Em companhia do Ouri Pota Chapata Pacamutondo, Director do Centro de Formação da Rádio Moçambique, visitei, a 04.03 24, a RM.
Como quem quer conhecer a rádio em toda a sua dimensão, comecei pelo que chamam de "fitoteca", arquivo áudio das primeiras emissões de Rádio em Moçambique [1933], discursos e outros registos relevantes. Inicialmente, os registos eram feitos em Vinil, depois em bobines, mais tarde em cassetes, disquetes, minidisco, CD, etc.
_ Chamamos essa área de "fitoteca" (fica no rés-de chão do edifício de seis andares) por causa das fitas aqui conservadas (bobines e cassetes) _ Começou por explicar o cicerone Ouri Pota.
Hoje, os registos são feitos em Hard Disc. O desafio de todos os tempos tem sido a conversão de áudios de um suporte em desuso para o outro emergente e a inoperância de alguns equipamentos de leitura.
_ É um trabalho que não para, pois tem de se acompanhar a evolução tecnológica. _ Disse-nos Laurentino da Silva, o responsável pela "audioteca", também ele considerado "uma biblioteca da fitoteca" da Rádio Moçambique, dado o conhecimento acumulado sobre a área e a rapidez com que é capaz de localizar um registo sonoro histórico.
Como que a buscar a consonância entre as explicações que dava e a demonstração prática em como se localizam "as fitas" mais antigas, provoquei-o a localizar a cassete com o discurso proferido pelo Presidente Samora Machel quando, a 25 de Junho de 1975, proclamou a independência de Moçambique. Laurentino, que interrompera o seu café à nossa chegada desavisada, fê-lo num abrir e fechar de olhos como se tivesse um detector de cassetes entre os dedos.
Depois, visitei a discoteca que conserva músicas de todas as idades (desde os anos 30 do séc. XX aos dias que correm), nos mais distintos suportes, tal como a audioteca/fitoteca. A discoteca da RM está em rede, permitindo o acesso rápido por parte dos realizadores de programas e locutores.
_ Já não precisam de fazer requisições prévias como antes, acontecendo apenas em casos de músicas que não estejam na rede. Quando recebemos uma requisição, fazemos uma transcrição imediata e colocamos a música ao dispor da Rádio. _ Explicou Porfírio Mathe.
Muitas músicas antigas foram convertidas em suporte digital e outras estão ainda por converter. Em ambos os casos, "é uma luta contínua", asseverou Porfírio, um dos técnicos da Discoteca que teve a amabilidade de fazer as honras da casa.
A rádio, porém, e todo o seu edifício tecnológico, não são apenas pessoas, voz, sons e silêncios. A componente técnica para que o som produzido seja emitido em ondas hertzianas e captado pelos recetores, há uma sala chamada de Central Técnica. Na Rádio Moçambique, é responsável pela recepção e emissão dos 4 canais produzidos em Maputo-Cidade (Antena Nacional, Antena Internacional, Rádio Cidade e Rádio Desporto), assim como pela recepção e retransmissão do sinal das dez emissoras provinciais (Cabo Delgado, Gaza, Inhambane, Manica, Maputo-província, Nampula, Niassa, Sofala, Tete e Zambézia) ao que se adiciona o sinal da Emissora Provincial de Maputo (há distinção entre Maputo Cidade Capital de Moçambique e Maputo Província).
_ Aqui é o coração da Rádio. _ Ouvi do responsável da CT, _ acrescentando que é lá que se confirmava a concretização da comunicação radiofónica.
Seguimos à Radio Cidade, congénere da Rádio Luanda, onde o meu anfitrião Ouri Pota fez carreira até passar à gestão.
Encontrámos o jovem Hélder Mendes, animador de cabine por excelência e que tem uma grande audiência. A cabine é "auto-operada" e o locutor conversa com os radio-ouvintes sem a intervenção do técnico de som/sonorizador.
_ É uma forma de conferir melhor à vontade ao locutor e o patrão poupar dinheiro com menos pessoas, explicou, enquanto pousávamos para a foto.
A Antena Nacional (congénere de Canal A da RNA) e a Rádio Desportiva (homóloga da Radio 5, com que "há um grande intercâmbio", no dizer dos moçambicanos) seriam os pontos seguintes.
Já na Rádio Desporto, depois de visitar os estúdios, fui convidado para "dois dedos de conversa" com a simpática jornalista Natércia Tomás, cuja voz, doce e melódica, muito se difere do comum sotaque moçambicano. A jovem parecia uma "tuguesa" pintada de negro com um sorriso escaldante a fazer parelha ao humor com que cativa os ouvintes e amantes da narração desportiva.
No final, Natércia pediu que sugerisse uma música para ser tocada como "oferta" do visitante angolano aos que nos ouviam naquele momento, perto de 10 horas da manhã de segunda-feira, 04.03.24. Apanhado por um "remate à queima-roupa" a minha escolha recaiu, exactamente, à queta "A luta continua" (para vencer o subdesenvolvimento) de Mirian Makeba.
Lá e cá "a luta continua"!
Terminámos a visita no Centro de Formação da Rádio Moçambique que, para além de atender às necessidades de formação/superação interna dos quadros, está também vocacionado a atender demandas externas como mestres de cerimónia, apresentação de discursos, jornalismo digital entre outros. Saimon Kabwé era o jornalista, descrito como um dos melhores noticiaristas da Rádio Moçambique e partilhava a sua experiência com meia dúzia de jovens candidatos a jornalistas com que tivemos a oportunidade de tocar algumas palavras.
_ Tal como em Angola, o jornalismo é uma profissão séria, de extrema importância social, insubstituível e que confere reputação. Embora não permita ao executante ser tornar-se rico no exercício simplesmente do jornalismo, confere ao profissional sério e comprometido uma grande reputação e abertura para outros voos. É incompatível com a trocas de favores e "mola" debaixo do tapete. _ Partilhei no minuto (de fama) que me foi concedido.
Conheço alguma rádio angolana melhor do que a nacional moçambicana?
- A resposta é óbvia. Só a minúscula LAC onde "militei" de Dezembro de 1996 a Março de 2006.
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Publicado no Jornal de Angola de 31.03.24
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