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terça-feira, dezembro 08, 2020

A CICATRIZ E O CAFEEIRO

 Certo dia encontrávamo-nos no rio ou à beira. Calculo que teríamos ido "kanyunar"¹ muzwa². O rio, povoado em bagres e tuqueias pelo meu progenitor, já ia conferindo autossuficiência à família em termos de peixes e caranguejos. Esses, os hala, apareceram antes da minha família.

Na floresta ribeirinha, havia umas raízes "aéreas" grossas e longas que nos serviam como baloiços. Havia outras brincadeiras mais caricatas que não narro nessa prosa.
Posto eu em uma dessas "raízes-baloiço", terei sido picado por uma formiga, tendo-me desequilibrado e caído. No chão, fui recebido por um pau aguçado que me furou a bochecha. Devia ter três anos.
Meu irmão com quem me encontrava fugiu de medo. Corajoso, fui andando a caminho de casa e quando cheguei ao cafeeiro, peguei em uma das folhas e tapei a ferida, impedindo a saída do sangue.
E não é que a cura foi com pó de café?
- Ele trouxe a ferida e o seu próprio remedio. - Terá dito Ngana Muryangu, neu avô paterno.
Hoje plantei (levei à terra firme) o meu primeiro cafeeiro das quatro plantas que o amigo Mário Botelho De Vasconcelos me ofereceu. Não perguntei se é da espécie arábica ou robusta. Seja de que tipo for, posso conferir-lhe sombra, se robusta, ou eliminar sombra, se for arábica.
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¹ Visitar armadilha
² Nassa. Artefacto para apanhar peixe.

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