Naquele tempo, Setembro era o mês do retorno à escola, depois de três meses de "licença". Por isso, Maio, mês do início do Kasimbu (cacimbo ou estação seca) que se estende até Agosto, era o mês das provas finais de conhecimento e exames.
Chegado o mês das férias prolongadas, os que atingissem a idade da circuncisão (no Libolo, era normal dos cinco aos dez anos, podendo acontecer, excepcionalmente, antes ou depois desse intervalo) estariam a contar os dias (se cônscio disso) ou à espera de serem surpreendidos pela chegada do "mestre da faca afiada". Os mais crescidinhos, já talhados para a caça, começavam a preparar os instrumentos de caça (por queimada de capim), a alimentar os cães e a consertar as alparcatas. Nalgumas casas e famílias, kasimbu é período de conduto abundante, dado que os rapazes estão libertos da escola e empenhados em mostrar toda a sua mestria na fabricação e montagem de engenhos ardilosos para capturar tudo o que se mova e que os hábitos alimentícios admita à mesa: puku, ngwari, kandimba, hima, xiwe/kambwiji, ngwingi, hala, kezu, ngulungu, kyombo, moma e toda a sorte de viventes terrestres, aéreos e aquáticos.
Os que se tenham dado bem na escola, alguns eram presenteados com viagens a uma aldeia mais vistosa ou a uma capital qualquer: a sede comunal, a sede municipal, a capital provincial e, se os pais mais pudessem e quisessem, a capital do país. E quando voltassem à aldeia natal, era recorrente dos viajantes a expressão:
- Ewo, mu Luanda Uwabeee! (quão linda é Luanda!)
E contavam-se cenas de roer as unhas para quem nunca tinha deixado a aldeia nativa, umas verdadeiras e outras de enfeitar a línguas e os ouvidos da audiência. Faziam-se círculos, dias sim, dias sempre, para ouvir os aguçadores de curiosidades contarem estórias até que outras cenas ou motivos se sobrepusessem.
- Quão linda é a cidade!
Na estação seca, rios com menos água e menos alimentos para a vida aquática, mais faina nas nassas (muzwa) carregadas de dendém e outros restos que atraem os cardumes às armadilhas. Outras quantas vezes, rios barrados ou recortados pela escassez de pluviosidade, cestos preparados. Mulheres, crianças e adolescentes valentes. Os homens adultos têm a caça, numa comunidade com papéis socias bem distribuídos, como actividade distribuída. Cascas de árvores trituradas e ervas ou folhas entorpecentes como "twa" ou "kalembe". E o peixe em área delineada e circunscrita de um trecho de rio ou lagoa flutua ébrio para garfadas alegres, noite adentro e manhãs seguidas.
Com a realização das picadas à volta das fazendas e das lavras (para que fogo posto ou acidental não devore o fruto do trabalho árduo de todos os tempos) e depois das queimadas, iniciava-se a preparação do ano agrícola.
Preparar o "kibembe" (terreno que esteve em sistema de pousio) para o milho, a batata-doce, o feijão e a jinguba.
Ainda durante o kasimbu (cacimbo) os deltas dos rios e outras partes mais baixas (sem que haja rios) chamadas "kitaka ou naka" ganhavam o verde da rega. O cultivo de hortaliças acontece com maior intensidade no período de estiagem para os campos altos e rega nas zonas ribeirinhas. E o milho, a jinguba, a batata, o tomate, a cebola e alho, enfim... tudo volta, mesmo sem chuva!
Publicado no Jornal de Angola de 09.06.19
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