O camião apinhado ia cansado e a resmungar. Coisas e gentes sufocavam o no seu dorso. Tábuas velhas e cansadas, feros retorcidos enfeitando taipais que acolhiam peixe salgado, macroeira, balões de fardo, idosos que pareciam fardos e crianças com nudez farta. Os jovens e adolescentes iam igualmente. Porém, eram poucos. Apenas os mais destemidos. A última idosa a apanhar o camião levava coisas suas. Umas kindas e linhas para tricotar balaios e outras cestarias. Levava ainda um cacho de dendém que era alheio.
Na última subida, 10% de declive, seguida de duas curvas perigosas, local incontornável da EN 180, onde a velocidade nunca passava os dez quilómetros a hora. Ali mesmo, na esquina que beijava o rio, os homens da farda verde-oliva apertada à exaustão, montaram o seu posto de controlo. Paragem obrigatória e sem falatórios.
Na última subida, 10% de declive, seguida de duas curvas perigosas, local incontornável da EN 180, onde a velocidade nunca passava os dez quilómetros a hora. Ali mesmo, na esquina que beijava o rio, os homens da farda verde-oliva apertada à exaustão, montaram o seu posto de controlo. Paragem obrigatória e sem falatórios.
O camião que já ia lento soluçou antes de o ajudante calçar sobre uma das rodas traseiras um valente pedaço de madeira. Um dos homens fardados subiu à carroceria, barba e cabelos fartos. Pente e tesoura parecia não haver. As verdinhas calças quase se desmanchavam dado o esforço do militar.
- Ndendefica. -Disse ele à "floresta" no camião.
Enquanto uns, conformados com a sorte, sacudiam as algibeiras e as sacolas para retirar e apresentar os documentos, a velhota sentada por cima das suas bikwatas, soltou um valente e malicioso muxoxu.
- Hum, ndangala jê. Ndende ja mbala (é dendém alheio)!
Terá entendido que o cacho de dendém ficaria naquele posto militar.
Texto publicado no jornal Nova Gazeta de 12/10/2017
Terá entendido que o cacho de dendém ficaria naquele posto militar.
Texto publicado no jornal Nova Gazeta de 12/10/2017