Na banda não faltam motivos para organizar uma fubada como as que acontecem nos aposentos do ancião Salas Neto, no Distrito do Rangel, apimentadas de crónicas e outras chaladices, ou no apartamento kilambístico do kota Lauriano Tchoia, acondutadas de suculentas codornas.
Na estranja, o esforço para encontrar uma bilada é maior. As opções sempre exíguas, vão para a papa dura (feita de farinha grossa de milho) oferecida pelo Marcos African Food ou é ao puré de batata que nunca se aproximam ao nosso pirão ou funji de bombó, podendo ainda variar para o misto, sempre a condimentados com largas postas de peixe do Atlântico Equatorial fartas verduras nascidas e crescidas ao sol resoluto.
Uma boa fubada, apomadada com castas do Bero ou Xixila, dá azo a prolongadas tertúlias e vozes que se elevam com o tempo de duração do repasto.
Aqui (na estranja), no silêncio e pacificidade de Sea Point, (satélite de Cape Town) apenas os beggars (tidos como "malucos"), os carros, as motos noctívagas, os ventos e a fome falam alto. Vezeira, a fome vem de tempo em tempo, carregando, quase sempre a vontade de embrulhar uma boa fubada para contornar os sweet food destas terras.
_ Atenção! António, Lau, Adelino, preparem-se, estou a chegar. Amanhã quero-vos no meu apartamento e vamos fazer uma bilada! _ Anunciei, antes mesmo de saber se encontraria utensílios.
Não houve resistência, afinal, a chegada de mais um mwangolê seria motivo para pôr conversas em dia, reflectindo sobre e vida de cá e as malambas de lá.
_ É só avisares a hora e as incumbências que lá estarei. _ Responderam um a um.
Dia D. A fome madrugadora, talvez incentivada pela combina da bilada, gritava mais alto do que os negros beggers que se achavam lyambados nas ruas "brancas" de Sea Point.
O low shielding seria entre o meio-dia e as duas da tarde. Apressámo-nos nos preparativos. Melhor, o Lau cuidou de confeccionar o kalulu que o Star jura de pés juntos ter sido "inventado em Kalulu", assim como "o bolo vem do Lubolu". O Adelino cuidou das pomadas e o Oldest António ficou a moderar os excessos vocais, quando a pomada começou a fazer efeito.
Assim foi a primeira bilada. Uma fubada mista que só não recebeu estrondosas palmas de gratidão dos estômagos por estes terem a natureza de pedintes insaciáveis.
No fim-de-semana seguinte, foi a vez do Lau organizar a fubada.
_ Kotas, desta vez o conduto serão carnes assadas e, como temos assador no quintal, será lá nos meus aposentos. Preparem só as pomadas. _ Recomendou, fazendo-nos aparecer religiosamente ao meio-dia.
_ Haverá duas sem três?
O Adelino assumiria a terceira semana consecutiva. Desta vez, o Star prometeu levar sardinhas tugas para o início de conversa. Uma caixa de castas nacionais foi "raptada" pelo caminho e abatida com sucesso, dando cor ao frango e kabwenya tuguesa, levando a conversas que se prolongariam até à última gota, o último espinho e à derradeira ossada.
Mas, que tal se a fome e a vontade de embrulhar uma funjada chegam num dia de semana em que não dá jeito para reunir a equipa?
A solução é bikular a solo. Afinal, em casa ou na estranja, com amigos ou alone, ĥá sempre um motivo para uma fubada. Se bem regada, melhor!
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Publicado pelo Jornal de Angola de 21.04.24
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