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segunda-feira, janeiro 28, 2013

UM POUCO DE RESPEITO PELOS MORTOS NÃO FAZ MAL

Sou dum tempo em que óbito não era lugar para crianças e os jovens recolhiam-se, pesarosos, ao ver um cortejo fúnebre passar. Os mortos mereciam muito respeito e as campas, por serem últimas moradas dos de cujos, eram também respeitados.
Os tempos me parecem ser outros. Os a vida evoluiu e eu fiquei estagnado no tempo ou as coisas desandaram e eu cultivo modos que muita juventude desconhece.

Desloquei-me ao Alto das Cruzes, para “partilhar a dor”  de alguém que perdeu uma ente querida. Entre vândalos que pisam campas “alheias”, num desrespeito total aos finados e aos familiares, muitos aí presentes, uma idosa cuja atitude diária chamou-me à atenção.
 
Pipa, o filho dela, foi morto (assim reza a lápide) em Fevereiro de 1976, aos 17 anos. Pela foto, o jovem era militar. A sua campa diferencia-se das outras por ter o terreno adjacente pintado de cinza metalizada e a óleo. Há vasos com flores naturais e folhas verdes bem cuidadas. Não se vê poeira em canto nenhum daquele túmulo que se parece a uma casa. A idosa, desde Fevereiro de 1976 que faz companhia ao jovem soldado todos os dias, pelo menos trinta minutos. Já não chora. Chega, vassoura, balde d´água e pano de pó na mão: rega as plantas, limpa o pó, recolhe as folhas secas, senta num banquinho, olha para a campa, projecta um reencontro, que espera para breve, e faz uma oração.
 
E, comovido, chorei.

1 comentário:

Edson Macedo disse...

Essa pouca vergonha fez-me escrever mo texto "os funerais de hoje em dia" no meu blog.
Por muito que me dos, prefiro nem estar presentes nos funerais porque me da nojo.