Sandro é um trabalhador empenhado, daqueles que mesmo adoentado se esforça em comparecer e despachar os assuntos muito importantes e muito urgentes.
- Copos só à sexta-feira para que consiga descansar ao sábado e, se a ressaca persistir, ter ainda o domingo para estabilizar a "máquina".- Assim de gaba e faz religiosamente.
Em casa, Sandro usa de um copo de vinho à refeição. Normalmente só ao jantar e não tem amigos de rua ou de bairro. Os seus Kambas São de infância, adolescência e outros do instituto e universidades. Conserva os vínculos mas a idade, o tempo e os afazeres levou-os a viver em zonas diferenciadas, sendo os encontros sazonais.
Na última quadra festiva, que abrange o natal e passagem de ano, Sandro ficou acometido de uma "apertada gripe" que lhe "roubou" a voz. Alguns membros da família que o visitaram, no início do novo ano, ao verem-no afónico, logo associaram aquela maleita à excessivas gritarias na "noite da virada". Deu pouca importância. Os filhos defenderam-no.
- O papá está doente de verdade e nem sequer usou do álcool. Nem mesmo foi ver o lançamento de fogo de artifício.
Porém, o preconceito de associar doenças pré e pós-festivas a excessos ficou por aí. No dia segundo do mês primeiro, Sandro, como sempre fez nos inicio de cada semana laboral, fez-se ao local de trabalho. Os colegas de outros departamentos trocavam "kandandos" vocalizados. Menos ele que acrescentava ao abraço o que a voz não lhe permitia.
- O Dr. Sandro é que teve festa de verdade. Já viram como está a voz dele?! - De uma suposta brincadeira mal intencionada, passou-se a uma apreciação geral em todo o edifício. Até os que podiam ajudar, deixaram-se levar pelo preconceito e aconselham "mais whisky para o desencarceramento da garganta".
Sandro está há uma semana sem voz, trabalhando, entretanto. Aos colegas que o abordam só lhes ocorre o excesso festivo. Infelizmente, "Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito" (Albert Einstein).
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