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segunda-feira, maio 03, 2021

O MEU PRIMEIRO COMISSÁRIO

Quando conheci o primeiro comissário municipal (presencial e nominalmente) já estava a caminho dos 13 anos. Foi em 1987, em Kalulu. Outros apenas ouvia falar. Nunca os tinha visto. Até mesmo aquele que (se conta), que, na Munenga, ao fugir da Unita "viu a gola do seu casaco presa em espinhos e, pensando que fora alcançado, implorou prostrado que o soltassem, dizendo que já havia cessado o comissariado e aguardava apenas pelo substituto para entregar as pastas", nunca cruzámos caralmente.

Com o Comissário Tony era diferente. Via-o passar no seu Niva branco. Era capitão e dizia -se que enfrentava os kwaca, no Lwati e Kisongo, (cuatcha) com valentia nunca vista. Nos carnavais de Kalulu estava sempre na tribuna e mesmo no dia-a-dia da escola era visto e chamado "comissário Tony para cá e comissário Tony para lá". Às vezes era visto a caminhar do comissariado ao Palácio do Comissário.
Certo dia, as FAPLA, as Gloriosas que "Quando vão ao combate parece um foguete que vai aos céus", foram acudir a uma situação na região do Musende (entre a comuna sede e a comuna de Munenga). Houve uma refrega e o Comissário voltou sem a sua Niva. Os nossos LCB (Luta Contra Bandidos) voltaram cabisbaixos, mas prontos para outro combate de desforra. Por cima de um UMM, cantavam "eu vou, eu vou morrer em Angola, com arma, com arma de guerra na mão ... , multiplicando a coragem para novas batalhas).
Quase toda a miudagem do meu tempo, nós (pioneiros de Agostinho Neto na construção do socialismo, tudo pelo povo!)chorámos abertamente ou no silêncio, cheios de raiva contra os "lacaios" por termos deixado de ver a viatura Niva branca do Comissário Tony.
Dizem que foi transferido para outro município (Seles, se não me engano) como "prémio" à sua valentia.
Transferido do Libolo, terá ainda passando uns dias no Waku Kungu. Porém, perdeu a vida, pouco tempo depois, num ataque traiçoeiro dos homens da farda verde-oliva. O choro, em Kalulu, quando a má-nova chegou, foi intenso e generalizado pelo Libolo todo.

Beto Spina, meu compadre e natural do Waku, diz que o Comissário Tony foi genro do Sr. António Menezes, um fazendeiro de renome no Wacu-Kungu, sendo pai da Edith e Vadinho que foram seus colegas na 2°, 3° e 4°classe na escola primária 82 ou 1° de Junho no município da Cela, Wacu-Kungu.
No Libolo, o Comissário Tony foi substituído por Keka Ngó (Vê só), outro que na canção de Carnaval se dizia que "sabia lutar".

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