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sábado, março 29, 2025

SOBRADOS DE CASÓRIO


Verdade ou mentira, Sembe cumpriu. Recebido com sobrados do repasto anterior, fez do estômago um saco elástico. Aliás, antes serviu uma aguardente para "matar as lombrigas".

_ É para abrir o apetite, manos. Não me olhem só assim. _ Argumentou.
Seguiu-se a pratada regada com vinho que degustou até ao fim. Quando o “mwene-a-bata” (dono de casa) chegou e se sentou à mesa da sala interior, o puto Sembe foi chamado também.

_ Come um pouco de funji. Ontem estavas muito ausente e quase ninguém te viu. _ Disse o comissário Sabalu, pai da noiva e tio de Sembe e Mangodinho.

Entre um dedo de conversa, uma garfada e um gole, tragou o que lhe fora apresentado. Uns copos de vinho e outros de aguardente que não o deixaram ébrio de momento.
Já no avião, máquina de ferro no ar, Sembe não se emporcou, mas no assento se transformou em pedra e roncador. Dormitou até que o pássaro poisou no chão da Ngimbi, não se dando conta que a sua carteira de documentos caíra para debaixo do banco.

Ao transpor a migração, mão no bolso, carteira com bilhete nada. Revista na pasta de mão, nada. Revista na pasta de roupa, nada.
_ Ai wê, môs docs! – Gritou.
Um polícia de fronteira se abeirou e sentiu o alambique em que sembe se tinha transformado.
_ O moço tem o canhoto da passagem?
- Sim chefe, tenho. Faxavor, me ajuda só ir nas aeromoças procurar debaixo do banco.
_ O moço tem certeza que veio com os documentos em mão?
_ Sim, sô polícia. Exibi o bilhete ao entrar no avião.

Diligente, o agente, três riscos em vê no ombro, subiu no pássaro e deu-lhe o achado, fazendo o sinal do “pode passar!”
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Publicado pelo JA a 02.02.2025

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