Li no face book que o meu primo e pessoa em quem sempre me
revi para formatar a minha personalidade e profissionalismo viajou para a Ásia.
Gostei do facto dele ter escrito, anunciando no face, que tinha feito escala num país da Ásia Menor e
que rumaria a Singapura.
Lembrei-me dos tempos em que quem viajava tinha que trazer
malas e sacolas de lembranças. Eu também já exigi lembranças e, uma vez chegada a
minha vez de fazer a primeira deslocação ao exterior, também “sofri” da
obrigação de trazer lembranças para amigos e familiares.
Eles, os que recebem, se sentem reconhecidos, valorizados e muito
mais. Quem traz vê-se forçado a pagar excesso de bagagem, visitar feiras em que
se vendam quinquilharias e outras peças de menor preço, etc. Eram essas e outras
“cenas” que levavam muitos ministros e directores angolanos à feira do Relógio, em
Portugal, vestidos de “meninos”, vasculhando fardos e regateando valores com “feirantes
ciganos”.
Felizmente, os tempos mudaram. Agora qualquer um vai ao
Dubai, à Namíbia, a Ponta Negra, ao Rio e São Paulo, à China, etc. Porém, não é tão
peculiar os angolanos de baixa renda viajarem para a Singapura. Por isso, fiz a
cartinha que o meu mano (você já a está a ler) vai ler com saudade de tempos
que já lá se foram.
“Ah, Kota! Você vai a Singapura e "num despede mais"
teu aluno da 2ª classe, na escola grande da Terra Nova?
Pedra Escrita, Munenga, Libolo |
Lembro-me também da porrada que o Kota me dava por causa do
pão. E, como o tempo é inimigo da história, vou lembrar-lhe um pouco dessa cena:
O pão era vendido no depósito, ali no Rangel, junto ao “supermercado Kiluanje. Eram necessárias “bichas” (filas) madrugadoras e ja havia caenches que eram os "donos do depósito", tínhamos que ser "bons putos" dos caenches para que nos facilitassem à vida. O kota Ténnis (Raimundo) era um deles e, às vezes, eu tinha que lavar a loiça dele (em casa dele) para me ajudar na luta para a compra dos pães no depósito do Kiluanje.
Havia o Man-Domingo e o irmão dele. Estes eram mesmo já um "ka-bocado" bandidos daquele tempo. Ameaçavam e batiam mesmo. Uns chegavam a se "mbelar" (ferir com facas ou pedaços de garrafa). E eram temidos. Quem não se punha em pé quando o Man-Domingo ou o irmão dele falassem? Essas cenas o Kota não sabe porque ficava `mbora em casa a preparar as matérias ou a dar aulas. Eu é que ia lá "me enfrentar" na bicha do pão.
Felizmente os tempos mudaram e os nossos filhos também já não têm necessidade de passar por isso. Vivem em casas boas e não naquelas de pau-apique do Kaputu, deitam mais comida do que aquela que realmente comem, têm muitos livros em casa e não lêem nenhum, gastam mais em um dia do que nós gastávamos em um mês, têm internet e telefones quando eu era o vosso recadista... Lembra-se o kota das vezes em que me mandavam transmitir recados ou levar bilhetinhos às vossas amadas? Nem só me davam Kz 5 para o autocarro da ETP/TCUL...
A minha hora de entrada na escola era às 10 horas e tinha que sair de casa às 9h30, com ou sem pães. Havia dias em que comprava pães e chegava tarde a escola. Ganhava porrada por chegar atrasado às aulas. Outras vezes não chegava a comprar pães porque o carro, um IFA-Robur, chegava tarde ao depósito do Kiluanje, depois de passar pelo do Brisa e o da rua 18 da Comissão do Rangel. Nesses dias, em que ia para casa sem pães, normalmente, não me atrasava na escola, mas a surra esperava-me em casa. O kota que era o meu "camá pressor" gostava de pão!
O pão era vendido no depósito, ali no Rangel, junto ao “supermercado Kiluanje. Eram necessárias “bichas” (filas) madrugadoras e ja havia caenches que eram os "donos do depósito", tínhamos que ser "bons putos" dos caenches para que nos facilitassem à vida. O kota Ténnis (Raimundo) era um deles e, às vezes, eu tinha que lavar a loiça dele (em casa dele) para me ajudar na luta para a compra dos pães no depósito do Kiluanje.
