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segunda-feira, dezembro 17, 2012

KEPALA: KIBALA OU MUSSENDE?


A caminho dum lugar sagrado dos povos de Kepala
Os sobas (autoridades tradicionais angolanas) têm uma visão territorial do seu espaço de influência que muitas vezes diverge com as fronteiras políticas e administrativas. É o que se passa na região de Kepala.
Administrativamente, Kepala é território da comuna de Kariango, mas grande parte da população é oriunda do município vizinho do Mussende (ambos da província do Kwanza Sul).

Há um aspecto que nos faz compreender melhor o que se passa no terreno e o que alimenta as disputas entre os sobas do Mussende e da Kibala e os ciúmes, muitas vezes fingidos, mas por todos conhecidos, entre as autoridades administrativas das duas circunscrições municipais.
A área de Kepala, passou a ser mais conhecida na última década por CAP. No tempo da guerra civil (1975-2002) os guerrilheiros da Unita instalaram na região uma unidade militar que se dedicava ao garimpo de diamantes, numa aluvião, que alimentavam a sua máquina bélica e administrativa. A região estava sob controlo dos rebeldes e a administração do Estado não se fazia sentir. O facto de Kepala estar mais próxima da vila de Mussende, sob domínio da rebelião, do que da vila de Kibala, sob domínio governamental, explica a razão da alteração de toda a correlação de forças e jogo de influências. Os povos nativos que tinham acesso àquela área eram, como é obvio, do Mussende, pois quem saísse da Kibala para Kepala podia ser conotado como “colaborador dos rebeldes”, sendo o inverso também aplicado e punido severamente.
Uma rua da vila do Mussende (foto: J.A.)
Tudo quanto me pude aperceber, grande parte da população que habita a área é oriunda do Mussende, enquanto o Soba se assume como kibalista e quer que a população se assuma como pertencendo à Kibala. "Daqui resultam os ciúmes entre as autoridades tradicionais e até administrativas", confidenciou-me um funcionário sénior da administração do Mussende.
Do ponto de vista da Divisão Político-Administrativo de Angola, a área de Kepala ou CAP, como é mais conhecida nos últimos anos, é parte do território da comuna de Karyango, município da Kibala. Carlos Barros, o administrador comunal de Karyango, não tem dúvidas e diz conhecer os marcos (rios) que separam os territórios da sua área de jurisdição ao município vizinho do Mussende.
A existência de riquezas no subsolo pode ser uma das razões, mas “não houve, até agora, uma redefinição dos marcos”, sustenta convicto o administrador.

Independentemente do município a que pertença Kepala, andei com os sobas, todos eles meus conterrâneos, quando foram a um “muxito” sagrado fazer preces aos antepassados para que a terra prospere e os investidores na região tenham sucessos.

Um edifício da vila de Kibala
-      Ngoya1 twondola, enhe mu hane uvita! (vamos falar ngoya e vocês não nos vão perceber!) – Disse a rainha Antonica Gregório (da Banza de Thamba, Mussende) à comitiva que os acompanhava. Apenas mostrei um leve sorriso que lhe permitiu identificar-me como “da região”.

E, como “é mais fácil retirar o indivíduo do mato do que o mato da sua mente”, pus-me em andarilhos, no campo, revivendo os meus tempos de kandenge.
 
1- Tal como sustento em artigos publicados no blog: www.olhoensaios.blogspot.com o termo ngoya foi errada e profusamente difundido pela VORGAN (rádio da Unita) e povos ligados àquele partido como sendo a língua dos povos do Centro do Kwanza-Sul, não havendo evidências sobre a existência de povos e língua ngoya. Os ancestrais dos Libolo, Kibala, Mussende, Sela, Hebo, Kilenda, Mboim, entre outros povos que habitam o Kwanza-Sul, são oriundos da margem superior do Kwanza, região que abrange o Ndongo, Matamba e Kasanje).

2 comentários:

Edson Macedo disse...

Meu camarada. Passei li e claro aprendi algo mais. Será q com essa questão está criada mais uma friccao do género Benguela Lobito. Esperemos que nao e que se a houver que seja pela positiva. Um abraço das terras lusas onde me encontro ate Fevereiro do que se aproxima.

Soberano Kanyanga disse...

Outro abraço pra ti meu caro ED (filho de ) Macedo.
O cnário aparenta-se ao do Lobito-Katumbela. Começa-se sempre entre as autoridades tradicionais que t~em um conceito diferente de fronteira e se estende às autoridades administrativas locais. No caso vertente de Kepala há o factor recursos diamantíferos que qualquer um dos encolvidos gostaria de ter o controlo, ainda que nominal.
Um abraço da Lunda Sul.