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quinta-feira, maio 18, 2023

DOMINGOS: O ARTESÃO AMBAKISTA

Pela estrada que se estica do Negage, terra de café e povo ambundu do Uige, ao Planalto de Kamabatela, encontrei Domingos, 13 anos apenas, numa aldeia entre Kamabatela e Kyamgombe. Uma enorme bandeira do Partido que governa Angola chamou-me à atenção para reduzir a velocidade, pois podia encontrar Camaradas e com eles trocar um dedo de conversa sobre coisas que nos tocam. É que na rota Bengo-Uige, os "folha-verde-tremente" hastearam seus panos em quase todas as aldeias e parecem  viver um grande "à vontade" perante algum comodismo de quem devia comandar a orquestra. Bem, afrouxei e deparei-me com os "cilos" (pequenos celeiros artesanais, colocados por cima de espetos, para guardar dos roedores os grãos para a sementeira seguinte) que me convidaram para uma foto. Olhando para o lado oposto,  convidavam-me à contemplação e apelavam à complacência da algibeira os sofás e mesa feitos de bordão, ofício em que Domingos se esmera, dividindo o seu tempo entre a escola, a busca de matéria-prima e a confecção.

_ Quanto é? _ Questionei.

_ Espera. Vamos chamar o dono.

Antes mesmo que o dono chegasse, alguém se apressou em apreçar os banquinhos que ajudam as mamãs batedoras de funji (em minha casa são as minhas filhas Evelise e Princesa quem fazem o principal alimento caseiro do papá).

_ É 300. _ Ouviu-se uma voz colada a uma palmeira. O teeneger nem sequer mostrou a cipala.

_ Faz duzentos e cinquenta, jovem, e levo os quatro banquinhos.

_ Não dá. O dono não está. _ Retorquiu, sempre com o rosto ausente.

Não tardou, chegou o Dimingos, alegre e comunicativo. Mostrou a "montra toda": um conjunto de sofás e mesa de centro e outro sem a mesinha que custava quinze mil Kwanzas. A "mobília completa da sala de visitas" custava cinco mil a mais.

Doeu não possuir espaço suficiente na viatura para levar o artesanato do Domingos que aprende com o seu mano a reprodução dos sofás, usando material local. 

_ É tudo com bordão, mano. Não entram pregos nem parafusos de metal _. Explicou.

Não podendo levar o conjunto, acabamos consolados, ele e eu, com a compra dos quatro banquinhos distribuídos, posteriormente, entre a casa da minha mãe e a minha. Um saco de fuba de milho amarelo, comprado no aldeamento do buta muntu Mawete, e uma lebre comprada nas proximidades de Ndalatandu completaram as oferendas à Nga Madya que fechou setenta e seis kixibo (cacimbos) no décimo terceiro dia de Maio.

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