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sexta-feira, fevereiro 08, 2019

UMA VISITA INUSITADA

Que as abelhas seguem perfume, já é há muito sabido. Por isso, os prospectores mineiros devem ser parcimoniosos no uso de perfumes, evitando os odores mais activos, para não atrair o insecto do mel.
Conta-se que numa mina de Moçambique, as abelhas não deixavam entrar os prospectores africanos recém-licenciados na Europa, por estes pretenderem apresentar sempre "bem-cheirosos" e distintos do normal operário que sempre habitou o interland. É outra conversa.
Do que não sabemos ainda, é o que as rãs seguem dos homens. Será o seu espaço invadido? O conforto da temperatura alterada por meios artificiais, em contraposição ao clima natural e exterior?
O hotel em que decorre a prosa é zambiano, na zona chick que acolhe os hotéis mais vistosos e visitados, chopings e outras valências modernas como o Chicago, um casino-bar que acolhe noctívagos e apreciadores de "boas carnes" e quejandos.
O andar, para espanto, é o quarto. Estamos a falar de 12 metros, mais ou menos. A entrada do hóspede foi às 22horas. Se quem entra move a maçaneta da porta, a partir do corredor, é líquido que o batráquio, às 22 horas não estava lá atracado. Só podia tê-lo feito no silêncio da madrugada.
Foi ao sair que me deparei com o que outros chamaram de "inusitada brincadeira entre eu e o jovem da limpeza".
Aberta a porta do interior do quarto ao exterior, é ao fechá-la que me deparo com o que se parecia a um boneco de borracha em forma de rã. Aproximei-me, sem medo de bicho qualquer, e reparei que  "a borracha"respirava. Era sim uma rã viva e saudável que brilhava à luz artificial no corredor alcatifado.
- Porra! Que brincadeira é essa?! - Soltei malicioso sem se fazer ouvir.
Subi ao nono andar, para o matabicho carregado, para não mais o estômago reclamar almoço. Desci novamente ao quarto andar, apenas para confirmar se o visitante se tinha ido embora ou se aguardava por uma outra diligência menos amistosa.
Chegado  à porta 433, lá estava ele, o batráquio, quieto como criança sonolenta. Foi então que chamei pelo jovem que cuidava da limpeza.
- Hello! Please, come here to see any thing. (Bom dia, venha cá, por favor, para ver uma coisa).
Aliás, o jovem já tinha  limpado todos os quartos anteriores e posteriores, deixando o meu por limpar.
- Então, jovem? Já viu o que está na porta? Falei num inglês arrojado.
- Yes I saw. I think it was a toy and you did not wanted be disturbed (sim, eu vi. Julguei que fosse um brinquedo a indicar que não queria ser perturbado).
- Leve, seu bicho, por favor. - Ordenei em meio de um sorriso leve.
Depois de umas tantas voltas, verifiquei que a área frontal e lateral do imóvel hoteleiro era propícia a acomodar rãs e semelhantes, dada a relva e humidade. Porém, a parte traseira do edifício era cercada por lojas cobertas de chapas metálicas, que elevavam o calor.
Ela só podia estar a seguir a regulação do calor por via induzida. E, sendo a rã um bicho de salto alto, era normal que num só esforço atingisse o quarto andar!

Publicado pelo jornal Nova Gazeta a 15.11.18

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