É um novo termo, um pouco modista, do calão mediático dos últimos dias que os rapazes de três localidades de Luanda acabaram de inventar.
- Bifagrando tem a ver com bife+bagre+falando. - Explicaram.
Encontrei-os na praia do Km 27, ao Ramiro, e conversavam sobre um novo "invento gastronómico" o bife de bagre.
Dizia Halyeya que "o bagre, por ser um peixe predador e de sangue vermelho, era o mais adequado para ser "bifado" em vez dos outros peixes de carne branca.
- Eu, no Coelho, a minha vida, de sol em sol, é só mesmo pescar e tramankar. É só mesmo do bagre da lagoa que vivo. Uns como e outros vendo frescos ou fumados.- Reforçou, algo vaidoso.
O seu companheiro, Kamaka, residente nas margens da EN230, pelos lados do Kazenga, ripostou que o kakusu da sua lagoa sabia melhor do que os bagres todos que já havia provado ao longo dos seus vinte e seis anos de vida de pescador artesanal no Velho Kimbundu.
- Mas como assim, vida de pescador artesanal se nem uma canoa e redes tens? - Questionou Mbela Yanda que até ali se mantivera calado.
A conversa animada com sumo fermentado de uva libolense já ia longa. Os petiscos eram locais, ou seja, todos kalús: bagres e ikusu capturados das bacias do Coelho, do Táki da Vila Nova e da lagoa do Velho Kimbundu.
Mbela Yanda, Kamaka e Halyeya desfilavam argumentos.
- Quem tem a lagoa mais antiga e mais produtiva?
- Quem tem a lagoa menos suja ou mais bafejada de podridão?
- Quem desfruta de bagres mais colossos ou ikusu mais saborosos?
Eram perguntas cujas respostas voavam à velocidade do eco. Já com o vinho a trespassar-lhe o cérebro e com o bagre fumado nos olhos, Mbela Yanda gritou alto:
- A melhor lagoa não é a do Coelho nem a do Velho Kimbundu. É a do Táki de Viana que tem bagre com osso. Ainda é pouco frequentada e os garimpeiros de peixe alheio têm a cadeia à vista.
Os companheiros ainda contra arguiram puxando o bife para o seu bagrito mas Mbela Yanda foi mais adiante na defesa:
- É que a minha lagoa recebe água quer chova quer não. Para os deixar mesmo estatelados, Mbela retirou o telefone do bolso para mostrar as fotos das últimas fainas, da fonte de alimentação hídrica permanente (descarregadouro da drenagem urbana da cidade) e ainda as imagens da sua nova invenção gastronómica, um bife de bagre.
Olhem!
Olhem!
Escrito a 16 de Fevereiro 2016. Publicado no Jornal de Angola, 13.05.2018
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