Os "da pose" são uns mwadies que andam de moto com
sirene e que usam umas calças bwe
buluadas e uma botas que visitam os joelhos, tipo tropa hitleriana. São os
para-militares que uma vezes regulam o trânsito autpomóvel e outras vezes criam
também alguma kavwanza à circulação e ao cidadão desprecavido.
Trafegando de Luanda ao Dondo, onde a degradação da rodovia
é acentuada, com necessidade ingente de apressados remendos que se colam aqui e
acolá, as empresas remendadoras interditem alguns troços da via separada por uma
máscula linha de betão, separando os sentidos. Nessa sua empreitada, os
remendeiros vão obrigando que todo o tráfego se realize, ora somente à direita do
separador, ora somente à esquerda. Outras vezes ainda, a inexistência, nalguns
troços, de marcas de asfalto e o afundar das crateras abertas na plataforma
desaconselham trafegar sobre o lado correcto, refugiando-se ao sentido oposto
ao permitido. Seja uma ou outra a razão, todas associadas aos enormes e
constantes buracos, os tripulantes são, vezes sem conta, surpreendidos pelos
"da pose" que se entregam descaradamente aos kwanzas, tendo como
preferidos os expatriados mas não poupando também os nacionais, a quem, antes
da extorsão lançam antecipadamente a pergunta “é nosso colega”?Aos que
respondem sim, são mimoseados com outras perguntas e senhas que só eles
dominam. Aos que respondem não vêm seus documentos no bolso do motoqueiro que
os leva a uma sombra onde o filme se desenrola.
- Vocês não sabem que andar em sentido proibido é crime? Vão
pagar multa em Ndalatando e quem tem pressa fala já. – Atira o homem da moto, fortemente
“guardado” por um PM “caenche” que não abre a boca, mantendo apenas o respeito
e algum medo através das carnes que se invadem do camuflado apertadíssimo.
- Então o chefe já não nos pergunta porque razão trafegávamos
nesse sentido? O chefe não sabe que há obra no lado em que devíamos seguir? -
Tentou ainda apelar um dos “atuados”,
mas sem que lhe desse ouvidos no sentido racional em que pretendia levar a
conversa.
- Já falei. Quem quer “conversar” e ultrapassar a situação
fica no meu lado direito. Quem quer ir pagar multa em Ndalatando também pode
falar. – Voltou a ameaçar o “da pose” que chamou de imediato uma cidadã chinesa
que acompanhava o condutor também chinês, ao que se soube, não dominava ainda o
português e a língua dos “da pose” .
- Chinês, queres pagar dinheiro ou queres factura? Perguntou
o motoqueiro depois e interpelar oito
condutores que trafegavam em sentido contrario devido a obras na via habitual.
- Amico, fatula não. Eu pacale já muluta no amico. – propôs a
senhora enquanto o companheiro que dirigia a viatura se mantinha dentro dela.
- São cinco saldos (5 mil). Vai já buscar.- Ordenou
autoritário o “da pose”, sem a mínima vergonha ou receio que entre o grupo de
nove automobilistas pudesse estar um seu colega, chefe ou mesmo inspector.
- Amico, tem só tem ndoji mili. - Respondeu a acompanhante
do condutor chinês.
- Não. Chinês é cinco. Senão passo factura. Posso? – Ameaçou
o motard.
- Amico, toma sexi mili. Ndá toloco nde mili. – Respondeu a
senhora já com as três cédulas na mão.
O homem encostado à mota sacou os documentos e os exibiu à
senhora.
- Toma, vai já. Não sabe que policia não dá troca? –
Despachou-a, entregando-lhe os documentos que nunca foram conferidos. E la se foram os “chinocas”, reclamando o
troco, mas sem argumentos para derrubar o polícia de trânsito que prosseguiu a
negociata, desta vez, com as nacionais.
- E você. Qual é a maca?- Indagou a um dos automobilistas que
não abrira a boca até aquele momento.
- É a mesma do sentido contrário, devido a obra na via
ascendente. - Respondeu-lhe esperando uma análise da situação.
- Você é do MININT? Ou da defesa?- Questionou o polícia que
parecia desconfiar da postura do seu interlocutor.
- Sou civil.- Respondeu o condutor, até então silencioso.
- Se são todos civis, são dois saldos cada um. Já disse.
Estão teimosos? Vão a Ndala pagar a notificação. - Voltou a ameaçar o “da pose”,
como são chamados os motards da polícia de trânsito.
- Ngana Xiku ya ngoji, tu loloke. Twala uya kutambi. Ngala ngo
nyi kondo imoxi. – Explicou, em Kimbundu, o motorista mais inconformado, para
pedir: junta já ao troco da minha colega para completar os dois saldos.
(Senhor polícia, perdoe-nos. Estamos a ir a um óbito. Tenho
apenas mil kwanzas).
O homem da farda azul marinho, que fingia preencher as
notificações com o rosto coberto de rugas, mirou-o fixamente e retorquiu: qual
tua colega?
- A chinoca, chefe. É minha colega de desgraça e deixou
troco, chefe!
O "da pose", três riscos no ombro, tipo sargento
do antigamente, mas é apenas distintivo de agente, olhou para o interlocutor e
abriu um sorriso fingido, estendendo-lhe também os documentos.
- Toma. Vão já, mano, e cheguem bem "no" óbito...
Nota: Texto publicado pelo Semanário Angolense em 2015.
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