos acompanhar até à vivenda que ocupa um dos nobres espaços da rua Nossa Senhora do Monte. Antes, pelo caminho, o carro policial pára e recolhe um casal que caminhava sobre a chuva.
- Já não se fazem polícias como esses! – Exclamei.
Vim a saber que aquela rua tinha registado nos últimos dias alguns crimes contra cidadãos que se fizeram a caminho no silêncio da noite. Era por aquela e outras razões que merecia constante patrulhamento e atenção redobrada aos cidadãos.

Cansado, devido a viagem, é debaixo da colcha que redijo a carta para o meu avô Kazenza, cujo neto, destacado na Huila em missão de Estado, nos acolhia em sua residência oficial.

Contaram-me. Não te ouvi dize-lo, pois era infante, que apreciavas tanto o teu filho varão que chegaste a descreve-lo como alguém tão culto, tão culto, que "escrevia até debaixo de água". Também me contaram que dizias às pessoas que a tua nora era tão linda e tão cabeluda que "estando na cozinha, a transa se estendia até à sala".
Ouvi ainda que o avô Soares Kazenza, pai de Nzunba, a senhora que me cuidava nas ausências da minha progenitora e me defendia d...as porradas de Kilombo, também era um filósofo e curioso, chegando a desmontar um rádio para ver quem lá estava. Essa estória já a escrevi no meu "O sonho de Kaúia".

Sou o filho daquela tua filha (sobrinha) que por pouco te copiava na imaginaçao e ficção, a Kilombo do Kitinu.
Avô, é verdade que quando ja velhinho, regressado ao Kuteka, metias milho na entrada da tua casota para apanhar a primeira galinha que procurasse encher o papo? Ouvi isso.
Disseram que o avô fechava de imediato a porta com a bengala que te ajudava a andar e os aldeões, que muito te amavam e respeitavam, apenas se apercebiam do sumiço do galináceo quando se deparassem com as penas.

Partiste sem que bebesse da tua fonte, avô. Seguiste o Kitinu sem que eu tivesse idade para te ouvir e te retratar suficientemente nas minhas crónicas.
Tenho, porém, uma mensagem para te dar, avó, que será na variante do teu Kimbundu de Kuteka.

Omon'a, Nzumba, wakiti. Manu Sabalu-a-Soba, uku amundumisa ku tuma, fuka yenene.
Kekayo!
(A tua filha, Nzumba, tem um filho honrado. O mano Sabalo, filho do Soba, foi destacado para liderar numa terra enorme. Repara-a!)
Desperto suado e rápido dou conta de que tinha sonhado.

 

Sem comentários: