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sexta-feira, agosto 29, 2014

A VISÃO DE ÁLVARO ALVES SOBRE O RELÓGIO DO VELHO TRINTA

(APRESENTAÇÃO DA OBRA AO LEITOR)

Num olhar de soslaio ao “Relógio do Velho Trinta”, meus olhos de ler depararam-se com a frase “álcool só na ferida”. Esta frase chamou-me a atenção e convidou-me a folhear cautelosamente o texto, pois, diz Fernando Pessoa, que é:
Um prazer
Não cumprir um dever
Ter um livro para ler
E não fazer!
Sim! Este mundo dotado de uma pseudomania, que faz do homem actual um ser aparente, para quem o ter releva o ser, o agir antecipa o pensar. Nesta mundividência globalizante vivemos que nem um rio que corre bem ou mal.
Portanto, “Livros são papéis pintados com tinta. A distinção entre nada e coisa nenhuma”[1]. Não ler um livro sob pretexto de não ter tempo ou mesmo esta ser a actividade dos loucos literatos é pedir de Cristo desistência da vida. Porque sem leitura não há vida.
A leitura é um instrumento de capital importância para a vida humana. A partir do momento em que a pessoa nasce, ela permite-lhe dar sentido a todos aspectos da realidade objectiva.
No decorrer da existência humana a leitura continua sendo essencial para que não só se possa conhecer, mas também interpretar o mundo, fazendo leitura dos objectos, das pessoas, do ambiente, das situações e de tudo aquilo que lhe rodeia.
A partir desses factos se pode caracterizar a leitura como uma competência necessária e de extrema importância na vida de um sujeito, dentro e fora da sala de aulas, pois ela proporciona descobertas do meio circundante o qual, antes da leitura, era desconhecido pelo leitor.
Os soberanos olhos de Soberano Canhanga fizeram uma leitura pontual da realidade objectiva. Captaram do sentimento popular cenários relevantes para produzir esta obra literária, com que nos mimoseia hoje.
Se por um lado rende homenagem ao Jornalista da LAC Pedro de Menezes, seu colega que desistiu da vida, no vigor da sua juventude. A obra traz a desnuda Angola de olho no assunto, “visto claramente vendo”[2].
O que assistimos nos dias de hoje nos óbitos, os ricos choram pelo nariz, pois é nele que mais se limpa e não nos olhos. Pagam pessoas, as ditas carpideiras, para chorar de mil, cinco mil ou dez mil Kwanzas. Como quem diz: chorar um ente querido é coisa de pobres. Afinal, já temos em Angola velório chique.
Este é um exemplo claro de estarmos a viver uma conturbada fase de desordens morais, em que cada um ousa em querer tudo fazer em nome da liberdade. Terá isso algum legado?
Nisto, no entanto, impõe-se-me obviar que nascer pobre nunca foi e nem será apanágio dos males a quinhoados, nem mesmo escape para heresias dos bem-posicionados da sociedade.
O que vemos nos nossos dias: bufet para um óbito, yapa ofeka yapwa akepa olombwa vyafetika okutakila omanu[3]… por isso, álcool só na ferida.
Mas… “vongongo ya yehova levi vyatungamo, omanu lava va tungamo[4]”, alguns vivem como querem e outros como podem.
É imperioso fazer-se ecoar os males da vida, em torta de acepipes a baço – negro feitos de necessidades perenes, senão vejamos:
Ø  O homem vive sempre insatisfeito e, isso, é um facto permanente, procurar algo novo e mais perfeito.
Ø  O amor no que homens e mulheres colocam a sua esperança de felicidade, por fim, se revela decepcionante para muitos. Logo, o amor se torna na indústria fornecedora de ilusões, fracassos, lágrimas, ansiedades, queixumes e desgostos.
Ø  O homem vive na procura do poder. E quando se lhe é dado um pouco de poder, homem ou mulher se revela depressa a sua incapacidade de olhar para o ser humano subordinado como um lixo. Enfim é uma espécie de cegueira no ajustamento do desejo de viver cada vez melhor e a forma de o conquistar.
Ø  E para salgar o pão que o diabo amassou: o mal do mundo circunscrito nas inundações, vulcões, doenças incuráveis, estiagens, acidentes e até a própria morte.
Estes aspectos, animaram a consciência atenta do Sujeito literário, que numa leitura discreta da Mwangope, captou das algazarras do musseque da alma popular, traçou um roteiro, com Satula, na vida recta e curvilínea, bravo combatente, conquistador de vitórias, e hoje consumindo migalhas que nem “Lázaro em casa do rico[5]”.
Igual a Satula quantos antigos combatentes da Ngola Yetu, choram as malambas da vida no walende? Quantos dele se riem e zombam? Estes são mambos da nossa banda.
O relógio do velho trinta, é semelhante ao:
Ovolu vateka teka … vatekela ko kuyaka lomwe ondete vali[6] ou mesmo
olha catuta, puxa catuta… arranca catuta… são problemas…
É a luta pela sobrevivência e a contradição natural: ser proprietário de uma agência funerária e augurar que mais gente morra para as panelas em casa não baixarem de divisão… é caso para se dizer:
A glória desta vida é uma miséria ínfima.
A tristeza, nossa pena íntima;
O sorriso, uma alegria do acaso
Morre um no bairro: aleluia! O caixão vai ser comprado. Hoje há pitéu em casa. Mas sem compatriotas mortos, temos walende connosco, para relaxar as malambas da vida.
É assim na banda. E esses elementos servem de base para o escritor rabiscar com o próprio punho os cantos nos encantos e os cantos nos desencantos, tudo porque na história da nossa vida aparecem muitos profetas: uns com soluções e outros com distorções.
Mas, o tempo no demérito das circunstâncias mistura os feitos e os efeitos. As vitórias nos campos de batalha e a fome em casa, um esforço sem recompensa pinta o quadro sombrio de Satula, que viu as iniciativas tentadoras do diabo visitar seu coração.
“Elevo os meus olhos para os montes
De onde me vem o socorro?
O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra[7]
Meus senhores, minhas senhoras!
Perante este cenário, denota-se no Relógio do Velho Trinta, obra que não deixa seus créditos em mãos alheias, responsabilidade, solidariedade, sinceridade, compreensão, respeito e AMOR, acima de tudo. Sim! É isso que frui no Guerrilheiro, o orgulho de ter lutado por Angola. Demonstrar solidariedade, dar o mínimo a quem precisa é um acto de nobreza. Deixemos as vaidades para o mundo. Com os nossos compatriotas repartamos o que temos. Lembremo-nos que a fartura individual é sorriso de gargalhada de boca fechada, e se isso é possível, então, seja o primeiro a tentar.
Assim, se confirma a preocupação do autor atento às manifestações da alma popular no dia-a-dia da sua gente, através da arte clássica em tempos modernos, fazendo convite aos cristãos, políticos, civis e todas as forças viva da Nação Angolana, para participar do processo de preservação, resgate, promoção e transmissão da nossa identidade cultural às gerações jovens e quiçá as vindouras, tendo sempre presente a necessidade de fazer-se alguma coisa que nos dignifique. É o compromisso do homem consigo próprio e com o seu Deus-criador.
Caro leitor! Ciente de que há-de fazer uma boa leitura, convido-lhe, outrossim, para aquisição deste livro, e seja você também um participe activo na construção da glória e felicidade do povo Angolano, na certeza de que havemos deler cada vez mais para erradicar a pobreza intelectual”.
Termino como comecei com Fernando Pessoa:
“Mais que isto
É Jesus Cristo
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca[8]”…
Boa leitura.
Graça e Paz!
Kuito, 16 de Agosto de 2014
Álvaro Alves
Escritor e poeta




[1] Fernando Pessoa, in poema Liberdade
[2] Luís Vaz de Camões, in os Lusíadas
[3] No país já não há ossos, os cães começaram a comer pessoas.
[4] Salmo 24
[5] Lucas, bíblia sagrada
[6] Trecho da Musica de Justino Handanga
[7] Salmo 121
[8] Poema liberdade

segunda-feira, agosto 25, 2014

A TERRA, OS QUE FORAM, OS ARTISTAS E OS QUE FICARAM E MANDAM NELA

Os nascidos em Angola e hoje residentes em várias partes do planeta têm e alimentam um forte sentimento de pertença ao país e às circunscrições nativas, ajudando cultural e espiritualmente para a elevação das localidades em que nasceram. Ajudam os que cá ficaram e promovem seus feitos ao nível internacional.
Isso é excelente.
Os artistas, dentre os que ficaram, vão transmitido aos que partiram, através da música, literatura, escultura, pintura, cinema, etc., os aspectos marcantes do país e das circunscrições fazendo-os conhecer ao nível  mundial e incentivando o surgimento de novos valores ao nível das artes e até mesmo da política.
Isso é bom.
Dentre os que ficaram, alguns dos que mandam nas circunscrições, perderam, entretanto, o gosto pela arte e pela elevação cultural.
Artista?
Para que te quero?
Para que serve?
Que vantagens materiaistraz?
Só isso pode justificar que um libolense com quatro livros publicados lance, em primeira mão, dois em Luanda, um em Saurimo e outro no Kuito; tenha um livro patrocinado pelo Governo do Bié e nunca tenha recebido sequer um convite das autoridades de Sumbe ou mesmo de Kalulu, com excepção duma presença no FestiCalulo 2012, organizada pelos libolenses na diáspora.
Assim vamos tratando os que connosco ficaram na construção do país e das circunscrições ...
Pedra cimento e cal são tão necessários quanto as artes que mostram e levam um povo, uma comunidade, ao convívio universal.
Pensemos também nisso.
Não estar atentos aos artistas ou aproveitar-se deles apenas para fins propagandísticos "é kapion", como cantaram Beto e Moniz de Almeida.
Por isso, também merecem o voto do leitor desse desabafo.

segunda-feira, agosto 18, 2014

O RELÓGIO DO VELHO TRINTA NA CRÓNICA DO AUTOR

Nem a mulher nua, lindamente esculpida em bronze, enfeitando com os seus seios-laranja o famigerado “Largo da Pouca Vergonha”, afugentou os bienos mais conservadores que foram assistir a publicação do romance "O Relógio do Velho Trinta" e a premiação da corrida de atletismo alusiva ao 89º aniversário da cidade do Kuito. Todas as idades estiveram no largo, agora rebaptizado, pelo menos oficialmente, por Espelho d´Água.
Os jovens perdedores da corrida xingaram a organização pelo fraquejar de suas próprias pernas enquanto os vencedores nas distintas categorias tiveram felicidade a dobrar: o prémio foi pecuniário e, aí mesmo, perante “O Relógio do Velho Trinta”, não tiveram como não fazer gosto à leitura. Acederam ao convite formulado por Álvaro Alves, jovem poeta do Bié que lera o romance de véspera, e fizeram uma fila para o livro e a dedicatória.
- Soberano Canhanga traz a vida nas nossas embalas, nas vilas e nas cidades. Retrata a dureza da vida na tropa e nas cidades fustigadas pela guerra, como foi a nossa. Escreve sobre o ‘salve-se quem puder’ que assolou e assola ainda a nossa sociedade. Reporta-nos sobre o negócio com os mortos ou a alegria com suporte em tristezas alheias... O nosso autor convidado às festas do Bié, traz-nos também a realização de dois: o primeiro é o seu que consiste em homenagear um colega finado. O segundo é do personagem Clovis que sonha, escreve e publica um livro… Espero que leiam e sigam o conselho de Clovis que nos apela no fim da obra em presença que “Álcool só na ferida!” - Concluiu o também director provincial da Cultura, na presença do vice-governador para a esfera política e social, Carlos Ulombe da Silva.
- Wiñi wo Vye kalungi! - Saudei ao que em coro a multidão respondeu:
- Kuku!
- Vim cumprir o que prometi aos bienos e ao governo da província que co-patrocinou o meu livro. Ele reporta, de forma ficcionada, tudo aquilo que acabou de dizer o amigo Alves. Tem muito mais. Tem também ideias, experiências e conselhos para que possamos fazer mais do que aquilo que estão a fazer hoje os nossos mais velhos. Temos de ler muito. Ler livros académicos, lúdicos, filosóficos, religiosos, etc. Quem lê transfigura-se. Aprende sempre alguma coisa e isso fá-lo tornar-se pessoa diferente.
Mais do que vender livros vim fazer amizades e fazer novos leitores. Muito obrigado ao governo, muito obrigado aos bienos. Ndapandula Ciwa! – Despedi-me para atender os potenciais leitores, já fartos da manhã de sol ardente.
Perto de cinco dezenas de assinaturas e dedicatórias, entre vendas e ofertas. Antes de arrumar as caixas, o director da cultura faz outro apelo.
- O camarada escritor tem de estar presente, à tarde, no recinto de festas onde montamos já um espaço para expor o livro. Quem não pôde comprar  agora vai ter a oportunidade de faze-lo durante os dias de festa. – Apelou o homem da cultura.
O espaço novo, construído à saída da cidade, entre a unidade penitenciária e o mercado do Cisindo, apresenta acessos asfaltados. O largo, também asfaltado, comporta marcações para dois campos para desportos de sala. À volta, foram montadas tendas e barracas em que se vendem produtos predominantemente agro-pecuários e artesanais, notando-se ainda exposições de veículos automóveis e equipamentos agrícolas mecanizados, o que enche de alegria os habitantes do Kuito que vêm a sua cidade a crescer.

A rádio local não quis ficar atrás e juntou-se à “festa do Relógio”. No estúdio improvisado, fizemos um pequeno concurso. Maria de Fátima teve de apanhar dois kupapatas para receber das mãos do autor o livro que já estava autografado. Ganhou ainda a promessa de receber outros títulos do autor à medida que fosse trocando impressões sobre o livro lido.
Quando o sol de sábado, 17 de Agosto, se despedia, Álvaro de Boa Vida Neto chegou ao local de festas e tratou de visitar todos os expositores.
- Vou ler e depois lhe faço chegar os comentários. Não pare de escrever e sempre que precisar da nossa ajuda nos contacte. – Despediu-se o governador do Bié, deixando o meu coração aos pulos.

Já com “O Relógio do Velho Trinta” exposto até 31 de Agosto no recinto de festas do Bié, decidi voltar ao Largo Espelho d´Água. Havia água límpida nos repuxos, mas o espelho que mais atraia as crianças, jovens e idosos de todos os sexos era mesmo a estátua da linda que “retirou a roupa de forma desavergonhada”, dando o nome ao espaço.
Foi bom ter visto jovens e adultos sem vergonha de leitura, dando-me certeza de que com mais campanhas e palestras nas escolas e universidades o Bié terá mais leitores e mais conhecimentos.
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Sobre o livro

A literatura não é apenas um exercício lúdico. É também uma das vias de registo histórico, pois os escritores, partindo da realidade tangível e imaginável do seu tempo, criam e recriam cenários e personagens verosímeis que podem ajudar as gerações vindoura a compreender e estrutura social, política e psíquica do tempo descrito. É o que os meus leitores de amanhã e alguns de hoje encontrarão em “O Relógio do Velho Trinta”.
E como o sujeito narrador é o mesmo nas obras de Soberano Canhanga, os leitores mais atentos descobrirão uma espécie de continuidade entre o romance de estreia “O Sonho de Kaúia”, onde o personagem principal, Kaúia, pretendia ser jornalista e  “O relógio do Velho Trinta” cujo sonho de um dos personagens é o de ser escritor, ou seja, escrever e publicar um livro. Será que chega lá? Esperemos que, no mínimo, Clovis se esforce e chegue ao próximo livro.

O que peço aos leitores de “O Relógio do Velho Trinta” é que cheguem ao fim do livro, juntando e separando as várias estórias que o  tornam rico em vivências e memórias ainda recentes.
"O Relógio do Velho Trinta" é também um “termómetro” que mede e nos apresenta “temperaturas” sociais e situacionais dum território que se assemelha com o nosso país, Angola, e com suas gentes. É uma narrativa sobre reencontros e desencontros…


Soberano Canhanga
Kuito, 16 de Agosto 2014.
 

sexta-feira, agosto 15, 2014

FAIXA DO KAMARTELO

Quem vê as imagens reais ou fotográficas, a primeira ideia que lhe vêm à cabeça é sobre a Faixa de Gaza, no Oriente Médio.
Embora essa associação possa parecer deslocada há  algo de comparável entre o bairro demolido e a Faixa de Gaza.
Na faixa de Gaza os israelitas deitaram edifícios a baixo com suas mortais bombas e morteiros disparados por tanques.
Numa pequena faixa, em Luanda, entre Urbanização Nova Vida e vala do Katin-Ton, casas de chapa e prédios de ferro e concreto foram levados ao chão, ao que me disseram, obra da  fiscalização do Governo Provincial de Luanda, a favor da imobiliária.

Tudo quanto sei, a urbanização Nova Vida tem já mais de DEZ anos, não tendo aquelas construções (as de aço e betão) acontecido em uma noite, fora do alcance visual dos fiscais e demais interessados naquelas terras que dizem terem sido "invadidas" depois de se tornarem propriedade da imobiliária.
 
Só pergunto aos meus botões, por que deixam construir, seja de forma legal ou ilegal, para partirem as habitações quando as pessoas se preparam para festejar  o alcance da casa própria? Por quê?
 
E os escombros e os lamentos estão lá ainda presentes!

domingo, agosto 10, 2014

LEMBRANÇAS

Em 1984, ainda kandenge, fugíamos da Unita, percorríamos o leito do rio Kazondo, afluente do Riaha, entre as antigas aldeias de Rimbe e Katoto, na comuna da Munenga/Libolo. Capim alto, Janeiro ou Fevereiro, marcha indiana, coluna por um, evitando o asfalto onde o encontro com os homens de quem nos apartávamos podia acontecer. Cantava eu, descontraidamente na minha inocência, o "se wala ni kakinhendu..." de Robertinho.
Cantou e encantou. Até salões de casamento se abriram com suas músicas. Aos que combatiam deu alento e alegria. Proporcionou momentos de descontracção aos "kwembas". Se calhar os "doutro lado" também ouviam e dançavam  suas melodias.
Aos que estavam nas cidades e nas aldeias alegrou e distraiu. Interrompeu malambas que podiam criar maiores frustrações. Suas músicas foram analgésicos. Foram ópio em doses próprias e em momentos próprios. Robertinho cumpriu, como músico de intervenção com vocação militar, a sua missão. Foi usado?
- Não sei. Espero que tenha sido pago ou no mínimo recompensado.
Era e é ainda muito querido de ex-FAPLA's e gente (dikotas e kandenges) daquele tempo.
Parabéns Yuri Simão por tê-lo convidado para animar o Show de Agosto. Robertinho e seu  amigo Mam Prole, Tenho-vos.
 

segunda-feira, agosto 04, 2014

LENTOS OU QUASE PARADOS


Depois de substanciais melhorias, há quatro ou cinco anos, resultado da construção da "autoestrada" com  duas faixas em cada sentido e com as novas urbanidades ainda desabitadas, eis que o trânsito automóvel em Luanda volta a piorar dia após dia.
Basta notar que faz-se cada vez mais tempo na estrada para se chegar ao destino. No notar quantos carros entram mensalmente e quantas ruas ou estradas são melhoradas.
Importa verificar  que mesmo se tendo exigido o pagamento do seguro automóvel, que se apregoava que viria a diminuir a quantidade de carros na via, a coisa tende a piorar.

