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terça-feira, setembro 22, 2020

AMBULÂNCIA NO BAIRRO

- Xê, sabes duma coisa, Joana?

- Coisa de quê então, Belucha? Me conta então.
- Falaram então aquele vizinho acusou.
- Lhe acusaram quê? Assim já é fitiço nê?
- Não lhe acusaram feitiço, sua distraída.
- Então fez quê, roubou ou meteu filho na mulher do outro? Também da maneira que bebe e pega nos rabos das mulher'alheia não s'esperava outra coisa.
- Joana, você és mesmo distraída. Parece ainda estás em Kangandala. Abre o olho, pá.
- Mas, ó Belucha, você conversa que inicias nunca terminas. Assim eu é que vou adivinhar o teu mahezu. Começa então ja a boatar você que te nasceram na cidade. Mesmo aquele tô bairro Kangambo de Malanji também é quê? Comparando com Kangandala onde me nasceram ainda é mais melhor. Vai conta já.
Belucha mão na bochecha e outra nas costas, como que aquecendo o mona que trepidava de frio. Caminhavam ao chafariz.
- Pronto já Joana. Só não te arrespondo mais porque eu é que dei iniciada de abusar teu bairro. É assim. Estás a ver o vizinho Januário, nê? Disseram ambulância foi em casa dele lhe buscar.
- Belucha, assim é quê? Será que fez acidente? Nós, em Kangandala, se pessoa vê ambulância foi socorrer acidente na via.
- Mas aqui é Luanda, Joaninha. Não andas a ouvir Covid? Disseram acusou!
- Má, má, má! Belucha, faz favor. Viste bem? Ouviste mesmo bem ou estás só incriminar homem lheio?
- Vi a ambulância, Joaninha. Também ouvi aqueles moços que ficam na rua a falarem que agora quando ambulância te vai buscar é porque acusou covid-19.
- Belucha, sei mesmo que você estudaste mais do que eu que parei na terceira classe e também vieste já há muito tempo em Luanda. Mas vou te dizer, minha irmã. Discriminar as pessoas é crime. Pior do que isso é estigmatizar que tem doença que não foi buscar. O tal corona não é como a sida. Às vezes lhe encontrou mbora no trabalho, assim como pode ser mentira.
- Tens razão, mirmã. As pessoas, às vezes exageram.

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