Quem conheceu KIBALA antes de 1980 conta uma história diferente da dos nossos dias. Os edifícios tinham vida e cor. A vila tinha movimento de gente trabalhadora e empenhada. Parecia crescer ou pelo menos tendia a isso, todos os dias.
A sul da Kibala, a 13 ou 14 quilómetros ficava outra vila próspera, fundada por agropecuários madeirenses. Katofe tinha leite fresco, pão quente, manteiga e gente que acordava cedo para ordenhar, pastorear, agricultar e fazer as cidades jantarem.
A caminho do sol nascente, Karyangu que possuía uma mini hídrica sobre o Longa, gerava energia eléctrica para além de seus pardacentos campos agrícolas. Viam-se cabras e carneiros escalando montanhas pedregosas e dando carne com fartura. Karyangu também tem diamantes (Ngango) que nossos avós ignoravam ou simplesmente preferiam que a natureza os continuasse a guardar até um dia.
Em sentido norte, caminho que leva ao Libolo do café e dendém e Dondo das fábricas Eka, Satec e Bavin (e licores), destino do ananás kibalense, estendiam-se, do interior ao asfalto, grandes extensões de sisal, milho, feijão, batata e outros agricultáveis. Era incontornável a Fazenda América. Onde hoje se acha a albufeira que faz de Lucala uma aldeia à beira de lago é Mbumba-a-Lunga! Ndala Kaxipo, a 25 quilómetros do asfalto, rivalizava com os melhores e maiores da região no cultivo de milho e girassol.
A caminho de Gabela, sol poente, há poucos metros, estão os silos. CAIMA era moageira. A fuba canini, amarela e que se dizia "crescia na panela", era moída aí. E ia distante. Chegava às cidades para alimentar os operários e funcionários da máquina administrativa. Todos empenhados. Eram outros os vícios: a assiduidade e pontualidade, o trabalho abnegado, o respeito, a honestidade, a probidade, a religiosidade, o desejo de crescer e ver ANGOLA PARA OS ANGOLANOS.
Quem nunca ouviu falar de Fazenda Pombal ou Jorge Dimitrov, Fazenda Saidy Mingas, Revolução de Outubro, Fazenda Kambondo ou 1° Congresso (do Partido), Fazenda Kamana e Ndala Kaxipo (hoje Mato Grosso)? Quem nunca ouviu falar da Escola de Formação de Oficiais Superiores, vindos da guerrilha (alguns sem quarta classe concluída), e que se situava na Fazenda América?
Hoje, a vila de Kibala é um amontoado de esqueletos estropiados por uma "guerra com laivos comerciais", em que "diamantes também entraram nas contas" dos obuses que mataram famílias e destruíram a vila erguida no coração do Kwanza a Sul.
- Não te minto, mô irmão. Naquele tempo de guerra, você povo é capim e não tem escolha. Vem FAPLA te rusga. Vem Unita te rapta. Já servi os dois lados, até chegar a mini-paz de 1991. De 1993 a 2002 foi mais pior. Os chefes se combinavam. Atacavam a Vila para roubar gasóleo para as dragas. Depois, mandavam um carro com as pedras como pagamento. Os chefes sabiam e faziam negócio, enquanto nós morríamos. - Contou Manuel Kixindo, morador e agricultor em Ngango, antigo Cop, junto ao projecto Terras do Futuro.
Em visita à Kibala, vi alguns equipamentos no recinto do que foi a moageira CAIMA. Bem espero que seja o início da sua reconstrução, embora não deixe de preocupar a quantidade de fazendas abandonadas ou estagnadas desde que iniciámos a "caça aos madimbwende". Afinal, quem é que as detinha e de onde provinha o dinheiro?
Voltemos à CAIMA que estava para o milho, assim como a terra e a água estão à disposição dos agricultores da região. Ela olha, hirta, para os que apostam no milho e no país. Está a gritar que ainda existe, apesar dos assaltos e das revezadas intempéries.
Quem te viu e quem te vê, Kibala?!
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