Já se tinha notado a sua altivez de fingimento na cerimónia civil do casamento da prima. Mangodinho era único. Fato cinza axadrezado e camisa também axadrezada de gola excessivamente larga. Na cabeça, nem um fiozito de cabelo e a barriga mostrava querer fugir-lhe
da camisa. Mangodinho, no assento traseiro, repetia os ditames do conservador.
- Quem casa quer cá?
- Casa. - Completava.
Na capela da ngelú, já tarde feita, Mangodinho, enfrascado, poros abertos, em clima de exigir casacos com sobretudo, meteu-se num dos bancos do meio, a exalar o que lhe estava no estomago, a correr pelo sangue e entrar-lhe ao cérebro.
- Ess'homem caloria assim, tipo lhe atiraram balde de água?- Ouviu-se entre os presente, sem ele fazer caso.
Ora seguia trôpego as melodias do cancioneiro católico, arrastando e pronunciado alto palavras inexistentes, ora seguia a homilia com assobios. Nele, estavam mirados todos os olhos e cochichos.
À hora da comunhão, Mangodinho foi também, sendo o penúltimo na fila. Aprumados, crentes, descrentes e ele, animista, ensaiavam gestos para receber a hóstia. Uns com a mão esquerda sobreposta a direita (para receber em mão). Outros com as duas mãos sobre o
peito (para receber pela boca). Ele, Mangodinho, um antigo militar emprestado às forças para-militares, nem postura, nem palavras responsivas sabia.
- Corpo de Cristo! - Evocou o padre, aguardando pela resposta correspondente.
- Ordem, sua excelência! - Retribuiu Mangodinho convicto de ter dado a melhor resposta.
Baixou os olhos a Mangodinho, a quem endereçou o sinal de que não receberia a hóstia.
Todo o resto, até no repasto que fechou o casamento da Adi Carlos Victorino, foi só "Mangodinho pra cá e Mangodinho prá lá".
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