Em menos de um mês perdemos os escritores António Panguila e Frederico Ningui, exímios escultores da palavra, notabilizando-se entre finais da década de oitenta e início da década de noventa do século passado. Perdemo-los, num abri e fechar de olhos, sem que nos dessem tempo para um adeus!
Maior do que a tristeza de já não ter os meus inspiradores (enquanto leitor e frequentador, nos anos 90, dos debates semanais na UEA) é saber que os jovens de hoje pouco ou nada sabem sobre aqueles que deviam ser os seus "modelos inspiradores".
Passei pela Kibala, terra de "Pangila", falei com muitos jovens, alguns a terminarem o ensino médio... Evoquei o nome de António Pangila, que já liderou a ANA Kibala (Associação dos naturais e amigos da Kibala).
- Pangila wamwinjya?
(Conheces Pangila?)
- Xô! Pangila nyi?
(Não. Quem é Pangila?)
- Pangila mesene yo sonika. Wahi semana yapiti. Kumwinji?
(Pangila é mestre da escrita. Morreu a semana passada. Nunca ouviste falar dele?)
-Xô!
(Não!)
Fiz a mesma pergunta sobre o Reverendo Gabriel Vinte e Cinco, também ele kibalense, com dedos na escrita e voz na pregação do evangelho de Cristo, pela via Metodista Unida. Expliquei que o "mwali-a-kime" foi superintendente distrital da Igreja no Kwanza-Sul. Falei-lhes sobre a famosa igreja "Boa Esperança" , que fica na aldeia de Kimone, a poucos quilómetros da sede municipal. Informei ainda que, não passa um mês, o mais velho lançou um livro "Kwanza-Sul: Conheça-te e faça-te conhecer".
- Sô pastore "Vindi e Cingu" wamwinjya?
(Conheces o Sr. pastor Vinte-e-Cinco?)
- Xô!
(Não!)
Não se conhecendo, em uma vila minúscula, dois vultos da literatura nacional, provincial e local, senti-me inibido em perguntar-lhes sobre escritores "mirins", como é o caso do autor dessa prosa. Limitei-me a oferecer os poucos livros que se achavam em sobra na viatura, esperando que alguém se lembre de os ler e falar aos outros no recreio escolar ou entre fimbas e repousos de um piquenique qualquer.
Não refeito ainda do susto, porque tamanha ignorância assusta, continuo a perguntar-me:
- 0 que ensinam os professores desses jovens?
- 0 que aprendem esses rapazes e raparigas?
- Que conversas fazem parte de suas tertúlias sabatinas?
- Que noticiários ouvem/lêem/vêem esses (des)continuadores de nossas obras?
Não tenho resposta e calculo que você tenha também outras inquietude sobre o rumo que a sociedade está a tomar ou a nossa mania de exigir que os mais novos saibam algo sobre seu passado e presente, permitindo-os, desta feita, erguer um futuro em rocha-firme como aquela em que assentava o fortim da Kibala.
Texto publicado no Jornal de Angola a 02.12.2018
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