Com esse
agravar da vida que se aprimora, dia após dia, com os discursos políticos e
económicos todos direccionados à contenção de gastos e poupança,
Com a crise financeira que
estamos com ela instalada nos nosso bolsos e fogões, poupando os burgueses, mas
depauperando a “pequena-burguesia” que nos dias de hoje não passa de uma classe
média-baixa, vou ensaiando medidas de austeridade que, espero, ajudem a
atravessar o longo deserto que se vislumbra adiante e que pode conflituar com
os hábitos de consumo instalados em muitos lares.
Pensei no
regresso da "kandimba" para medir o arroz e no copo de
"reco-reco" para o açúcar; na recolha da palha da serração (restos de
madeira) para compensar o carvão e o gás; recorrer às escolas e universidade
pública (quanto dói fazer ver o filho a fazer o propedêutico e o teste e ficar
sem o nome na lista dos apurados por falta de “empurrão”?) em vez dos colégios
e o recurso aos autocarros em vez de táxi e carro próprio para a digníssima.
Fiz uma lista de onde
cortar ou poupar e rezava:
Corte no gás: a razão é
que nos tempos da “pequena-burguesia” instalada na pós-ditadura do
proletariado, a água fervia cerca de três horas, mesmo se sabendo que ela entra
em ebulição aos 100 graus centígrados. A canalizada tarda em chegar e mesmo que
a tivesse, conta-se, que não se recomenda ao estômago urbanizado.
Corte na comida: cheguei à
conclusão que mais comida vai ao lixo do que ao estômago (em minha e muitas
casas). Basta ver quão repletas andam as lixeiras e quão gordinhos andam os
ngulus desgovernados. No natal, por exemplo, até o cão rafeiro de casa negou-se
a comer carne. Apenas as galinhas estavam com os dias contados por causa das
cabidelas diárias. Medir o arroz, o açúcar, o chá, o leite, e etc. seria um
caminho para a poupança.
Corte nos combustíveis:
aqui a coisa ficou complicada pois os autocarros de transporte público urbano e
peri-urbano há muito se demitiram da sua função. A empresa distribuidora de
energia, mesmo refundada, ainda não deu ar de sua graça e a luz continua no
pisca-pisca forçando o gerador a gemer todas as noites. Mas sempre se encontram
oportunidades de melhorias como desligar o gerador à meia-noite e a Senhora
deixar de usar o carro aos fins-de-semana.
Corte nos gastos com
educação: argumentei que toda a minha trajectória foi feita no ensino Público e
quando mudei para a privada era já em “segunda agregação” e em tempo de vacas
nutridas. Todos que iniciassem um novo nível deviam ingressar numa escola ou
universidade pública, beneficiando, enquanto ainda der, de uma preparação
propedêutica, se necessário.
Corte nas “kapurenquanto”:
essa rubrica foi-me imposta mas arguiu que não precisava de fazer parte da
lista por ser uma rubrica há muito extinta.
Apresentada a lista
ao conselho de família, os filhos reclamaram que estavam a ser despromovidos.
Acusaram-me de antiquado e de estar a igualá-los com quem não disseram. A
mulher apresentou igualmente as suas objeções.
- Casa sem
energia à meia-noite é escura e propensa a intrusões. Fim-de-semana sem carro é
doloroso e mais. As vizinhas acabam confundindo poupança com desgraça. Filhos
sem colégio deixam de ter amigos recomendáveis e se tornam rafeiros (?),
argumentou a digníssima chefe do poder executivo caseiro.
Sem os
argumentos traduzidos em factos, vou agora procurar por uma consultoria
financeira ou por uma escola de formação para levar a família a reaprender a
vida "proletária" que se avizinha com o "derrube" das vivências
"pequeno-burguesas" que se foram instalando no kubico nos últimos
anos de vivência folgada da economia petro-diamantífera. Tem de se voltar às origens!
Obs: adaptado e publicado no Semanário Angolense, de 24.01.2015, sob título "Plano Samanjata para a crise"
Sem comentários:
Enviar um comentário