Durante os meses de Agosto e Setembro/2021, fiz milhares de quilómetros por estradas. Percorri Cabinda de sul a norte, fiz Luanda-Soyo-Luanda, Luanda-Cuito-Luanda e Luanda- Quibala-Luanda, fora o roteiro Luanda-Huambo-Chipindo-Longonjo-Menongue-Cuchi-Lubango-Benguela- Sumbe-Luanda, feito em Maio.
Notei que os acidentes com camiões, sobretudo os articulados, e alguns ligeiros também acontecem mais ali onde a estrada está degradada. Na ida e regresso do Cuito vi dois pesados capotados à entrada de Calomboloca, só para citar um de vários exemplos que se acham a mãos de semear.
À propósito da relação entre qualidade das rodovias versus acidentes ou capotamentos de camiões carregados, Moh Canhanga escreveu que "se a estrada tivesse sido reparada não teríamos a 'novela' do arroz em Benguela". Elogiei o jovem, que espreitou para fora de caixa e viu que havia mais árvores naquela "floresta" de debates, para além dos jovens fotografados em flagrante posse do produto transportado pelo camião acidentado.
- Teria havido capotamento se a rodovia estivesse em condições de circulação?
- Talvez sim, talvez não!
Há acidentes causados pela degradação das rodovias, como há outros acidentes que ocorrem em perfeitas pistas, onde é chamada a responsabilidade do condutor ou o estado técnico do equipamento ...
O mérito da colocação do do jovem Moh Canhanga vai para a necessidade de se olhar para fora de caixa e buscar outros ângulos de análise.
Ora, os behavioristas (comportamentalistas) americanos realizaram um estudo para aferir o "instinto animalesco incubado no homem" e a tendência em destruir coisa alheia.
Pararam, durante uma semana, um carro novo num descampado para ver qual seria o comportamento da população.
Mesmo sem que se conhecesse o dono, ninguém o danificou.
Na semana seguinte, alguém passou e quebrou, propositadamente, um dos vidros. Em menos de 48 horas, o carro ficou totalmente descaracterizado.
Voltemos ao arroz de Benguela. Se o primeiro que se deparou com o acidente tivesse ido para socorrer e proteger a carga, eventualmente os demais colaborassem nessa demanda. O primeiro que tomou para si um saco de arroz abriu o caminho e despertou o lado animalesco dos demais.
Já fiz um estudo semelhante com o lixo. Quando construi a minha casa, a envolvente era uma lixeira (espaço em que a vizinhança preguiçosa e antabônica depositava os seus descartados). Empenhei-me uma semana a limpar e controlar. Os mesmos que ali deitavam lixo, perderam a coragem de largar o primeiro saco num espaço totalmente limpo.
Depois de ler o estudo dos behavioristas americanos, larguei um saquinho de lixo no espaço e, no dia seguinte, estava a área repleta de sacos!
Levei mais uma semana a limpar e controlar.
Resumindo: um de dois factores ou ambos terão propiciado o assalto ao camião de arroz em Benguela.
a) a qualidade da rodovia;
b) o estado psico-social e ético do primeiro assaltante.
Tenho dito.
Soberano Kanyanga
29.09.2021
PS: publicado pelo Jornal de Angola de 03.10.2021
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