Estou envolvido, há já cinco anos, na organização de concursos
de beleza, nomeadamente Miss municipal e provincial. Tudo o que venho
assistindo nestas andanças é que se tornou prática recorrente a assistência
contestar a decisão do júri quando se trate de concursos de beleza ou
similares. A priori, a decisão do júri, embora não agrade a todos, é inapelável.
É ao júri que cabe julgar, de forma desapaixonada e equidistante, a postura das
candidatas, de acordo ao regulamento e requisitos exigidos para o efeito.
O público, embora detentor do seu juízo de valor e
capacidade analítica, nem sempre está por dentro dos instrumentos reguladores e
requisitos exigidos, procedendo uma análise superficial. Até porque não convive
com as candidatas durante a fase de treino.
Para quem está por dentro, e saibam-no aqueles que apenas
têm acesso ao momento final, é que:
1-
Trabalha-se, muitas vezes, com jovens de tudo
inexperientes a quem se ensina até sentar-se á mesa e manipular os talheres
(etiqueta), coisas que a Miss eleita terá de utilizar todos os dias do seu
mandato e pós-mandato, mas que não são julgadas na gala de eleição.
2-
O valor intelectual/cultural é medido pelo à
vontade, expressão oral e facilidade de comunicação e não apenas pelo nível académico.
A classe que frequenta, por si só, não define a intelectualidade da candidata.
Esse aspecto é medido pelo júri durante o contacto antes da Gala.
3-
As perguntas que as candidatas a miss respondem durante
a gala de eleição são estudadas e decoradas por todas durante semanas. Logo,
não e a resposta mais complexa que determina a intelectualidade.
4-
Os concursos de beleza, sejam eles municipais,
provinciais, nacionais ou internacionais, não são concursos de cultura geral ou
testes de aptidão académica. Por isso, nem sempre a mais escolarizada está mais
à vontade ou mais habilitada a exercer o papel de miss. Os conhecimentos de
cultura geral e etiqueta são para ser aplicados durante o consulado, em
contactos sociais que a miss eleita vier a manter.
5-
Ter boa postura na passarelle, não se incomodar
com calçado de salto alto, demonstrar simpatia permanente (sorriso sempre
presente), ser cordata e bem-educada, possuir modos correctos, simplicidade e
clareza na comunicação, são aspectos fundamentais para quem se candidata a
figura pública. Esses aspectos não são medidos durante a gala de eleição, mas
sim durante a fase de preparação e entrevistas com o júri.
6-
Para concursos de MISS, possuir 1,70m ou mais é outra
das exigências a que se acresce não possuir cicatrizes e ou tatuagens em partes
do corpo visíveis.
Todos esses elementos acima descritos e outros
subjectivos é que servem de base para o julgamento do júri, sendo normalmente
desconhecidos pela plateia/assistência que, regra geral, procede a uma avaliação
parcial e emocional.
Para a assistência, um papel que qualquer um de nós
já exerceu, o voto vai para a a que atestar maior escolaridade, que nem sempre
é proporcional ao conhecimento e expressão oral; a que responder a pergunta aparentemente mais complexa; a que
tiver usado um vestido ou roupa interior mais ousado; a que tiver a maquilhagem mais aprumada; a
que melhor dançar em palco, etc. Logo, entre o júri, a quem se confia a missão “ingrata”
de julgar, e o público assistente há sempre quem, no final do concurso, defenda
o indefensável.
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