Tenho observado, com alguma preocupação, o elevado altruísmo
dos nossos jornalistas quando abordam os momentos que antecedem os jogos da
selecção angolana, ou se preferir, a elevação da exigência aos nossos
representantes, pensando-se que no futebol tudo podemos contra quem quer que
seja.
A meu ver, esse tem sido um erro crasso da nossa media
audiovisual que no calor do momento e servindo-se de vozes menos avisadas da população, mais emotivas do que racionais, vão pedindo aos jogadores aquilo
que as aptidões psico-motoras e técnicas não são capazes de proporcionar.
Assim foi no CAN organizado pelo nosso país, voltamos
a fazê-lo nos CAN que se lhe seguiram e agora no jogo contra o Senegal. A povo
mal orientado é uma arma muito perigosa, pois deixa de raciocinar e guia-se
pela emoção.
Ao pedir-se uma goleada sobre o Senegal que é de longe
superior a Angola, tendo em conta o seu posicionamento no Ranking da CAF e FIFA
e atendendo ainda ao nível e desenvoltura atlética dos seus executantes, caímos
mais uma vez no populismo, acabando por pedir aos futebolistas nacionais
aquilo que à partida sabíamos que não era possível.
Tal atitude, repito, populista cria nos jogadores um excesso
responsabilidade e nervosismo que impossibilitam a realização de um jogo alegre e
despreocupado.
No jogo contra o Senegal, pontuável para o mundial do
Brasil de 2014, Angola não jogou contra uma equipa qualquer e, embora tenha
empatado em território alheio, tal sorte não conferia à selecção nacional
um hipervalor agregado para que saísse do estádio 11 de Novembro, em Luanda,
com uma goleada, como se vaticinava ou se procurava insinuar através da
“colocação do discurso vitorioso na boca do povo”, como o fez a rádio e a
televisão públicas angolanas.
“Sonhar não é proibido", corroboro. Porém, há que impor limites
ou racionalidade aos sonhos, pois nem todos os sonhos se materializam a nosso
contento.
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