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sexta-feira, fevereiro 15, 2019

MORNA PAIXÃO


 Nas terras de Chernenko, Staline, Lenine e Putin, os amores são sempre à primeira vista. As pernas negras do underwear (meias de vidro) sobreposto à carne amarela duma "donzela" fazem pensar numa negra da Kibala, recortada como viola que alimenta noites dançantes de xirimina.
A comida nos restaurantes também. Cereais que nos levam ao Kunene da masambala (milho miúdo) tem mesmo sabor de arroz e dizem ser do melhor que há em emprestar saúde ao corpo africano dilace...rado de maleitas e pragas.
O pão banhado em leite e passado na frigideira, sem óleo, é outro encanto... Mas então, o que não encanta aqui se a matemática aplicada à construção é à medicina (quem diria?) também faz milagres e motiva estudos para melhor compreensão e, quem sabe, réplica, lá na banda?
Tudo encanto para quem desfila a praça pela primeira vez, excepto os brutamontes de alguns czarianos que se julgam seres superiores na nossa idiossincrasia de pensar.
É cultura deles, cultivada já séculos, no relacionamento com outros. Até nos edifícios são imponentes e mostram essa grandeza de estar e de Estado. Apenas o tempo nos leva a entranhar essa forma de estar, pensar e agir e copiar-lhes os bons modos, aqueles aplicáveis à nossa secularidade, aos nossos mores.
Mas voltemos ao amor e paixão à primeira vista. Quem nunca a sentiu? Se ainda, tem tempo e não precisa ter pressa. Camões, o kawoyu da nossa metróia, escreveu "a paixão é como fogo" porém ela queima sem mostrar chama. Sim, isso mesmo. O duro é quando essa paixão começa a perder o furor, a chama... O que era doce perde a sacarose, depois ganha sabor acre e salgado. Assim está o pitéu. Um desencanto ao quarto dia. O estômago começa a inviabilizar o desfile. É outra a praça querida. É preciso andar, mudar a rota, buscar por ofertas alteres ou encontrar outros gostos, antes que a Sibéria tome conta do rol.


Publicado pelo jornal Nova Gazeta 2018

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