Enquanto capital do distrito, no tempo colonial e capital de província de 1975 a esta parte, Saurimo teve sempre um ensino liceal e não faltou a diáspora académica ao longo dos tempos. Porém, apesar destes condimentos que são a formação intelectual e a criatividade que propiciam a existência da literatura, o número de escritores da província é de 04 e se juntarmos os escritores das duas Lundas teremos apenas um total de apenas 9 escritores. São ainda muito poucos os que mostram a cara através da escrita criativa ou académico-cientifica.
Só para se ter uma ideia, o Huambo tem 51 escritores listados; Benguela tem 47; Malanje, aqui ao lado, tem 32. O Kwanza-Sul tem 18; Cabinda tem 07; Moxico tem 09 e apenas Kwando-Kubango e Kunene têm cada 02.
Daí que julgo ser necessário pensar-se numa solução. É preciso incentivar os jovens a criar e registar em papel aquilo que criam. Mas, antes, temos de incutir nas crianças e jovens o hábito da leitura, do debate, da reflexão e do uso correcto da língua em que trabalhem: seja a língua herdada do colono (português) ou as nossas línguas de origem bantu. Julgo ser este o caminho para que possamos fazer crescer o número de escritores na província e no país.
É ingente que os jovens os mais velhos escrevam e publiquem as suas experiências e memórias, merecedoras de serem legadas às novas gerações. É urgente que os nossos professores “reinventem” o saber científico, o registem e publiquem.
É preciso também que as instituições públicas e os empresários locais apoiem aqueles que já escrevem para que possam publicar e servir de mola impulsionadora dum movimento literário ao nível da província.
Não havendo quem escreve, porque não habituamos as crianças a ler e a praticar a escrita, temos de fazer uma analogia com o futebol: É possível aspirar a primeira divisão nacional sem jogadores em quantidade e qualidade na praça local?
Se calhar, a solução seja criar uma espécie de “núcleos de leitura, debate e escrita” que nos darão talentos que nos permitam, no futuro, ombrear com os grandes que também tiveram de gizar políticas de formação, formal ou informal, ostentando hoje fama e a tradição que têm. Benguela é um exemplo no campo literário para não falar de Luanda.
Buscando o exemplo de Benguela, há dois anos que o governo daquela província instituiu o Prémio Provincial de Cultura e Artes, uma versão local do Prémio Nacional. Os vencedores de cada uma das sete categorias recebem Kz 700 mil. Sabendo que o artista que se empenhe com qualidade pode ganhar no principio do ano esse dinheiro, quem é que não escreve? Quem é que não pinta, quem é que não esculpe, quem é que não cria moda, quem é que não investiga sobre a nossa tradição e costumes do nosso povo? Quem é que não canta e quem é que não dança?
Entendo que não basta que existam as instituições artísticas sem o essencial que são os artistas porque já é sabido que sem panela não se faz o funje.
Sem leitores nunca teremos escritores.
(Texto escrito a propósito do dia da cultura nacional que hoje se assinala em Angola)
* Autores de Angola: Naturalidade e bibliografia (ebook), no prelo.
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