Basta ver quantas ruas estão esburacadas e aguardando pela chegada da chuva para piorar. Ressalta olhar para a quantidade de pessoas que atravessa pela plataforma rodoviária, por falta de passadeiras superiores (pontes) ou ignorância dessas aí onde elas existem.

Vejo também acções como a selagem e resselagem de ruas interiores de alguns bairros como o de Viana. É bom porque tal acção alarga o casco urbano e descongestiona o trânsito. Mas é preciso que sejam construídas infraestruturas para drenagem de águas pluviais à dimensão dos fluxos e que se faça uma manutenção preventiva e correctiva permanente a fim de que tais vias e não se degradem antes mesmo da conclusão das obras.
É também necessário que se reparem as estradas e ruas interdistritais e intermunicipais, paralelas às que existem hoje, conferindo opções aos utentes das vias e maior fluidez do trânsito.
Hoje, quem sai do Largo da Independência à vila de Viana tem apenas uma opção, uma via, que é a Deolinda Rodrigues (Estrada de Catete). O mesmo se passa em relação a Mutamba/Cazenga cujo transito passa única e obrigatoriamente pela Hoji-ya-Henda (Avenida Brasil), Da Baixa/Bungo a Cacuaco também só se pode passar pela Boavista-Petrangol, sendo que o acesso a "autoestrada" fica obstruído pelos inúmeros congestionamentos até a atingir (visto ser apenas via circundante). Custará tanto assim projectar outras vias de igual dimensão e valor?
Já há quem faça duas horas do Dondo a Viana e quatro horas de Viana a Maianga. No mínimo isso era de evitar pois de Luanda ao Dondo são 186 Km e de Viana a Maianga apenas uns 15.
 
Da forma como as coisas se apresentam iremos e voltaremos cada vez mais lentos.
 

sexta-feira, agosto 01, 2014

CORRENTEZAS DA INFÂNCIA

Mabubas da minha infância. Nunca te vi ainda. Só te conheço pelo que de ti ouvi contar.
Algumas vezes desisti de estudar por causa da tua energia. Sempre que os “carcamanos e kahuhus” minassem e rebentassem os postos de energia de alta tensão da linha de Kambambe, era o fruto das tuas turbinas que iluminava Luanda. Na altura não era ainda tão "arcada e parabolizada" como hoje mas ja era a maior entre os kimbus de Ngola.
Tua pequenez a lutar contra a grandeza de Luanda fazia com que as lâmpadas apresentassem apenas o filamento aceso, apresentando uma luz amarelenta sem força para mostrar aos olhos o quanto a ausência do Sol esconde aos homens.
Mabubas do meu kimbundu e correntezas do luz e tano estrangeiro! Que é feito de ti, hoje?
Kambambi anunciou férias pequenas para aumentar produção nos dias que vêm. Ver-te-emos invadir novamente nossas casas? É tempo de frio. Teus inimigos aparelhos de frio estão em gozo de férias merecidas.
Mabubas! Estudei-te na Geografia da quarta classe. Já estiveste entre as  sete "maiores" hidroeléctricas de Angola, ombreando com Kambambi, Biópio, Lomaum, Matala, Luachimo e Ruacaná. Ngove, Kapanda e Chicapa são kanukas desses tempos. Laúca nem “pai e mãe” se conheciam ainda.
No discurso megalómano doutros tempos até a  açucareira Heróis de Kaxito, tua vizinha, era "capaz de fornecer o produto a todo continente africano".
Grandes tempos, minha Mabubas...
Obs: Texto escrito a 20.07.2014. Nesse dia houve corte geral de energia eléctrica em Luanda, motivado por trabalhos de manutenção na hidroeléctrica de Kambambi (Kwanza-Norte).