Vila do Ebo, 13 de Novembro. O ano é esse mesmo.
A cadeia montanhosa e pedregosa que abraça a região, faz com que haja um microclima com nuvens a encobrir o topo das elevações que se vestem de branco quase todos os dias. Tal faz com que a água, em gotículas finas, grossas ou até acompanhadas de granizo caia ao acordar, ao almoçar e ao jantar.
Esse clima, com água e lama, faz as crianças se sujarem durante as suas brincadeiras e tarefas confiadas à idade. Dentre os petizes conhecidos está Magrinho. É slim, de pouca fala e educado a não mentir. Bem, Magrinho tem outro nome, o da escola como dizem, e a data de nascimento que só a mãe e o professor conhecem.
Quando se lhe pergunta em que ano nasceu, Magrinho diz que foi em Novembro!
Na visita ao Ebo, vi magrinho brincar com outros irmãos. Quando perguntado "quem havia sujado o carro, Magrinho teve a coragem de apontar o irmão e denunciar-se.
- Foi o João e eu, tio!
Tomámos boa nota da sua verticalidade e fizemo-nos amigos. Passou a ser Magrinho pr'aqui e Magrinho pr'ali. Durante os três dias, ele foi a mascote da casa, fazendo-nos esquecer, por curtos instantes, o momento lúgubre que nos levou ao Ebo.
Mas a melhor do Magrinho, que não sabia dizer quantos anos tem, variando entre dois e 12, quando o irmão mais velho tem nove, foi quando o tio Beto Spina, vendo-o sujo e prestes a ir dormir, o ordenou a lavar o corpo.
- Magrinho!
- Tio!
-Vai tomar banho.
- Não, tio. Hoje não vou tomar banho.
- Vai lá, pá! Tens medo do frio?
- Não, tio. A água está a levar as pessoas!
A resposta derradeira de Magrinho parecia cómica, risível. Mas levou-nos a mergulhar no assunto que nos levara ao Ebo. Nossa mãe Mariana Almeida, a avô materna do Magrinho, fora arrastada, quatro dias antes, por uma corrente de água ao atravessar um riacho pelo que passou variadíssimas vezes ao longo dos seus sessenta e três anos.
Ficámos a reflectir na inteligência do Magrinho que passou a detestar a água, por lhe ter arrancado a avó.
- Não, tio. A água está a levar as pessoas! - Tem razão o Magrinho.
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