Os sobas (autoridades tradicionais
angolanas) têm uma visão territorial do seu espaço de influência que muitas
vezes diverge com as fronteiras políticas e administrativas. É o que se passa
na região de Kepala.
A caminho dum lugar sagrado dos povos de Kepala |
Administrativamente, Kepala é território
da comuna de Kariango, mas grande parte da população é oriunda do município vizinho
do Mussende (ambos da província do Kwanza Sul).
Há um aspecto que nos faz compreender
melhor o que se passa no terreno e o que alimenta as disputas entre os sobas do
Mussende e da Kibala e os ciúmes, muitas vezes fingidos, mas por todos
conhecidos, entre as autoridades administrativas das duas circunscrições
municipais.
A área de Kepala, passou a ser mais conhecida
na última década por CAP. No tempo da guerra civil (1975-2002) os guerrilheiros da
Unita instalaram na região uma unidade militar que se dedicava ao garimpo de
diamantes, numa aluvião, que alimentavam a sua máquina bélica e administrativa.
A região estava sob controlo dos rebeldes e a administração do Estado não se
fazia sentir. O facto de Kepala estar mais próxima da vila de Mussende, sob domínio
da rebelião, do que da vila de Kibala, sob domínio governamental, explica a
razão da alteração de toda a correlação de forças e jogo de influências. Os
povos nativos que tinham acesso àquela área eram, como é obvio, do Mussende,
pois quem saísse da Kibala para Kepala podia ser conotado como “colaborador dos
rebeldes”, sendo o inverso também aplicado e punido severamente.
Uma rua da vila do Mussende (foto: J.A.) |
Tudo quanto me pude aperceber, grande
parte da população que habita a área é oriunda do Mussende, enquanto o Soba se
assume como kibalista e quer que a população se assuma como pertencendo à
Kibala. "Daqui resultam os ciúmes entre as autoridades tradicionais e até
administrativas", confidenciou-me um funcionário sénior da administração do Mussende.
Do ponto de vista da Divisão Político-Administrativo
de Angola, a área de Kepala ou CAP, como é mais conhecida nos últimos anos, é
parte do território da comuna de Karyango, município da Kibala. Carlos Barros,
o administrador comunal de Karyango, não tem dúvidas e diz conhecer os marcos
(rios) que separam os territórios da sua área de jurisdição ao município
vizinho do Mussende.
A existência de riquezas no subsolo pode
ser uma das razões, mas “não houve, até agora, uma redefinição dos marcos”,
sustenta convicto o administrador.
Independentemente do município a que
pertença Kepala, andei com os sobas, todos eles meus conterrâneos, quando foram
a um “muxito” sagrado fazer preces aos antepassados para que a terra prospere e os investidores na região tenham sucessos.
Um edifício da vila de Kibala |
E, como “é mais fácil retirar o indivíduo do mato do
que o mato da sua mente”, pus-me em andarilhos, no campo, revivendo os meus
tempos de kandenge.
1- Tal como sustento em artigos publicados no blog: www.olhoensaios.blogspot.com o termo ngoya foi errada e profusamente difundido pela VORGAN (rádio da Unita) e povos ligados àquele partido como sendo a língua dos povos do Centro do Kwanza-Sul, não havendo evidências sobre a existência de povos e língua ngoya. Os ancestrais dos Libolo, Kibala, Mussende, Sela, Hebo, Kilenda, Mboim, entre outros povos que habitam o Kwanza-Sul, são oriundos da margem superior do Kwanza, região que abrange o Ndongo, Matamba e Kasanje).
2 comentários:
Meu camarada. Passei li e claro aprendi algo mais. Será q com essa questão está criada mais uma friccao do género Benguela Lobito. Esperemos que nao e que se a houver que seja pela positiva. Um abraço das terras lusas onde me encontro ate Fevereiro do que se aproxima.
Outro abraço pra ti meu caro ED (filho de ) Macedo.
O cnário aparenta-se ao do Lobito-Katumbela. Começa-se sempre entre as autoridades tradicionais que t~em um conceito diferente de fronteira e se estende às autoridades administrativas locais. No caso vertente de Kepala há o factor recursos diamantíferos que qualquer um dos encolvidos gostaria de ter o controlo, ainda que nominal.
Um abraço da Lunda Sul.
Enviar um comentário