Três anos depois, voltei ao Kwito, Vye. Não foi uma viagem pacífica como a última em que o meu Nissan Almera se fez deslizar alegremente pelas estradas ainda a cheirar asfalto. De Luanda ao Alto Ama (Huambo) há buracos que já preocupam e que podem provocar mais dores de cabeça ainda. Do Alto Hama ao Mbalundu, Kacyungo, Cingwari e entrada do Kwito a vida na estrada é outra. Um mimo. Um mimo que perde graça apenas dentro da cidade, com maior pendor para os desfiladeiros das águas pluviais.
Apesar de possuir estradas resseladas, na cidade do Kwito há novos buracos que reclamam por reparação, sendo a rua Silva Porto um exemplo do que está mal e que precisa, com urgência, da mão de quem sabe e tem poder, antes que o asfalto desapareça.
Entre melhorias, assinalo a semaforização das ruas do casco urbano. Os semáforos são alimentados por placas solares. Nota positiva. Os bienos me parecem mais orgulhosos de sua terra e mais alegres. Há coisas novas como a nova cidade que se ergue no Cisindo, à entrada da antiga Silva Porto.
Em missão fúnebre, desloquei-me a Kamundongo, missão evangélica (IECA) que fica a 22 km da cidade de Kwito. Aqui, o que mais me despertou a atenção foram as vivências dos "missionistas", o passado, o presente e o legado histórico. Vejamos:
1- FORMAÇÃO ACADÉMICA E POLÍTICA- Só conhecendo-se e conhecendo o mundo à volta e as suas relações de interdependência, o homem se podiam aperceber da sua situação humana e social. Quando o governo salazarista estava “concordado” com a igreja católica, as missões evangélicas desempenharam um papel relevante na formação e despertar do "homo angolanus".
- Com o conhecimento sobre a natureza, os angolanos ganharam consciência sobre a situação política e social, dando vazão à génesis do nacionalismo. – A repreensão pidesca contra os iluminados nacionais negros levou à terra a ideia de uma revolução política não violenta. Os iluminados da missões sentiram-se na obrigação de servir de candelabros para outros angolanos na grande marcha para a liberdade, quer ensinando-os a ler e escrever, quer politizando-os.
2- CAMPO ESPIRITUAL/RELIGIOSO E SOCIAL- Os negros africanos ganharam conhecimento/orientação para explicação monoteísta da existência humana, bem como sobre a vida ultra-tumba.
- Foram incutidos sobre a missão social e fraternal, fundada na igualdade entre os seres humanos e necessidade de partilha equitativa dos recursos e apoio àqueles que mais carências têm em termos de recursos para a sobrevivência (caridade).
- As crenças pagãs foram substituídas pela crença na ciência e na teologia e os hospitais substituíram os “ovimbanda”, proporcionando uma vida com maior qualidade.
Pelo acima enumerado e muito mais, acho mesmo que os jornalistas angolanos deviam visitar missões protestantes como as do Késua (metodista em Malanje), Cileso, Voga, Cisamba, Dondi, Kamundongo, Cilume e outras missões evangélicas, para as conhecer e dar as dar a conhecer. Pois foi grande o papel desempenhado por aqueles templos, escolas e hospitais para a formação académica, intelectual e espiritual dos angolanos do planalto e não só.
OBS: a grafia dos topónimos obedeceu ao alfabeto das línguas bantu.
Nova cidade do Kwito |
Mbalundu: monumento do soma Ekwikwi II |
Apesar de possuir estradas resseladas, na cidade do Kwito há novos buracos que reclamam por reparação, sendo a rua Silva Porto um exemplo do que está mal e que precisa, com urgência, da mão de quem sabe e tem poder, antes que o asfalto desapareça.
Entre melhorias, assinalo a semaforização das ruas do casco urbano. Os semáforos são alimentados por placas solares. Nota positiva. Os bienos me parecem mais orgulhosos de sua terra e mais alegres. Há coisas novas como a nova cidade que se ergue no Cisindo, à entrada da antiga Silva Porto.
Em missão fúnebre, desloquei-me a Kamundongo, missão evangélica (IECA) que fica a 22 km da cidade de Kwito. Aqui, o que mais me despertou a atenção foram as vivências dos "missionistas", o passado, o presente e o legado histórico. Vejamos:
1- FORMAÇÃO ACADÉMICA E POLÍTICA- Só conhecendo-se e conhecendo o mundo à volta e as suas relações de interdependência, o homem se podiam aperceber da sua situação humana e social. Quando o governo salazarista estava “concordado” com a igreja católica, as missões evangélicas desempenharam um papel relevante na formação e despertar do "homo angolanus".
- Com o conhecimento sobre a natureza, os angolanos ganharam consciência sobre a situação política e social, dando vazão à génesis do nacionalismo. – A repreensão pidesca contra os iluminados nacionais negros levou à terra a ideia de uma revolução política não violenta. Os iluminados da missões sentiram-se na obrigação de servir de candelabros para outros angolanos na grande marcha para a liberdade, quer ensinando-os a ler e escrever, quer politizando-os.
2- CAMPO ESPIRITUAL/RELIGIOSO E SOCIAL- Os negros africanos ganharam conhecimento/orientação para explicação monoteísta da existência humana, bem como sobre a vida ultra-tumba.
- Foram incutidos sobre a missão social e fraternal, fundada na igualdade entre os seres humanos e necessidade de partilha equitativa dos recursos e apoio àqueles que mais carências têm em termos de recursos para a sobrevivência (caridade).
- As crenças pagãs foram substituídas pela crença na ciência e na teologia e os hospitais substituíram os “ovimbanda”, proporcionando uma vida com maior qualidade.
Pelo acima enumerado e muito mais, acho mesmo que os jornalistas angolanos deviam visitar missões protestantes como as do Késua (metodista em Malanje), Cileso, Voga, Cisamba, Dondi, Kamundongo, Cilume e outras missões evangélicas, para as conhecer e dar as dar a conhecer. Pois foi grande o papel desempenhado por aqueles templos, escolas e hospitais para a formação académica, intelectual e espiritual dos angolanos do planalto e não só.
OBS: a grafia dos topónimos obedeceu ao alfabeto das línguas bantu.
3 comentários:
Meu camarada como sempre mais uma aula. Foi bom ter ido ao Vye sem lá ter estado mas graças a maneira como (d)escreves.
De facto deveriamos de apostar menos em tchilares (onde as vezes se debatem assuntos sérios e com jovens por tras a dançar como que sem dando importância ao que se debate) e ir sim visitar esses locais que recomendas, e bem na grafia original, para que se passem a conhecer locais, sabedorias e valores espalhados pelo país com morgulho de quem as faz e de quem por lá passou.
Obrigado Edson Macedo.
Enquanto seres vivos e pensantes estamos a fazer a nossa parte. Estamos a lançar a "nossa pedra" neste alicerce (Angola), para que no fim da jornada possamos pedir também "o nosso pedação de pão".
Tenho um desejo eterno de conhecer essa terra. E ler esse post me interessei mais ainda. Felicidades sempre.
Obrigada pela escrita.
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