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segunda-feira, maio 22, 2023

ATÉ JÁ, SAMBA-CAJU!

 SAMBA-CAJU

A religião do Estado, a máquina que se punha à frente do comerciante, anunciando as supostas "boas intenções mercantilísticas", para dar lugar ao militar ocupante que subjugava e dava guarida ao explorador, estava presente em cada esquina. Na verdade, ela era o Estado e, infelizmente, enraizou-se tanto nas mentes dos explorados que meio século depois, já na Angola pós-colonial, ela continua a vender uma filosofia alheia e alienante, atentando, inclusive, contra uma ordem constante na sua própria bíblia. E alguns incautos vão ainda seguindo estatuetas, como se nada mais houvesse para adorar e confortar suas inquietudes terrenas.

Bem, é de Samba-Caju que me propus escrevinhar.

No sentido Wiji-Ndalatandu, fica entre a comuna de Kyangombe e Lukala. A vila, erguida numa elevação recortada por regatos que se espraiam no sopé, projectando-se caminho abaixo, é invisível aos olhos apressados. Apenas a igreja se faz anunciar imponente ao lado do caminho grande por onde deslizam os carros velozes.

É preciso parar e adentrar para ouvir o falar das gentes e beber da História. 

A guerra movida pela unita tem em Samba-Caju as suas marcas muito presentes.

Ante a beleza estética e robustez das edificações, a força voraz do tempo foi clemente. Nem tudo foi ausência de restauro.

_ Quem mais partiu foram esses aí. _ Apontava Miguel da Cruz a uma bandeira bem conhecida. 

Citou o tempo de um famigerado Kavulandunge como "o de maiores destruições".

- Parecia que era brincadeira deles. Quando lhes apetecesse, vinham e dinamitavam,  quando não ficassem por mandar obuses de RPG-7 e dilagramas contra os telhados. _ Conta, expressando ainda revolta, a cada imagem que a sua memória recupera.

Miguel anda na casa dos 50 anos e diz "ter sido raptado para servir os kijibanganga", de onde "escapou por um triz", fazendo-se a pé até Kapanda.

Decidi deixá-lo caminhar, desta vez, em direcção à sua lavra e com a promessa de voltar à vila para, quiçá, voltarmos a pôr a História em dia, pois ficou por desvendar o sentido etimológico do topónimo Samba-Caju.

Até breve!

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