Havia o Man-Domingo e o irmão dele. Estes eram mesmo já um "ka-bocado" bandidos daquele tempo. Ameaçavam e batiam mesmo. Uns chegavam a se "mbelar" (ferir com facas ou pedaços de garrafa). E eram temidos. Quem não se punha em pé quando o Man-Domingo ou o irmão dele falassem? Essas cenas o Kota não sabe porque ficava `mbora em casa a preparar as matérias ou a dar aulas. Eu é que ia lá "me enfrentar" na bicha do pão.
Felizmente os tempos mudaram e os nossos filhos também já não têm necessidade de passar por isso. Vivem em casas boas e não naquelas de pau-apique do Kaputu, deitam mais comida do que aquela que realmente comem, têm muitos livros em casa e não lêem nenhum, gastam mais em um dia do que nós gastávamos em um mês, têm internet e telefones quando eu era o vosso recadista... Lembra-se o kota das vezes em que me mandavam transmitir recados ou levar bilhetinhos às vossas amadas? Nem só me davam Kz 5 para o autocarro da ETP/TCUL...
A minha hora de entrada na escola era às 10 horas e tinha que sair de casa às 9h30, com ou sem pães. Havia dias em que comprava pães e chegava tarde a escola. Ganhava porrada por chegar atrasado às aulas. Outras vezes não chegava a comprar pães porque o carro, um IFA-Robur, chegava tarde ao depósito do Kiluanje, depois de passar pelo do Brisa e o da rua 18 da Comissão do Rangel. Nesses dias, em que ia para casa sem pães, normalmente, não me atrasava na escola, mas a surra esperava-me em casa. O kota que era o meu "camá pressor" gostava de pão!
Os tempos eram de guerra e a violência fazia morada até nos
lares. A educação/instrução era à base da força/porrada. E todos aprendíamos e
nos forjávamos de acordo à psicologia da força que imperava. E ninguém reclamava
daquilo. As mães, sobretudo a minha, gostavam quando me impusessem a lei do porrinho (se calhar, dentro dela, dizia que "com fogo e martelo se tempera o ferro" e fiquei mesmo temperado!).
Quem não gostava era mesmo a mãe Nzumba, a mãe do Kota que já está velhinha mas sempre carinhosa e lúcida, era ela quem mais me acudia na hora da porrada.
Mas, kota! Ia me esquecendo do motivo desta prosa: aqueles
sapatos que me deu quando veio da Checoslováquia, em 1990, já “se
estragaram ´mbora. Me traz lá só outros".
Olha, Kota! Lembro-me também dum "ka-rádio" de
marca Philips que havia lá em casa, no Rimbe. O Kota deve estar lembrado também.
Tinha a inscrição, na parte de trás, "Made in Singapure". Este pequeno
país da Ásia, que o Kota visita hoje, lembra-me o rádio Philips e o Toshiba que o avó
Soares Kazenza desmontou para ver o branco que estava a falar dentro dele.
Sei que a Singapura é um país muito organizado e industrializado. Por isso mesmo, se o Kota vier só de mãos a abanar, sem lembrança, vamos "firmar inimizade. Lá no Kaputo eu dizia aos meus amigos “vamos se cortá mô inimigo".
Sei que a Singapura é um país muito organizado e industrializado. Por isso mesmo, se o Kota vier só de mãos a abanar, sem lembrança, vamos "firmar inimizade. Lá no Kaputo eu dizia aos meus amigos “vamos se cortá mô inimigo".
Pronto, Kota Sabalo-a-Soba, faz boas viagens e traz lembrança,
mesmo que sejam contos sobre a vida em Singapura".
2 comentários:
Não a propósito desta postagem, mais sim da postagem A LINGUA DA KIBALA E A CARTA QUE SUBSESCREVO, no blogue, ENSAIOS: Comunicação, Etnografia e História , eu comentei o seguinte: Parabéns por partilhar este importante estudo...
Sff, o que significa kianba Uingui. Pois assim me chamava A minha avo Ângela Kissala, originaria de Calulo. Eu quero saber, podes dizer o significado?
Atentamente,
Joaquim de Marcos
_________
Ps: Também envie-te um email intitulado, Amizade e Parceria, por que tardas em responder?
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