A expressão eufemística em título é, às vezes, substituída por way kwamamô, utilizadas para diminuir o impacto nefasto de uma perda humana.
Wakyukila equivale a regressou e way é o mesmo que foi, em Português, sendo mamô, mãe (Kimbundu kibalense).
Essa prosa surge em virtude do passamento físico do mais velho Martins Sabonete Mambo, nosso pai, vizinho e amigo na Classe Jeremias do Cargo Moisés (Igreja Metodista Unida em Angola) e no bairro Rangel.
Conheci-o em 1984, quando vim a Luanda fugindo a guerra no meu Libolo.
Na Classe, eram seus contemporâneos os velhos João Kambundu, Joaquim Artur (Kumbu) e António Magalhães. Havia outros papás como José Morais que eram mais novos. Recordo-me de algumas conversas dele com seus amigos, cuja despreocupação, ante a minha presença, permitia dar trabalho aos meus ouvidos.
- Eye a Mambo, kumbi pi wekelaxi usupeta¹?
Ele simplesmente ria de lado e colocava na conversa um outro tema, despistando os amigos de um tema que criava irritantes no seio dos membros em relação à observância do "livro da disciplina metodista".
Às vezes, para nos afastar de suas prosas íntimas, os papás mandavam-nos colocar petróleo nos candeeiros de que éramos guardiões.
- Vai pôr pitalolo no candiero. Amanhã tem outro culto.
É nós, cumpridores e expeditos, executávamos com pressa e perícia aguardando, já meio distanciados dos mais velhos que glosavam um Kimbundu refinando e um português arrazoado, uma possível nova orientação ou o "fecha a porta e vamos".
Já no bairro, o Velho Mambo sabia pôr disciplina e/ou fazer a miudagem rir até colocar a descoberto o último molar.
Lembro-me dos elogios que fazia ao seu antigo mecânico de nome Mateus. Ele, Velho Mambo, tinha um Renault 4 antigo que havia comprado por abate na Sonangol, onde trabalhara. O senhor Mateus (pai da Sambita e outros meninos que foram meus alunos) era mecânico automóvel na FAPA/DAA².
Nos elogios ao mecânico, com alguma sátira pelo meio, o mais velho Mambo disparou certa vez.
- Mateuju ra é mbo macânico. Ruviá pára no ar, Mateuju ranja³.
Porém, no dia em que o Renault o deixou na rua, depois de sair das mãos do mecânico Mateus, o ancião não deixou de desabafar o seu descontentamento:
- Esse ngaju ndu Mateuju, mboca mbe cumbilhitu palece mbuneco ndu lua Cêsamo!
Pai de meus amigos, o Velho Mambo era um exemplo de progenitor dedicado e que tudo procurava fazer em prol dos filhos, defendendo a sua filha Luzia com o porrinho que ele chamava de Humbi.
Só os jovens bem educados e que se destacavam nos estudos mereciam o respeito dele e podiam ir pedir autorização para que a filha pudesse ir com eles ao cinema, à praia ou (mais tarde) ao dancing.
- Velho Mambo, vim só pedir para autorizar a Gia ir connosco à praia no dia xis. Vamos fulano, sicrano e beltrano. Pretendemos partir à hora xis e regressar à hora K. - Era assim, quer fosse para o cinema ou para o dancing.
- Amanhã volta para te dar resposta. - Respondia, para dar tempo de chamar uma das pessoas citadas e averiguar se o destino e as pessoas enumeradas eram certas.
- No dia aprazado para a resposta, fazia umas recomendações sobre os procedimentos a observar e concluía com uma citação que, para mim, era já música.
- Se cuidem e se vigiem. Têm que andar sempre juntos para ninguém se extraviar. Ouviu bem?
- Sim, velho Mambo. Muito obrigado!
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¹ Ó Mambo, quando é que deixas de "bebiscar"?
²- Forças Armadas Populares de Angola/Defesa Anti-Aérea.
³- Avião em vôo pará no ar e o Mateus repara a avaria.
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