Mangodinho, soba de Kuteka, foi à Damaralândia participar de uma reunião com os homólogos de lá. Ao contrário das primeiras vezes em que se fazia acompanhar de um dicionário, bloco de notas e um lápis enfiado no cabelo, para as anotações e consulta de palavras anglofonas desconhecidas, desta vez, fez-se acompanhar do filho que dizia saber falar inglês.
Logo à chegada, o longo papo que tiveram foi sobre civismo. E começava o filho assim:
- Ó papá! Por que é que aqui as ruas e os prédios são todos limpos se também é África e são negros como em Angola que é tudo cheio. De lixo é areia nas estradas?
- Filho, aqui são organizados. Todos consciencializados de que cada um e cada família deve limpar e pintar a sua casa, não jogar o lixo na rua nem destruir os bens públicos.
- O papá não disse que eles (alguns) também andaram em Angola como refugiados? Como é que eles não nos ensinaram a limpar ou como é que não aprenderam a sujar?
- Primeiro, eles viviam em acampamentos de refugiados organizados de acordo com os seus hábitos e costumes. Só iam às cidades para comprar ou vender o que tivessem a mais. Segundo, a questão não pode ser "como é que não aprenderam a sujar". Nos é que precisamos de nos organizar. Devemos fzer lá aquilo que aqui não se faz, ou seja, não jogar lixo do prédio para a rua. Não desperdiçar água, não sujar as paredes, não andar a toa pelas ruas, não atravessar fora das passadeiras, não vender em locais não autorizados, não partir os bens públicos como postes de iluminação, assentos nos jardins, papeleiras, etc.
- Mas o papá diz, sempre que estamos aqui, para poupar água...
- Sim. Aqui chove pouco e não têm rios como nós. Eles fazem permanentemente racionamento de água. É por isso que não se pode gastar muita para que a pouca existente chegue para todos.
- Mas, papá, como é que naquela rua em que passámos ontem havia uma conduta rota e água a correr pela rua?
- Rupturas acontecem em todo o lado. O importante é que sejam reparadas para que não se estraguem os passeis nem as estradas. Voltaremos a passar por lá amanhã para ver.
- A EPAL daqui também demora reparar?
- Não sei, filho. Amanhã vamos confirmar.
- Se demorarem arranjar o papá vai fazer participação?
- Vou fazer nota, filho. Ainda não sei onde fica a empresa deles que cuida da água ou das reparações das condutas danificadas.
- Papá, a nossa energia foi (cortada) mas não vi os homens da ENDE deles...
- Aqui a energia é pré-paga, como se põe saldo no telefone. Quando a quantidade comprada acaba, ninguém precisa de desligar os cabos. Um dia, isso também vai acontecer connosco e precisamos já de nos habituarmos a poupar energia.
- E como é que se poupa energia se ela não se vê, não se pega, nem sai de um cano como a água?
- É fácil. Muito fácil poupar energia. Basta não ligar equipamentos electrónicos que não estejam em uso. Por exemplo, quando não estás no teu quarto, não precisas de ter o aparelho de AC ligado. Se não estás a assistir à televisão, não precisas de ter o monitor ligado. Arca e geleira vazias não precisam estar ligadas. As lâmpadas devem estar desligadas durante o dia. É deste jeito que se poupa energia.
- Vou passar também a proceder assim, papá.
- Pois é. Assim deve ser. E cada um que tenha aprendido deve ensinar os outros e insistir com eles para mudarem de mentalidade. Só assim estaremos ao nível desses nossos vizinhos.
Publicado pelo jornal Nova Gazeta a 18.04.19
Publicado pelo jornal Nova Gazeta a 18.04.19
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